"Sabe… Quando fui pego naquela emboscada, eu sabia que tinha um dedo seu envolvido naquela história. Aqueles brancos de merda não teriam a capacidade de me pegar, mas você sim. E olhe onde isso te levou. Queimada viva como uma bruxa e enterrada como um ninguém. Eu havia te dito que esse seria seu destino, mas você nunca me deu ouvidos."
Voltando sua atenção para o "túmulo" a sua frente, que nada mais era que um buraco feito no nada e fechado com milhares de pedras, sorriu de forma maldosa. "Sua vadia… Você era a única que eu entregaria minha vida se fosse preciso para te proteger, e olha o que fez a mim. Você me traiu! Você não sabe o quanto eu te odiei e desejei poder te matar enquanto meu corpo era queimado! Porra, minha alma já estava presa naquela porcaria de medalhão, mas eu podia sentir cada parte do meu corpo sucumbindo às chamas! Gosto de saber que passou pelo mesmo."
Lambendo seus dentes, olhou em volta da área, observando o céu estrelado daquela noite fria. "Você sempre disse que eu era um monstro… Não direi que está errada, pois sou. Claro, isso é só um ponto de perspectiva, afinal, ninguém nunca é cem por cento bonzinho. Passamos pelo mesmo ódio, pelo mesmo preconceito e miséria, porém você quis ser diferente. Quis ser boa para a maldita sociedade que nos caçava como se fôssemos a peste! Cansei de dizer o quão estúpida e velha idiota você era. Mas você só sabia sorrir feito uma fodida e dizer que era só momentâneo e que aquilo passaria. Aquilo nunca passou, e você sabia! E quando comecei… Claro, tive muitos motivos. Motivos sádicos e prazerosos… Ainda sim, gostaria que não tivesse feito merda."
Parando em frente ao túmulo, chutou a cruz de ferro, observando-a entortar com desdém. Cuspindo no chão, continuou: "Você tentou se livrar de mim quando perdeu o controle de minhas ações. Você me jogou a chamas, preso até pouco tempo atrás na porra de um medalhão. Me humilhou! E pensou que eu estaria morto… Você é tão imbecil." falou entre os dentes, cada palavra saindo numa melodia odiosa, cheia de rancor. "Acreditou que eu não voltaria… E adivinha só, mãe? Eu não estou morto. E estou muito, mais muito, mais forte do que um dia já estive."
Quando as lágrimas ameaçaram cair, ele se tornou ainda mais irritado. Não queria admitir, mas aquilo era algo que ele nunca conseguiria esquecer e muito menos perdoar. "Eu acabarei com tudo o que tentou proteger… Essa será minha vingança, e você perderá essa maldita sociedade para mim. Matarei todos e você verá que tudo que fez não passou de inutilidade!"
Dando as costas, saiu de lá com passos longos, nunca voltando a olhar para trás, numa escolha óbvia de esquecer totalmente o passado e focar no futuro que lhe esperava. Como se o destino risse da situação do homem de vestes negras, o céu nublou, dando lugar a uma noite tempestuosa e cheia de trovoada. Parando quando estava longe o suficiente da cova, olhou para o céu em busca de um momento de paz para sua mente turbulenta. Seu olhar antes perdido logo mudou para um brilho mortal, que só aumentou conforme o seu sorriso veio a aparecer.
Com os olhos bem fechados e um sorriso rasgado a mostra, abriu os braços em sessenta graus ao respirar fundo o ar puro da floresta, que cheirava a terra molhada pela tempestade que só fazia cair. "Voduns, erit vester servus fidelis primum producat violentiam mortis, et in nomine tuo divinum honorem."
Com a oração feita, todos os sentimentos tragos pela nostalgia do passado foram esquecidos facilmente por uma sensação de imensa plenitude, que o levou a rir alto pelo fato de ainda ter esse lado humano. Fazendo pouco caso de si próprio, pegou o punhal que sempre trazia junto consigo e lambeu a parte afiada, fechando os olhos quando sentiu o ardor prazeroso que veio acompanhado de seu sangue. Gemendo baixinho, chupou o máximo que podia de seu sangue até que a ferida fosse curada completamente, deixando para trás somente uma pequena marca que logo sumiria com o passar dos dias. Mordendo seus lábios com força, voltou a sorrir. Estava na hora. Voltando a correr o mais rápido que podia, passou por diversas árvores sem trombar ou tropeçar em alguma raiz, já que desviava a tempo de cometer qualquer erro que lhe custasse mais tempo.

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Voodoo
FanfictionPorque o voodoo que você faz é tudo o que me torna seu tolo Porque você faz voodoo, e eu sou só uma boneca que os pinos são empurrados Então toda vez que tento sair desse transe Tenho muito medo de perder minha chance de ser enfeitiçado e perturbado...