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Era inevitável pensar que estava traindo seu próprio sangue. Uma Bracken se esgueirar para o jardim de um castelo às escondidas para encontrar um Blackwood sem ser para tentar pegá-lo em uma emboscada é completamente inimaginável. Mas ali estava ela, caminhando até sor Brynden, na calada da noite, enquanto um baile acontecia no castelo onde ele cresceu ao lado do homem que ela precisava conquistar para torna-se sua esposa. Quando parou ao seu lado e sentiu o seu cheiro recém-saído do banho, pensou que havia perdido completamente o juízo. E a culpa era dele. A culpa era do jeito que ele olhava para ela como se fosse algo lindo e precioso que ele nunca tinha visto antes. Tinha certeza de que jamais em toda a história um Blackwood havia olhado dessa forma para um Bracken.

- Willas deseja que eu a leve para andar de cavalo pelos arredores do castelo.

- Por que você? – perguntou, confusa.

- Eu sou o homem que ele mais confia neste castelo, minha senhora – disse ele, a voz carregando algo que Helaena não conseguia desvendar – Se ele pediu para que eu a acompanhasse, é porque lhe estima muito.

Se viu assentindo com a cabeça, incapaz de dizer qualquer coisa depois de ouvir o tom meio acusatório do Blackwood. Ficaram em silêncio por algum tempo. Um silêncio desconfortável que fez Helaena falar qualquer coisa que lhe veio à cabeça.

- Não acho que meus pais vão gostar da ideia de que eu saía com um Blackwood.

- Seus pais não precisam gostar de nada – respondeu, de imediato – Eles podem dizer pessoalmente a Willas que recusam a gentileza que ele está fazendo a senhora ou podem designar alguma dama para que a acompanhe.

- Ou eles podem não saber de nada – diz, sem pensar, atraindo finalmente os olhos verdes para si – Creio que assim seja melhor.

- Você quer que eu guarde um segredo com a senhora e o seu futuro marido?

- Futuro marido? Por que diz uma coisa dessas? – pergunta, assustada – Não há nenhum noivado firmado.

- Mas é o que a senhora deseja, não é?

- Você pode ter certeza de que os desejos de uma donzela não fazem diferença para ninguém, sor Brynden.

- Creio que fazem – diz, ele – Para mim, faz sim. O desejo de uma donzela em específico.

Foi o necessário para o coração de Helaena disparar. Ele virou-se para ela. Seu corpo agora estava próximo demais. Ele suspira e pede.

- Olhe para mim, minha senhora.

Seu pedido soa doce nos ouvidos da Bracken, que se vira aos poucos, quase como se tivesse enfeitiçada pela voz dele. Ele é gentil ao afastar os cabelos que caíam em seu rosto, os afastando e colocando atrás de sua orelha. Brynden toma o seu rosto em suas mãos e o acaricia com o seu dedo. Não sabia de certo o que fazia a sua pele arrepiar: se era o contato de sua mão fria em sua pele quente, se era a respiração quente tão próxima de seu rosto, se era a forma com que os olhos verdes a analisavam, como se a idolatrasse.

- Isso não é certo – foi o que conseguiu sussurrar.

- Ah, eu acho que isso é muito certo. É mais do que certo.

- Não, não é – protestou, sem ser capaz de se afastar ou tirar as mãos dele de seu rosto – Nossas famílias se odeiam. Nós dois deveríamos nos odiar e não... E não... Pelos Sete, Brynden, você não deveria olhar para mim desse jeito.

Ele sorri. Um sorriso masculino que sabe que conseguiu o que quer.

- Você também olha para mim de um certo jeito, sabia? – diz, aproximando o rosto perigosamente do dela – Do que isso importa, minha bela Helaena? Seus planos envolvem se casar com um Lorde de um Grande Casa e você possui todos os atributos para conquistar isso. Eu não pretendo atrapalhar.

Ficou confusa, porque se alguém os pegasse naquela proximidade toda, bom, ele não só atrapalharia tudo, como acabaria morto pelas mãos de Lorde Bracken.

- Além disso, somos só nós dois aqui – sussurrou – O ódio de nossas famílias não pode nos alcançar.

Gostaria de dizer que entendeu o que ele quis dizer, mas no instante seguinte, Brynden Blackwood juntou sua boca na de Helaena Bracken. Um simples selar de lábios que causou um efeito poderoso na Bracken que se aprofundou quando ele juntou os corpos e transformou aquele selar em um beijo exigente e profundo. Nunca havia sido beijada, mas sentia que fazia um bom trabalho pela maneira que ele parecia puxá-la para si cada vez mais. Ele se afastou e simplesmente não foi capaz de abrir os olhos, sentindo-se completamente embriagada pelo beijo que recebeu.

- Você não parece sentir muito ódio de mim agora, Lady Helaena. – brincou.

O respondeu dando um leve empurrão nele e enfim abrindo os olhos com um sorriso bem-humorado em seus lábios.

- Se eu fosse você não teria muita certeza, sor Blackwood.

- Peço perdão, minha senhora, mas neste caso, tenho certeza sim. – disse, despretensiosamente.

Segurou o impulso de revirar os olhos.

- Acho melhor retornar para o Salão – comentou – Nessa altura, minha mãe deve estar sentindo minha falta.

Antes que pudesse reagir, Brynden colou seu corpo no dela novamente e juntou os lábios nos dela em um, dois, três longos beijos, que a deixou novamente entregue nos braços dele. Brynden estava certo, quem odeia, certamente não acaricia os cabelos da forma que acariciava os deles, tampouco desliza os dedos pelas costas, buscando grudar os corpos ainda mais.

- Brynden – sussurrou no meio do terceiro longo beijo.

Ele a soltou a contragosto.

- Vá – disse – Antes que eu a beije novamente, vá.

Percebeu o quanto ele parecia bagunçado e quis perguntar se ela também estava do mesmo jeito. Mas não ousou fazê-lo, era brincar com a sorte ficar um segundo a mais na presença dele. Então se afastou às pressas, se ajeitando da maneira que conseguia e voltando para o Grande Salão. Ninguém parecia ter sentido a sua falta. Deslizou para o meio do salão e novamente colocou-se a dançar, como se não tivesse trocado beijos com a última pessoa dos Sete Reinos que deveria sequer cogitar beijar há minutos.

FATE - ASOIAFOnde histórias criam vida. Descubra agora