.- Me perdoe, Anastásia. Acho que não deveria ter feito isso.
- Não, Miguel. Não peça desculpas... está tudo bem, eu também beijei.
Por mais que não tenha sido algo premeditado por nós, aquele beijo acabou deixando um ar constrangedor por uns instantes, até que além de mudar de assunto, ele me fez rir contando umas coisas que lhe ocorreram durante a semana no trabalho.
Ficamos ali, horas e horas a fio, sentados na sala, bebendo e conversando sobre tudo o que conseguíamos conversar, e era incrível, pois sempre havia assuntos que pudéssemos falar um com o outro, um para o outro.- Bom, está bem tarde. Vou indo nessa. Nos vemos amanhã?
- Claro!
Com um abraço e um beijo na testa, nos despedimos na porta. E com um grande suspiro, deitei na minha cama tentando entender a dimensão que eu estava vivendo.
"aquilo aconteceu mesmo?"
"que beijo incrível"
"ai que vergonha"Tive leves ataques de euforia e fofura na minha cama, mas como sempre, o meu lado negativo falando bobagens em meus ouvidos, e se eu não me esforçasse muito, acabaria cedendo a ele.
Mas também não poderia sair criando expectativas por causa de um simples beijo, afinal, éramos melhores amigos já havia quase três anos, não podia me dar o luxo de sair acreditando que poderia existir algo entre nós, poderia até mesmo estragar a nossa amizade.No dia seguinte, não fui ao escritório, trabalhei de casa mesmo, então tive mais tempo para pôr em prática a yôga que estava uma semana atrasada, cuidar da minha casa e ter um tempo de qualidade com o Noir, molhar as minhas plantas, lavar algumas roupas e curtir minha própria companhia em um dia comum da semana.
Esperei ansiosa para vê-lo pela janela, mas quando o vi, estava ocupado com seus fones. Enviei uma mensagem convidando para um piquenique no parque, mas ele não me respondeu. De início achei estranho mas logo deixei pra lá.
Mais tarde fui correr pelo bairro, e quando estava saindo do meu prédio o encontrei saindo também para correr, então o chamei para corrermos juntos, mas ele recusou. Também achei estranho pois nem sequer me cumprimentou direito, me senti apenas uma vizinha.
Aquele comportamento do Miguel estava me fazendo pensar no que eu poderia ter feito ou dito no curto espaço de tempo entre a despedida na noite anterior, ao encontro na entrada do prédio daquela segunda, mas não conseguia encontrar um motivo plausível pro comportamento dele.
Então mais tarde, resolvi ir até o apartamento dele e levar a lasanha que ainda tinha, mas de forma bem curta logo ele me despediu, ali na porta mesmo.
Fiquei magoada e chateada, claro! No entanto, não conseguia sequer chegar a uma conclusão do porquê estar sendo tratada daquela maneira, e logo por ele.
Logo me veio a lembrança do beijo, e que poderia ter sido ruim pra ele, e talvez de fato aquilo tenha estragado a nossa amizade, mas lembro de pensar:
"se um beijo foi capaz de estragar três anos de amizade, então nossa amizade não era real e forte como eh imaginei."
Fiquei triste e passei a noite assistindo filmes pela televisão, na companhia de Noir.
Sua janela do outro lado estava aberta mas nem sinal dele para fazer palhaçadas como ele sempre fazia.Tudo estava indo bem pra mim, estava sendo uma época muito proveitosa.
O meu trabalho, minha vida profissional e pessoal, minha relação com os meus pais e com os colegas do escritório, tudo estava devidamente de acordo, mas sentia que estava faltando o sabor da amizade com o Miguel, já que havia dias que ele me evitava.
Não respondia minhas mensagens, não ia mais a minha casa, nem os convites do meu pai ele sequer aceitava, então depois de semanas comecei a me acostumar com sua ausência, mesmo muito me doendo e não querendo aquilo, eu só comecei a me acostumar.
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Revie: Anastásia
Short StoryA vida é um grande amanhã: misteriosa e incerta. E nela conhecemos e desfrutamos de momentos bons que parecem curtos, e momentos ruins que parecem eternos. Contudo, o que ela nos proporciona em ambos os casos é a chance de aventurar-se em sua constâ...