10 pov Aegon

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Minha mãe andava pelo meu quarto gritando palavras que eu já não estava tão disposto pra ouvir, os dois filhos dela estavam desmaiados, mas eu era o problema, Aemond e Daeron quase se mataram, mas eu quem estava errado, ela planejava junto de meu avô usurpar o trono da Rhaenyra, mas eu que era egoísta.
Levei minha taça até a boca para tentar me distrair, mas já tinha bebido todo o álcool, eu não poderia aguentar mais esses gritos, pelo menos não sóbrio.

- Está me ouvindo Aegon?

Ela bateu na minha mão que segurava a taça, fazendo o objeto voar longe, não era a primeira vez que ela era agressiva, mas eu me encolhi, geralmente Aemond aparecia pra me salvar dela, mas hoje não será esse dia.

- Você é um inútil, imprestável, ingrato, um bêbado! Por isso vai se casar com Daeron, ele vai saber colocar você na linha, olha só pra você, ainda está gordo e feio.

Eu já tinha ouvido tudo isso antes, mas o jeito que ela fala ainda machuca, machuca meu coração saber que minha mãe me destesta tanto a ponto de me casar com meu irmão mais novo que força ômegas inocentes a se deitarem com ele.
Eu já estava com os olhos meio marejados, era doloroso ouvir os outros, mas quando era minha mãe, parecia que de alguma forma era pior.

- Você vai levantar daí e vai fazer companhia para Daeron enquanto ele está acamado. Entendeu? Seja um ômega obediente dessa vez Aegon.

Eu podia sentir as unhas dela cortarem minhas bochechas com a força que ela segurava, como se ela se contesse para não fazer pior, eu não respondi nada, não tinha o que dizer.
Antigamente quando eu era pequeno minha mãe cheirava a baunilha, era gostoso ficar abraçado a ela, mas então eu fui crescendo e ela teve meus irmãos e quando eu finalmente cheguei a idade adulta ela já não cheirava mais a baunilha, era uma coisa pobre e ruim, ela tinha esse cheiro o tempo todo.

Eu também não era um orgulho de filho pra dizer a verdade, eu não sei o que mudou mas em algum momento eu simplesmente não queria mais ser a marionete perfeita, minha mãe manipulava todos nós, eu e meus irmãos eramos bonecas, ferramentas pra ajudá-la a conseguir o que queria, ela me preparou para ser o ômega perfeito e eu retribui isso sendo o completo oposto do que ela desejava.

Me tornei mais preguiçoso, e já não era mais "puro" como "deveria" ser, comecei a beber demais e comer demais. Minha mãe diz que casar com Daeron era um favor que ela me fez, afinal quem casaria com alguém como eu?

Jacerys casaria, um bastardo se casaria comigo e ela não quis, ela preferiu me oferecer de bom grado ao um... eu nem conseguia dizer.

- Aegon? Está me ouvindo? Aegon?

Escutei estalos e parecia que eu tinha acordado de um transe, eu estava tão perdido na minha própria mente que não notei ter saído do meu quarto e começado a andar pelos corredores, eu não estava nem no caminho para o quarto de Daeron.

- Aegon?

Eu finalmente olhei para quem me chamava, era Jace, seus olhos lilás, a única coisa Targaryen que ele tinha, estavam em mim, preocupados me arrisco a dizer, ele era alto e bonito, os cabelos escuros ondulados na altura dos ombros parecia tão macio, minhas mãos formigaram com a ideia de escovar o cabelo dele com meus dedos.

- Oi

- Você tá bem?

Eu não tinha muitas palavras pra dizer, eu não podia dizer o que se passava na minha cabeça, longe de mim, eu apenas acenei que sim. Jace continuou me perguntando coisas que eu me limitava a responder sem palavras, foi quando percebi que sem a bebida eu me tornava o que eu era de verdade, uma casca vazia.

Eu devia ter bebido mais.

- Você quer ajuda?

Ajuda? Ajuda! Eu não me lembrava a última vez que alguém me ofereceu ajuda, era sempre "Aegon faça isso, Aegon faça aquilo, você não pode fazer isso, pare de chorar, se recomponha, um príncipe não se comporta assim".
Ajuda. Ajuda. Ajuda.

Senti a mão de Jace se acomodar no meu rosto, era quente e reconfortante, era um toque delicado, apenas para mover meu rosto em sua direção, os dedos dele tinham calos, provavelmente de treinar, ele limpou uma lágrima solitária que saiu sem permissão, nem notei que estava quase chorando, seus olhos desceram um pouco e tenho certeza que ele viu as marquinhas vermelhas das unhas da minha mãe, porque seu polegar acariciou as mesmas.

- Quer que eu te leve pra algum lugar?

- Eu tenho que ir ficar com Daeron.

Daeron, eu não queria ficar no mesmo ambiente que ele, mesmo que ele estivesse desacordado.

- Tem certeza?

- Ele é meu noivo.

Não era isso que eu queria dizer, eu queria que Jace me tirasse dali, nem que fosse pro fim do mundo, qualquer lugar era melhor. Mas sua mão soltou meu rosto com essa resposta, como se fosse um repelente.

- Não foi isso que perguntei.

Olhei para o chão, para meus pés, eu estava apertando meus dedos e arrancando a carne no canto das unhas, respirei fundo algumas vezes, era uma droga não estar bêbado.

- Apenas me leve até lá.

Levantei o olhar para ele, Jace estava sério, eu quase abaixei a cabeça, mas consegui me manter firme no olhar dele. Jace cheirava alecrim, era forte mas agradável, parecia limpar minha mente nublada.
Ele me ofereceu o braço para apoiar, como um verdadeiro cavalheiro faria.
Não conversamos durante o trajeto, foi um silencio estranhamente confortável, estar perto de Jace era confortável, mesmo que eu irritasse ele a todo tempo, quando chegamos na porta do quarto de meu irmão mais novo eu me segurei mais forte no braço de Jace e obviamente ele percebeu.

- Vou perguntar mais uma vez. Tem certeza de quer estar aqui?

Eu não tinha certeza de nada a muito tempo, eu só sabia que estar com Jace me acalmava e eu jamais teria aquilo pra mim, aquela sensação livre e de paz que ele me fez sentir e alguns minutos, aquilo foi o mais perto que cheguei do paraíso desde que me tornei adulto, eu queria aproveitar aquela sensação mais um pouco.

- Eu não tenho opção.

- Eu posso te levar embora, apenas me diga pra onde Aegon... e eu te levo.

Eu sabia que ele olhava pra mim e tenho certeza que se eu olhasse para ele, cederia, e deixaria que ele me levasse pra onde quisesse, respirei fundo umas três vezes e segurei com força a manga da camisa de Jace, eu queria chorar.

- Eu preciso que você me solte Jacerys se não eu não vou conseguir.

Minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia.

- Não acho quero fazer isso.

- Não deixa as coisas mais difíceis pra mim.

Um bolo começou a se formar na minha garganta, eu ia chorar se ele não me soltasse logo.

- Não tem que ser difícil pêssego.

Olhei pra ele tão rápido, minhas sombrancelha estavam unidas, eu estava incrédulo, já fazia muito tempo que eu não ouvia esse apelido, o apelido que ele me deu quando eu ainda não era envolvido apenas pelo cheiro de vinho. Minha boca abria e fechava, eu não tinha palavras.

- Está fraco! Faz muito tempo que não sinto seu cheiro verdadeiro.

Eu fiquei tenso, muito tenso, minhas mãos estavam suando, meu coração batia muito rápido, senti a testa de Jacerys se apoiar na minha cabeça e o cheiro de alecrim ficar mais forte, eu passava tanto tempo brigando com ele que tinha me esquecido como era apenas tê-lo ali do lado como quando eramos mais novos, antes de toda essa merda acontecer, antes de eu me perder.

- Eu volto pra te buscar em breve.

Ele me soltou pouco depois, lentamente, olhei pra ele uma última vez antes de entrar no inferno, ele disse que voltaria então eu vou confiar nisso, eu posso confiar nisso não é?
Abri a porta do quarto me preparando para o resto do meu dia, eu ficaria ali como um cachorro adestrados, mas Jace voltaria e eu fechei a porta com essa esperança.

Do ódio ao amorOnde histórias criam vida. Descubra agora