O beijo do príncipe

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Zoro tropeça num banco, e o barulho chama a atenção de Sanji. Quando ele se vira, o luar cai sobre ele, e seu rosto parece suavizado pelas sombras, convidativo de uma maneira que o moreno não consegue entender direito.

— Está fazendo o que aqui fora? — Zoro pergunta, levantando e indo até o lado dele embaixo da árvore.

Sanji estreita os olhos. De perto, seus olhos ficam um pouco vesgos, focados em um ponto entre ele e o nariz de Zoro. Nem tanta dignidade assim.

— Procurando Órion — Sanji diz.

Zoro solta um riso bufado, erguendo os olhos para o céu. Nada além de nuvens de inverno.

— Você deve estar muito entediado com os plebeus para sair aqui e ficar olhando as nuvens.

— Não estou entediado — o loiro murmura. — O que você está fazendo aqui fora? O menino de ouro dos Estados Unidos não tem multidões para seduzir?

— Falou a porra do Príncipe Encantado — Zoro responde, sorrindo.

Sanji volta o rosto para as nuvens, a expressão nada principesca.

— Longe disso.

Seus dedos encostam no dorso da mão de Zoro ao lado do corpo deles, um pequeno raio de calor na noite fria. O moreno observa o rosto dele de perfil, piscando para a bebedeira passar, seguindo a linha suave de seu nariz e a curva leve no centro de seu lábio inferior, tudo tocado pelo luar. Está congelando e Zoro está usando apenas um paletó, mas seu peito está aquecido por dentro pela bebida e por algo inebriante em que seu cérebro tropeça, sem conseguir nomear. O jardim está silencioso exceto pelo sangue correndo em seus ouvidos.

— Mas você não respondeu a minha pergunta — Zoro comenta.

Sanji suspira, passando a mão na cara.

— Você não deixa nada passar, não é? — Ele inclina a cabeça para trás, batendo-a de leve contra o tronco da árvore. — Às vezes fica um pouco... demais.

Zoro continua olhando para ele. Normalmente, há algo na boca de Sanji que revela certa simpatia, mas, às vezes, como agora, ele fica com o canto da boca contraído, a guarda firmemente levantada.

Zoro se vira e, em um movimento involuntário, se recosta na árvore também. Ele encosta no ombro de Sanji e vê o canto da boca dele se contrair, algo se move levemente no rosto do príncipe. Essas coisas — grandes eventos, deixar os outros se alimentarem da energia dele — quase nunca são demais para Zoro. Ele não sabe ao certo como Sanji se sente, mas parte de seu cérebro, que provavelmente está encharcada de tequila, pensa que talvez ajude se Sanji ficasse apenas com o que consegue dar conta, e Zoro pudesse tomar conta do resto. Talvez ele possa absorver parte do que é "demais" através do ponto onde seus ombros estão encostados.

Um músculo no maxilar de Sanji se mexe, e algo suave, quase um sorriso, contrai seus lábios.

— Você já se perguntou — ele diz devagar — como seria viver como uma pessoa anônima?

Zoro franze a testa.

— Como assim?

— Só, sabe — Sanji diz. — Se sua mãe não fosse a presidenta e você fosse só um cara normal levando uma vida normal, como seriam as coisas? O que você estaria fazendo?

— Ah — Zoro diz, refletindo. Ele estende um braço à frente do corpo, faz um gesto de desprezo com o punho. — Bom, é óbvio que eu seria um modelo. Já estive na capa da Teen Vogue duas vezes. Essa genética transcende qualquer circunstância. — Sanji revira os olhos de novo. — E você?

O loiro abana a cabeça com melancolia.

— Eu seria cozinheiro.

Zoro dá uma risadinha. Ele pensa que já sabia disso sobre o Príncipe, de alguma forma, mas ainda é um tanto surpreendente.

— Você não pode fazer isso?

— Não é exatamente uma ocupação interessante para um homem na linhagem do trono — Sanji diz com secura. — Além disso, a carreira tradicional da família é a militar, então é o que me resta, não?

O Príncipe morde o lábio, espera um segundo e abre a boca de novo.

— Eu namoraria mais também, acho.

Zoro não consegue conter o riso de novo.

— Claro, porque é tão difícil pegar alguém sendo príncipe.

Sanji volta os olhos para Zoro.

— Você ficaria surpreso.

— Como? Não te faltam opções.

Sanji continua olhando para ele, mantendo o olhar fixo por alguns segundos a mais.

— As opções que eu gostaria... — ele diz, arrastando as palavras. — Não são exatamente opções.

Zoro pisca.

— Quê?

— Estou dizendo que tem... pessoas... que me interessam — Sanji diz, voltando o corpo na direção de Zoro, falando com uma incisividade atrapalhada, como se quisesse dizer alguma coisa com isso. — Mas não devo correr atrás delas. Pelo menos não na minha posição.

Será que eles estão bêbados demais para se comunicar?

— Não faço a mínima ideia do que você está falando — Zoro diz.

— Não?

— Não.

— Não mesmo?

— Não, não mesmo.

O rosto todo de Sanji se franze em frustração, os olhos se voltando para o céu como se estivessem buscando a ajuda de um universo implacável.

— Meu Deus, como você é burro — ele diz, e pega o rosto de Zoro com as duas mãos e o beija.

O moreno fica paralisado, sentindo a pressão dos lábios de Sanji e as mangas de seda de seu casaco encostadas em seu queixo. O mundo se transforma em estática, e seu cérebro está se esforçando para acompanhar, solucionando a equação de rixas adolescentes, bolos de casamento e mensagens às duas da madrugada, mas sem entender a variável que o trouxe até aqui, exceto que... bom, por incrível que pareça, ele não se importa. Tipo, nem um pouco.

Em pânico, ele tenta montar uma lista de cabeça, mas para em: Um, os lábios do loiro são macios, e entra em curto-circuito.

Ele tenta se entregar ao beijo e é recompensado pela boca de Sanji se movendo e se abrindo junto à dele, a língua do Príncipe tocando a sua, o que é: uau. Não é nada parecido com o beijo da garota mais cedo — nada parecido com nenhum beijo que ele já deu na vida. É uma sensação tão firme e gigantesca como a terra sob seus pés, envolvendo todas as partes do seu corpo, prestes a tirar o ar de seus pulmões. Uma das mãos de Sanji se enfia em seu cabelo e agarra as raízes na sua nuca, ele ouve um som escapar dos seus lábios rompendo o silêncio esbaforido, e...

De repente, Sanji o solta com tanta força que ele cambaleia para trás, o loiro murmura um palavrão e um pedido de desculpas, os olhos arregalados, e dá meia-volta, esmagando a neve a passos rápidos. Antes que o moreno consiga dizer ou fazer qualquer coisa, o príncipe já está longe.

— Ah — Zoro diz por fim, baixinho, levando uma mão aos lábios. — Caralho.

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⏰ Última atualização: Aug 12 ⏰

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