13 pov Aemond

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Puxei os braços de Lucerys pra que ele se segurasse em mim, ele estava tão colado nas minhas costas que dava pra sentir seu coração batendo, estava rápido, rápido demais pra se considerar normal.

- Está com medo?

- Óbvio, você poderia me jogar daqui de cima a qualquer momento.

- Eu não faria isso, não enquanto temos um acordo.

O corpo dele ficou tenso com a minha resposta, eu ri baixinho para que ele não escutasse, talvez eu outra época eu teria pensando em jogá-lo daqui, mas depois do que aconteceu ontem, eu não sei mais o que pensar de mim mesmo.

Quando acordei escutei um sermão de Alicent, indignada pela minha atitude, porque eu me arriscaria por um dos filhos da Rhaenyra? Eu não tinha uma resposta convincente pra dar, dizer que era porque eu tinha feito um acordo com ele faria ela surtar mais ainda, minha mãe odiava tudo que ela não podia controlar e eu tinha quase matado o filho favorito dela, então ela não tinha nada bom pra me dizer e eu já não tinha paciência pra ouvir.

Quando Rhaenyra veio falar comigo eu não tive outra opção sem ser dizer a verdade, pelo menos parte dela, minha meia irmã não iria abençoar minha união com seu preciso filho se soubesse que era um acordo e que depois iríamos nos separar.

Separar, pois é.

Ela não confia em mim e eu respeito isso, afinal quem confiaria a vida de seu filho a quem desejava machucá-lo até alguns dias atrás.

Me pergunto agora se eu sempre desejei mesmo isso ou se só era meu orgulho ferido, eu não falei mais com Lucerys depois dele tirar meu olho, ele ficou distante literalmente e acho que isso ajudou, mas lembro de minha mãe dizer palavras amargas sobre isso, que Rhaenyra tinha que ter feito o sacrifício de arrancar o olho do filho dela pelo meu, pensando nisso hoje parece tão insano, será que se fosse ao contrário minha mãe arrancaria meu olho?

Os braços de Lucerys me apertaram mais, e eu virei a cabeça pra trás, mas tudo que vi foi seu rosto alegre e iluminado pelo sol da tarde, até ele virar o rosto pro lado esquerdo.
Eu me lembrava de flash do que aconteceu, lembrava de ver sangue e tudo estar vermelho, mas não o motivo e ali estava o motivo, no meio daquela paisagem bela de meu sobrinho feliz por voar e o vento soprando em seus cabelos tinha uma mancha, um erro, algo que não deveria estar ali, bem perto de seu olho direito.

Foi quando me toquei que nunca quis machucá-lo de verdade, eu já estava me culpando por algo que nem fiz. Não teria acontecido se eu tivesse escutado suas súplicas pra que eu parasse, eu me lembro dos gritos dele ecoando na minha mente, do desespero de que senti quando vi seu sangue no punhal de Daeron, eu não tinha sentido aquilo antes e porque sentiria agora? Eu odiava ele até anteontem, o que mudou então?

Tentei deixar isso pra lá por um momento, eu não tinha resposta pras várias perguntas que se formavam em mim, conduzi Vhagar pra uma campina que levava para um penhasco, demorou um pouco até que ela estivesse deitada e fosse seguro descer e quando finalmente pisamos os pés nos chão Lucerys saiu correndo para perto do penhasco, onde o sol começava a se pôr, o vento era forte lá em cima.

Eu fiquei olhando por um tempo apoiado em Vhagar, que se mexeu me empurrando pra longe, ela deitou a cabeça pro outro lado indo dormir, provavelmente eu estava atrapalhando a privacidade dela.
Então eu fui até Lucerys, ele estava sentado na grama verde, seus olhos estavam fechados, eu sentei do seu lado direito e dava a visão nítida do seu perfil, era difícil pra mim olhar aquele ferimento.

- Me perdoa.

Ele abriu os olhos e virou os rosto pra mim, ele parecia surpreso, eu também estava, nunca pedi perdão por nada na minha vida.

- Pelo que?

Minha mãos subiu instintivamente para segurar seu rosto, mas eu parei no meio do caminho, que direito eu tinha? Recolhi minha mão de volta e olhei pra pra qualquer coisa que não fosse Lucerys sendo banhado pela luz do fim da tarde. Aquilo estava mexendo comigo.

- Pelo seu rosto, você podia ter ficado cego.

- Aí estaríamos quites.

Mexi minha cabeça tão rápido que a safira azul doeu na minha cabeça, mas Lucerys olhava pro horizonte, para o céu que estava escurecendo. Eu não sabia se tinha algo a dizer, mas eu não me sentia confortável com a ideia, eu ameacei a arrancar seu olho tantas vezes, porque agora me incomodava pensar em deixá-lo cego como ele fez comigo?

- Me perdoe também.

Tudo que o vento me trazia era o aroma mais doce de jasmim que já senti, ele estava sendo sincero.

- Você se jogou na frente de uma lâmina por mim. Acho que estamos quites

Dessa vez ele olhou pra mim, seus olhos lilás, em mim, somente em mim. Mas seu semblante era triste, eu daria tudo pra saber o que ele pensava agora.

- Eu contei a sua mãe que te pedi em casamento.

- Se você está vivo significa que ela aceitou bem.

- Aceitar é um palavra muito forte, ela não confia em mim, acha que eu estou me aproveitando da sua situação.

- Mas você está! Você jamais teria me pedido em outras circunstâncias.

- E por acaso você teria aceitado se eu tivesse pedido?

Lucerys brincava de arrancar a grama, ele olhou pro chão parecendo sem graça, suas bochechas um pouco vermelhas, não obtive uma resposta e isso me deixou com um desconforto estranho na boca do estômago, eu esperava que ele disse não, eu teria entendido se ele disse não, mas eu não entendo o silêncio.
Respirei fundo tentando fazer meu coração voltar ao normal.

- Devíamos voltar.

Disse ao olhar pro horizonte e o céu já estar escuro, além da lua só tinha uma única estrela, sozinha, mas brilhava bem forte. Uma risada travou na minha garganta e me lembrei da conversa que tive com Helaena.

" - No momento certo, quando a primeira estrela aparecer no céu, você deve se reconciliar com ele.

- Porque eu deveria fazer isso? Foi ele quem me marcou, quem arrancou meu olho, ele quem tem meu sangue nas mãos.

- No momento certo Aemond, quando a primeira estrela aparecer no céu. Você vai entender"

Que droga Helaena, você disse que eu ia entender, estou me sentido mais perdido e furioso que antes, nada faz sentido, era pra ele me odiar também, porque parece que ele não odeia?

- Sim. Vamos voltar.

Lucerys se levantou primeiro, e não olhou mais pra mim, ele não sorriu, a volta para o fosso foi desconfortavelmente quieta, Lucerys parecia ter se fechado em um mundo que eu não conhecia, mas o que atormenta é que algo em mim queria conhecer.

Do ódio ao amorOnde histórias criam vida. Descubra agora