05 | Narração.

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O dia amanheceu nublado, o cheiro de terra molhada estava solto pelo ar e era impossível não senti-lo. Me levantei no mesmo instante em que o despertador tocou, nem mesmo consegui pregar o olho, como sempre. Tomei o pior banho da face da terra e escovei os dentes, vesti a primeira roupa que encontrei e peguei minhas coisas para sair de casa. Tudo era tão difícil, desde aquele dia minha vida mudou por completo, e eu não sabia o que fazer para melhorar.

Evitava passar por aquela rua sempre que ia para a faculdade, só para não ter que encontrar o pai dela saindo de casa para trabalhar, enquanto sua mãe estava deprimida em casa e seu irmão tentava cuidar dela e deixá-la animada. Eu me culpava todos os dias por isso, e não tinha um segundo que eu não pensasse em tirar minha própria vida. Mas eu sabia que não era isso que ela iria querer.

As horas sempre passavam devagar, mas quando eu estava com ela, o tempo passava num piscar de olhos. Porque tudo que é bom, dura pouco.

— Bom dia, Niki. – Ryujin me cumprimentou assim que entrei na loja de conveniência que tinha no campus.

— Bom dia, Noona. – Forcei um sorriso para a mais velha, indo de encontro a prateleira dos energéticos e pegando o de sempre.

— Estamos em promoção na barra de cereais. Compre três pelo preço de uma. – Mostrou as barras. — Vai querer?

— Hoje não. – Coloquei a lata do energético na bancada para ela passar.

— A promoção só é até hoje. – Passou a lata e colocou dentro da sacola.

— Hoje não, Noona. – Entreguei o dinheiro pra ela e peguei a sacola, saindo da loja em seguida.

Assim que sai, encontrei mais universitários por perto e passei por eles para ir até uma área mais afastada. Eu não tinha amigos, Ryujin trabalhava na loja e só nos falávamos quando era o expediente dela, então eu sempre ficava sozinho. Antigamente, minha companhia era Nako e seus amigos, mas depois do acidente, eles passaram a me odiar.

Já no terraço, abri o energético e tirei a carteira de cigarro e o isqueiro de dentro da mochila. Peguei um maço e ascendi, dando o primeiro trago e soltando a fumaça. Dei um gole na bebida e senti ela descer com dificuldade pela garganta, como sempre. Como mais cedo, o céu ainda estava escuro e alguns pingos d'água já caíam. Ao longe, vi raios caindo e já tive a certeza que viria uma forte chuva.

Quando terminei de beber e fumar, sai do terraço e fui para a minha sala, onde já haviam algumas pessoas. Me direcionei até minha mesa e fiquei quieto lá, apenas esperando o professor chegar e começar a aula.

Como disse, as horas passaram tão devagar quanto um caracol. No horário do almoço, fiquei sozinho como de costume e comi pouco, depois voltei para o terraço para fumar um pouco mais, ficando em baixo de uma latada observando a chuva cair.

Quando chegou a hora de ir embora, passei em frente ao cemitério e pensei em entrar, mas vacilei outra vez, voltando a andar de volta para casa, onde passei o resto do dia dormindo para ter a sorte de acordar só no outro dia. Ou nem acordar...

E assim era minha rotina todos os dias, desde o dia em que você se foi.

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