Do ódio ao amor

7 pov Luke

Eu estava mais vagando os olhos pelas páginas escritas em valiriano do que realmente lendo, frustração era um sentimento muito recorrente em meus dias, eu estava ansioso e não podia demonstrar isso, meu tempo estava acabando, Vaemond solicitou uma audiência com meu avô, já até sei as coisas que ele vai falar.

Além de disso, provocar Aemond não parecia estar funcionando, será que ele falou sério mesmo quando disse que meu cheiro era nojento? Ele parecia saber tantos detalhes, eu devia ser maduro sobre isso, príncipes tem muitos privilégios, amar livremente não é um deles.

Eu tenho um passeio com o Lorde Stark de Winterfell, ele chegará em poucas horas, manter minha posição é importante e preciso logo de um companheiro, terei sete dias para me decidir, senão Vaemond vai exigir se tornar o novo herdeiro de Driftamark por incapacidade minha e eu serei uma decepção de ômega.
Meu segundo gênero não podia ser a única coisa a decidir se sou capaz ou não de liderar. Isso me irrita demais.

Eu poderia pensar um pouco mais sobre isso se o cheiro cítrico tão conhecido não tivesse me atingido, ele estava parado bem ali, olhando pra mim como se fosse me matar, as mãos atrás das costas, a postura impecável, um verdade príncipe alfa com certeza.

- O que quer? Estou ocupado agora pra aturar suas ameaças ao meu olho.

Voltei a olhar pro livro pesado em meu colo, e virei uma folha fingindo ler, as letras pareciam flutuar na minha frente sem sentido nenhum, eu pude ouvir ele rosnar baixinho, isso me arrepiou.

- Quero conversar apenas.

- Sei bem a conversa que você quer. - virei mais uma página - A lâmina da sua adaga contra meu rosto é um diálogo que não estou disposto a ter.

- Eu preciso de você Luke.

Eu nem pude respirar depois disso, meu corpo tinha paralisado, eu tenho certeza que Aemond era capaz de ouvir meu coração acelerado, aquilo apertava meu peito.
Olhei para Aemond desacreditado, desconfiado, estupefato se é que existia alguma coisa que explicasse o que eu sentia agora.

- Perdão?

- Está perdoado.

Se eu não estivesse tão paralisado teria revirado os olhos para a ignorância de meu tio.

- Eu disse que preciso de você, meu lorde.

Ele se aproximou mais, eu não respondi, apenas acompanhei seus passos, minha cabeça se levantava conforme ele chegava mais perto, os cabelos soltos sobre os ombros voavam com a brisa que batia nele, as folhas da árvore coração a cima dele deixavam uma paisagem bonita.

- Para que?

Consegui dizer depois de finalmente voltar a respirar de forma normal ou quase isso. Segurei fortemente o livro, tentando me acalmar.

Aemond olhou ao redor do jardim, e farejou o ar buscando alguma coisa

- Me acompanhe por favor, aqui não é seguro.

Ele esta louco, só pode. Soltei uma risada que deve ter soado como uma ofensa para o alfa, ele me encarou sério, sério demais.

- Olhe bem pra mim, tenho cara de idiota?

Levantei uma sobrancelha levemente ofendido por ele achar que só porque pediu eu o seguiria, talvez em outras circunstâncias eu faria.

- Se você está dizendo, quem sou eu pra discordar.

Fechei o livro e o segurei no colo me levantando em seguida.

- Acho que não precisa tanto assim falar comigo, tenha uma boa tarde.

Eu realmente estava disposta a ir embora, mas ele foi rápido em segurar meu braço, foi tão rápido que nem vi como ele chegou tão perto, meus olhos tinham uma visão perfeita de seus ombros sendo moldados pela roupa de couro, tudo que eu pensei foi em minhas mãos as tirando.

- Eu preciso mesmo de você pequeno Luke.

Olhei para cima, encontrando seu olho cravando em mim, eu podia sentir sua respiração em minha testa, senti meu sangue subir pras bochechas, meu ômega estava ronronando com essas migalhas de interação, tão patético quanto eu.

- Você tem trinta segundos antes que eu grite.

Comecei a contagem.

- Preciso evitar que Aegon se case com Daeron. Vai ser daqui a algumas luas, no início da primavera e...

- vinte segundos.

- E eu preciso de você para conversar com Jace, ele é o único capaz de parar essas loucura que minha mãe inventou de fazer.

- dez segundos. Porque acha que Jace ajudaria você, na verdade porque acha que eu faria isso? Vocês viviam me chamando de bastardinho. Cinco segundos.

- Porque eu sei que Jace é apaixonado no Aegon e porque se você me ajudar, eu te ajudo a não perder sua posição de herdeiro de Driftamark!

O tempo acabou e o filho da puta tinha dois bons argumentos.

- O início da primavera é em duas semanas querido tio. Eu não tenho duas semanas para salvar Aegon do destino que sua mãe, a rainha, decidiu. Tenho meus próprios problemas casamenteiros para resolver.

Ele não parecia querer afrouxar o aperto no meu braço, escutei até um rosnado contido sair de sua garganta. O cheiro de limão ficou mais forte e azedo, formigava meu nariz, Aemond estava ficando irritado.

- Acho melhor me soltar, se alguém nos vir assim podem ter um ideia diferente do real motivo dessa conversa.

Demorou um pouco, seu olhar parecia furioso sobre mim, mas Aemond me soltou, tenho certeza que a marca da mão dele ficou no meu braço pela força que ele segurava.
Eu até poderia ajudar, ver meu irmão feliz com seu parceiro era algo que me deixava contente, mas formar uma aliança as cegas com Aemond era perigoso para mim, ainda mais se achassem que eu poderia estar tendo um caso com ele fora de um casamento, nas circunstâncias que estou qualquer coisa poderia ser usada contra mim, eu tinha que me resguardar.

- Eu ficarei em sua defesa no julgamento.

Aemond disse não tirando atenção de mim e eu estava começando a ficar inquieto com isso.

- Sua defesa não me serve de nada, o conselho é feito de alfas, e suas tradições são tão machistas e mesquinhas quanto eles.

Respondi de forma ignorante, voltando a tomar meu caminho, não teria nenhum acordo feito, nada que ele disse poderia me fazer mudar de ideia.

- Se me dá licença, eu preciso me preparar para Lorde Stark, ouvi dizer que ele é um dos melhores alfas de Westeros, quem sabe eu tenha sorte e nem vou precisar de você.

Seu cheiro azedou tanto, que eu pude ver claramente algumas flores murcharem, existia uma rixa entre o Norte e o reino, acho que isso ainda perdura.
Deixei Aemond sozinho no jardim, matando as flores com seu temperamento irracional, eu não tinha tempo agora, fico feliz que ele queira defender seu irmão de um alfa tão cruel como Daeron, não que Aegon fosse uma virgem inocente, mas no fim do dia estamos nos mesmo barco e consequentemente enfrentando a mesma correnteza, os machos alfas de nossa sociedade, e no momento eu queria salvar a mim mesmo.