Voodoo

Capítulo 2

Depois daquele episódio assustador, uma pequena parte do Levi se recusava a esquecer do que tinha acontecido e essa sensação só se tornava cada vez mais esmagadora. Não havia um momento sequer que pudesse ter sem que essa sensação estranha de estar sendo observado e seguido o deixasse em paz. Como um maldita presa que era torturada até a hora de sua morte, Levi não tinha mais paz desde aquela maldita noite. Sem dormir direito, sem comer, sem conseguir se concentrar… Ele estava se destruindo e sabia disso. Sabia tanto que odiava. Seja que porra fosse aquela, ele iria consertar.

Com passos apressados, ele andava pelos corredores com uma feição temível. Desde que não conseguia normalizar seu sono há três dias, seu humor estava bem pior do que um dia já esteve. Ninguém ousava se aproximar, temendo a aura obscura que ele emanava pelo cansaço que aos poucos trazia perturbação para sua mente. 

Parando em frente ao seu armário, ele colocou a senha do seu cadeado e o abriu. Guardando os livros que havia usado no turno da manhã, ele voltou a fechá-lo numa batida forte. Já era hora do almoço, então se encontraria com seus amigos na lanchonete e passaria as duas horas vagas junto deles. Saindo daquele corredor com uma mão apoiada em sua temporã, ele a massageou na intenção de aliviar aquela maldita enxaqueca, mesmo sabendo que era em vão. Se nem mesmo os comprimidos fizeram algum efeito, quem dera uma maldita massagem? Aquilo era uma maldita perda de tempo. E como se sua fodida sorte não estivesse a fim de ajudá-lo hoje, de longe pôde ouvir a voz de um de seus companheiros de equipe.

"Capitão!"

Parando de andar, ele virou-se para ver quem era, permanecendo indiferente quando viu que era somente o Oluo, um dos seus jogadores de vôlei. Inclinando seu quadril para o lado ao cruzar os braços sobre seu peitoral, Levi o observou correr até onde estava.

"Algum problema?" questionou quando o outro parou em sua frente com a respiração ofegante. "Tsk. Está tão sedentário assim, maldito?"

"Estive te seguindo para falar com você. Mas é quase impossível te seguir."

Erguendo uma sobrancelha, Levi esperou que ele continuasse a se explicar antes que fizesse alguma besteira por estar sem paciência. 

"O pessoal quer saber quando os treinos começarão, capitão."

Revirando os olhos, Levi disse num tom áspero: "Era só mandar uma maldita mensagem. Assim não teria chegado a mim tão suado desse jeito."

"Mandamos. O problema é que você não responde há dias."

"Creio que não. Não recebi nenhuma notificação nos últimos três dias."

"Capitão, dê uma olhada em seu celular."

Franzindo o cenho, ele pegou seu celular do bolso para conferir o que havia ouvido. Abrindo o aplicativo, se viu surpreso ao ver o tanto de mensagens acumuladas de dias, inclusive de seus amigos preocupados. "O que?"

"Capitão, você está bem?"

"Não havia nada hoje de manhã…" murmurou ao desligar e ligar a tela de seu celular, pensando ter visto coisas. "Não é possível. Eu tenho certeza."

Após ter dito isso, os pêlos de sua nuca se arrepiaram pelo frio repentino que passou pelo corredor, trazendo de volta a maldita sensação de perseguição. Desligando o celular e guardando-o no bolso de sua calça, ele olhou para o final do corredor vazio, estranhando o fato de estar somente os dois. Quando foi que aquele bando de gente sumiu? Cadê os merdas que vivem fazendo barulho nos corredores? Havia algo errado.

Voltando sua atenção para o Oluo, arregalou os olhos ao se ver sozinho. Franzindo o cenho, ele deu uns dois passos para trás, engolindo em seco quando suas costas se encontraram com os armários. "Que porra é essa?"