Na mesma noite, Charlie e Samira jantam juntos, e a mulher revela um pouco mais sobre si mesma e seu passado.
Charlie foi levado por Samira pelas ruas movimentadas e apinhadas de outros bares e restaurantes. Não havia muito que ver, além da profusão de residências com mais de um andar, os cruzamentos e carros que transitavam.
Cheiro de comida preenchia o ar frio da noite e Charlie decidiu que não seria nada mal comer alguma coisa. Pediu sugestão a Samira, que mostrou um restaurante no fim da rua. Era em uma construção de tijolos avermelhados e janelas de vidro rústicas; ficava bem próxima ao mar, separada, somente, por uma rua.
Charlie convidou Samira, que negou em primeiro momento. Dizia ela, não poder gastar o dinheiro recebido na recente apresentação noturna. Ele ofereceu-se para pagar, alegou fazer um bom tempo que não comia e o dia tinha sido cheio. Foi a custo que ela aceitou.
O interior do restaurante estava tão movimentado quanto o bar e pessoas não paravam de entrar e sair. Lanternas vermelhas de aspecto Chinês tomavam o teto e contrastavam com as cadeiras e mesas de madeira escura, todas ocupadas. Aproximando-se do balcão, uma mulher baixa — de traços orientais e sotaque aparente — os atendeu, entregando um cardápio plastificado.
Como Charlie não entendia nada da comida do lugar deu o cardápio à cantora, e ela fez a gentileza de explicar cada prato para ele com humildade. No fim, deu-a o cargo de escolher e a atendente escreveu seus nomes em um pedaço de papel. Eles tiveram de esperar um pouco e Charlie riu ao serem chamados de casal quando o pedido ficou pronto; Samira nada disse, mas seu rosto tornara-se da cor das lanternas.
Não tinha lugar no restaurante onde pudessem se sentar e a comida foi toda embalada para que a levassem, tendo, a mulher oriental que os atendeu, recomendado o parque que ficava ao lado do restaurante, enquanto Charlie pagava. Foi para lá que se dirigiram após terem pegado as sacolas fumegantes e de cheiro espetacular.
Charlie caminhou ao lado de Samira, carregava uma sacola e ela outra. Atravessaram a rua movimentada e deram no parque. Sob a luz dos postes cheios de mosquitos, passaram pelo caminho de concreto, atravessando canteiros de grama. Samira contou que o parque se chamava Maritime Garden, e não era para menos o nome, pois vários barcos flutuavam no mar, atracados num píer próximo. Havia embarcações de todo tipo, de barcos pesqueiros a de passeios.
Foram se sentar num banco de madeira com vista para o mar, os espigões e uma estrutura comprida, bastante iluminada ao longe. Ao perguntar, Samira mais uma vez respondeu a Charlie; tratava-se da ponte Golden Gate e que a vista era melhor de dia, quando o nevoeiro se dissipava. Fosse como fosse, não podia existir cenário melhor para Charlie.
— Pedi macarrão, espero que goste — informou Samira, após terem se sentado.
— Difícil eu não gostar de alguma coisa quando o assunto é comida, meu bem. E você, gosta? — ele quis saber, recebendo dela, uma caixinha bem fechada e quente.
— Adoro esse tipo de comida, é minha preferida.
— Tem talher aí dentro? — Charlie, espiava a sacola, aberta entre eles no banco.
— Aqui. — Samira, puxou da sacola uma embalagem, transparente e comprida, que o ofereceu.
Eram dois palitos, e Charlie nada entendeu ao pegá-los, encarando-os de ponta a ponta, como se fosse algo de outro mundo.
— Ah, não me diga; não sabe usar hashi? — convenceu-se Samira, notando a confusão dele.
— Perdão, usar o quê?
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A Trombeta de Gabriel
Pertualangan"'Todos os homens merecem o céu!', aqui, este é o lema dos anjos; mas, quando a Trombeta de Gabriel cai do céu - impedindo os portões de abrirem e receberem as almas dos mortos -, Charlie Barker - um homem de 30 anos, morto e malandro -, é escolhido...