Jean seguia novamente pela estrada, seguindo o rastro de Aric. Fazia dois dias desde que saíram do Forte de Thamor, desde que Jean saiu da casa do pai sem dar aviso prévio e seguir para estalagem, bem a tempo de ver o mercenário colocando a sela na montaria. Nenhum sinal de sir Howard Loupin.
Assim, eles seguiram pelas montanhas até as terras altas de Makott, onde o príncipe de Niqthar e os anarquistas causavam alvoroço e traziam instabilidade para o reino. O trajeto foi acompanhado pela visão de celeiros em ruínas, corpos enforcados em árvores secas e corvos. Muitos corvos sobrevoando áreas cinzentas graças a fumaça que rodopiava pela região.
Definitivamente, ali era uma terra de pura anarquia.
Conforme se direcionavam para nordeste, para a fronteira de Niqthar, pequenos povoados surgiram no caminho. A maioria em estados decrépitos e repugnantes, com fossas abertas e dejetos nos limites das ruas. As pessoas, então, eram cascas do que uma vez já foram um povo saudável e orgulhoso.
Depois de quilômetros de cavalgada, eles finalmente chegaram ao vilarejo de Liverend, que não era muito diferente dos outros lugares pelos quais passaram , embora nitidamente mais populosa e extensa.
Quando chegou ao topo da colina, na encruzilhada que levava até o vilarejo abaixo, Aric pegou uma pedra e riscou a parte de trás da placa da divisória. Em seguida, voltou a continuar o seu percurso. Jean, logo atrás, também parou e leu a mensagem:
"Não entre na cidade, sir, se tiver algum amor pela sua vida".
Jean olhou para baixo, no pé da colina, para a figura diminuta agora parada em cima de seu cavalo. Ele sabia que estava sendo seguido. Sempre soube. Contudo, não se deixaria se intimidar por ter sido descoberto. Sua rainha havia lhe dado uma tarefa e ele iria cumpri-la.
O cavaleiro bateu as esporas nas laterais de sua montaria e seguiu o mercenário.
Eles atravessaram o vilarejo, povoado pelas mais decadentes e miseráveis pessoas.
Bêbados, mendigos e prostitutas perambulavam à luz do dia pelos lugares públicos e fedorentos, encarando os viajantes com um olhar vazio e apático. Jean não mais escondia o fato de estar atrás de Aric, por isso seguia a poucos metros do mercenário escondido em capas amarronzadas.
Conforme se aproximavam do centro, cada vez mais apareciam guerreiros trajados com armaduras de couro rudimentares, abusando e torturando dos cidadãos. Os mercenários de Dothan eram conhecidos pelas suas faltas de compaixão e uma busca insaciável por riqueza e prazeres. Tudo o que Jean sentia por eles era nojo enquanto imaginava se Aric seria parte daquela corja.
Jean gostaria de saber qual o plano de Aric, como ele mataria Dothan, se ele de fato fosse cumprir a tarefa. Não achava que ele simplesmente fosse até o príncipe estrangeiro, enfiasse uma adaga na jugular dele e saísse sem dificuldades. Mas pelo que parecia, essa era a ideia.
O mercenário cavalgou até um prédio de pedra, a única construção de dois andares do vilarejo, como se soubesse já o caminho até ali, como se já tivesse atravessado aquelas terras antes. Dezenas de soldados cercavam o local, vigiando com uma atenção redobrada, indicando a importância do que se encontrava na residência.
Não que fosse muito difícil de entender o motivo de tanta atenção. Aliás, era complicado se manter relaxado com um dragão vermelho repousado no telhado.
Jean não acreditava no que via, um dragão da família real, com o mesmo comprimento que três cavalos de guerra emparelhados, montava guarda e encarava os homens armados com seus olhos de ônix e uma fome insaciável típica daqueles répteis voadores. Uma pequena fumaça negra escorria para fora das narinas, em formato de fendas, da besta e o cheiro de enxofre impregnava todo o centro da vila.
Os cidadãos olhavam para a fera com uma misto de medo e admiração. Dragões eram seres lendários, quase divinos, e que ajudaram bastante na reinvindicação de Ivanna quando ela milagrosamente conseguiu domar uma boa parcela dos existentes no Fosso. Nem mesmo Talos Falighan fora capaz de fazer algo desse nível.
Mais um dos mistérios daqueles penetrantes olhos carmesins, pensou Jean no exato instante que Aric de Lernan desmontou do cavalo e começou a caminhar tranquilamente em direção ao prédio, passando pelos soldados como se fosse invisível.
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Rainha de Sangue
FantasyNa distante terra de Zarkavia, onde as montanhas se erguiam majestosas e os rios serpenteavam como veias de prata, reinava uma soberana cujo nome era sussurrado com temor: Rainha Ivanna, conhecida por todos como Rainha de Sangue. Sua ascensão ao tro...