Assim que cheguei no ponto de encontro que marquei com o garoto, me direcionei até a mesa vinte que estava vazia — ainda bem. Me sentei em uma das cadeiras e dei uma olhada por todo local, sentindo o ar calmo dali. Fazia um tempo que eu não saía de casa para lugares assim, então me senti encucado, principalmente quando um dos funcionários chegou para saber meu pedido.
— Um café quente, sem açúcar.
Fiquei aguardando o pedido chegar, o que não demorou como eu pensei. Faltava poucos minutos para o horário marcado, acabei vindo um pouco antes só por garantia. E um minuto antes, um garoto de fios loiros atravessou a porta com um sorriso de orelha a orelha, carregando alguns cadernos e pastas em mãos. Ele cumprimentou alguns funcionários, dando boa tarde e sorrindo gentilmente para eles, logo vindo na minha direção com o mesmo sorriso.
— Boa tarde. – Sentou-se na cadeira a minha frente, deixando seus pertences na mesa. — Você é o meu japa?
— Que?
— É assim que seu número está salvo no celular da Nako. – Mostrou o aparelho que ainda estava com a mesma capinha; ela amava My Little Pony.
— Ah, tá. – Cocei meu pescoço meio sem graça.
— Enfim, aqui está. – Entregou o celular pra mim, que não demorei para pegar e apertar no botão do lado para ligá-lo.
O papel de parede era ela e seu irmão.
— Eu vou ficar quieto aqui fazendo minhas coisas enquanto você olha tudo, ok?
— Ok.
E assim foi feito.
Enquanto eu mexia em tudo que tinha no celular dela, desde mensagens recebidas ou enviadas há três meses, até fotos e notas deixadas. Assim que entrei na galeria e vi as milhares de fotos que ela tirava dela mesma, nossa, dos seus amigos e de coisas que gostava, meus olhos se encheram d'água e um nó se formou na minha garganta. Só que eu estava em público e não poderia chorar.
Depois de longos minutos olhando tudo, fiz o que o amigo daquele garoto iria fazer e restaurei o celular, apagando tudo que tinha ali.
Engoli o choro que queria vir e coloquei o celular perto dele que estava escrevendo em seu caderno da... Moranguinho?
— Já olhou tudo? – Perguntou pegando o celular e o ligando. Sua expressão mudou de curioso para confuso. — O que você fez?
— Eu restaurei.
— Ah, obrigado? – Sorriu pequeno, deixando o aparelho de lado. — Posso pagar seu café em forma de agradecimento?
— Não precisa. – Disse já me levantando para ir embora. — Obrigado por ter me permitido dar uma última olhada nas coisas dela.
— Por nada, meu japa. – Sorriu gentilmente outra vez.
Qual a desse cara?
— Com licença.
Passei no caixa para pagar pelo meu café e fui embora logo em seguida. Durante o caminho para casa, senti as lágrimas voltarem a se formar e o choro querer vir, e não pude impedir dessa vez, deixando a tristeza e culpa me consumir mais uma vez. Assim que cheguei em casa, já acabado pelo choro, me sentei no sofá e esfreguei o rosto com as mãos, suspirando pesado.
Não sei mais quanto tempo eu iria aguentar aquilo tudo. Meus dias estavam cada vez mais sem sentido sem Nako ao meu lado.
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O Amor Manda Mensagem
Hayran KurguInconformado com a morte de sua namorada, Niki manda mensagens para o número da amada todos os dias, crente que receberia uma resposta. O que ele só não fazia ideia era que a linha telefônica já pertencia a outro alguém.