Entrevista

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O trajeto até o estúdio onde vai ser a entrevista é turbulento, mas felizmente rápido. Zoro provavelmente deveria saber que parte do seu mal-estar é nervosismo, mas prefere pensar que a culpa é do café da manhã terrível que tomou — que tipo de país idiota come feijão sem tempero com pão de forma de café da manhã? Ele não consegue decidir se é seu sangue mexicano ou o texano que se sente mais ofendido.

Sanji está sentado ao seu lado, cercado por uma multidão de empregados e stylists. Um ajeita seu cabelo com um pente fino. Outro segura um caderno com tópicos. Outro ajeita sua gola. Do banco de passageiros, Vivi tira um comprimido amarelo de um frasco e o passa para o loiro, que o coloca na boca prontamente e o engole de uma vez. Zoro decide que não quer nem precisa saber o que é.

O comboio para em frente ao estúdio e, quando a porta automática se abre, lá está a fila de fotógrafos prometida e a barricada de adoradores da realeza. Sanji se vira e olha para ele, uma leve careta em torno da boca e dos olhos.

— O príncipe vai primeiro, depois você — Vivi diz a Zoro, se aproximando e tocando no fone. Ele inspira uma, duas vezes, e abre o sorriso elétrico, o charme americano.

— Vá em frente, vossa alteza real — Zoro diz, piscando enquanto coloca os óculos escuros.              — Seus súditos o aguardam.

Sanji pigarreia e levanta, saindo para o sol matinal e acenando amavelmente para a multidão.

Câmeras disparam, fotógrafos gritam. Uma menina de olhos azuis na multidão ergue um cartaz em que está escrito em letras grandes e brilhantes PEGA EU, PRÍNCIPE! por cerca de cinco segundos até um membro da equipe de segurança jogar o cartaz numa lixeira próxima.

Zoro sai em seguida, erguendo-se ao lado de Sanji e colocando um braço em volta dos ombros dele.

— Finge que gosta de mim! — Zoro diz, sorridente. Sanji olha para ele como se estivesse tentando escolher entre um milhão de opções de palavras, antes de inclinar a cabeça para o lado e dar uma gargalhada ensaiada, colocando o braço em volta do moreno também. — Agora sim.

Os apresentadores do This Morning são tão britânicos que chega a dar agonia: uma mulher de meia-idade chamada Kokoro de vestidinho claro e um homem chamado Gatz com cara de quem passa os fins de semana gritando com camundongos no jardim de casa. Zoro assiste às apresentações nos bastidores enquanto um maquiador esconde uma espinha de estresse em sua testa. Então, isso está acontecendo. Ele tenta ignorar Sanji poucos metros à sua esquerda, recebendo uma arrumada final de um stylist da realeza. É a última chance do dia que ele tem de ignorá-lo.

Pouco depois, o príncipe sai do camarim, seguido por Zoro, que aperta a mão de Kokoro primeiro, voltando seu Sorriso Político para ela, aquele que faz muitas deputadas e um número considerável de deputados quererem lhe dizer coisas que não deveriam. Ela ri baixo e dá um beijo na bochecha dele. A plateia bate palmas e mais palmas.

Sanji senta no sofá do cenário ao lado dele, a postura perfeita, e Zoro sorri para ele, fingindo parecer à vontade nessa companhia. É mais difícil do que deveria, porque, de repente, as luzes do palco deixam claro como Sanji está bonito para as câmeras. Ele está usando um suéter azul sobre a camisa e seu cabelo parece sedoso.

Tá, tudo bem. Chega a ser irritante o quanto Sanji é atraente. Isso sempre foi verdade, objetivamente falando. Não é um problema.

Ele percebe, quase um segundo tarde demais, que Kokoro está fazendo uma pergunta para ele.

— O que você está achando da boa e velha Inglaterra, hein, Zoro? — ela diz, visivelmente gracejando com ele. Ele força um sorriso.

— Sabe, Kokoro, é maravilhoso — o moreno diz. — Já estive aqui algumas vezes desde que minha mãe foi eleita, e é sempre incrível ver a história, além da seleção de cervejas. — A plateia gargalha em seguida, e Zoro ri um pouco. — E, claro, é sempre bom encontrar esse cara.

Ele se vira para Sanji, estendendo o punho. O peíncipe hesita antes de bater o punho no de Zoro, com o ar tenso de quem comete um ato de traição.

A entrevista segue sem maiores complicações, o príncipe se mantém perfeito como sempre e o primeiro filho seguindo fielmente a ideia de achá-lo estupidamente atraente e insuportável ao mesmo tempo. Como alguém tão robótico e ensaiado conseguia causar tantos sentimentos dúbios nele? Talvez ele estivesse disposto a descobrir... 

VBSA- ZOSANOnde histórias criam vida. Descubra agora