TRIO DA CASA BRANCA

53 6 1
                                    


No terraço da Casa Branca, escondido em um canto da varanda, há um painel meio solto bem no canto do Solário. Se bater do jeito certo, dá para puxar o painel o suficiente para encontrar uma mensagem que foi entalhada com a ponta de uma chave, ou talvez com um abridor de cartas roubado da Ala Oeste. 

Na história secreta das primeiras-famílias — uma indústria exclusiva de fofocas que devem permanecer eternamente em segredo, sob pena de morte —, não se sabe ao certo quem escreveu aquilo. A única certeza que as pessoas parecem ter é que só o filho ou a filha de um presidente teria a audácia de vandalizar a Casa Branca. Alguns juram que foi Jack Ford, que tinha discos do Hendrix e um quarto de dois andares anexo ao terraço para fumar de madrugada. Outros dizem que foi a jovem Luci Johnson, que prendia o cabelo com uma fita grossa. Não importa. A frase se mantém, um mantra secreto para quem for esperto o bastante para encontrá-la. Zoro a descobriu na semana em que se mudou para a Casa Branca. Ele nunca contou para ninguém.

Diz assim: 

REGRA NO 1: NÃO SEJA PEGO

Os Quartos Leste e Oeste no segundo andar costumam ser reservados para a primeira-família.  Zoro dorme no Leste, de frente para a Sala do Tratado, e Kuina, no Oeste, perto do elevador. 

Quando eram crianças, no Texas, eles tinham quartos na mesma configuração, um de cada lado do corredor. Na época, dava para saber com o que Kuina andava sonhando só pelo que cobria as paredes do quarto dela. Já o quarto de Zoro era sempre o mesmo, só que cada vez mais cheio de troféus de kendo e pilhas de trabalhos de matérias avançadas. Está tudo juntando poeira na casa que eles ainda mantêm na cidade. Pendurada em uma corrente no pescoço, sempre escondida, ele guarda a chave daquela casa desde o dia em que se mudou para Washington. 

Pelo menos nas últimas décadas, os filhos do presidente não costumam morar na Residência depois dos dezoito anos, mas Zoro começou a faculdade em Georgetown no mesmo mês de janeiro em que sua mãe tomou posse e, pela logística, não fazia sentido dividir os seguranças nem os custos entre a Casa Branca e o apartamento em que ele iria morar. Kuina veio no mesmo ano, recém-formada na Universidade do Texas. Ela nunca disse, mas Zoro sabe que ela se mudou para ficar de olho nele. Kuina sabe melhor do que ninguém que ele adora estar tão perto da ação e, mais de uma vez, chegou a arrancá-lo à força da Ala Oeste. Dentro do quarto, ele pode sentar e escutar Hall & Oates na vitrola do canto, sem que ninguém o ouça cantarolando "Rich Girl", como seu pai fazia. Pode usar os óculos que sempre finge não precisar para ler. Pode fazer todos os guias de estudo detalhados e cheios de post-its coloridos que quiser. Ele não vai se tornar o congressista mais jovem a ser eleito na história moderna se não fizer por merecer, mas ninguém precisa saber o quanto ele se esforça para isso. Senão seu status de sex symbol cairia por terra.

— Ei — diz uma voz à porta. Ele ergue o olhar do laptop e vê Kuina entrando no quarto, carregando dois iPhones, uma pilha de revistas embaixo do braço e um prato na mão. Ela fecha a porta com o pé.

— O que você roubou hoje? — Zoro pergunta, afastando a pilha de papéis para ela sentar na cama.

— Donuts sortidos — Kuina diz enquanto sobe. 

 Ela esparramou a pilha de revistas em cima da colcha e começou a ler.

— Fazendo a sua parte para manter a indústria de fofocas norte-americana viva?    

— É pra isso que serve meu diploma de jornalismo — Kuina diz.

— O que tem de bom essa semana? — Zoro pergunta, pegando um donut.

— Vejamos — Kuina diz. — A In Touch diz que estou... namorando um modelo francês?

— Sério?

— Quem me dera. — Ela folheia algumas páginas. — Ah, falaram que você fez clareamento anal.

VBSA- ZOSANOnde histórias criam vida. Descubra agora