Cap 65

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“O que eu sinto eu não ajo. O que ajo não penso. O que penso não sinto. Do que sei sou ignorante. Do que sinto não ignoro. Não me entendo e ajo como se me entendesse
                                              Clarice Lispector

Dulce Maria

Eu tento focar meus pensamentos em algo que me faça recordar o motivo de estar aqui, mas nada acontece e me sinto frustrada por isso.
Sinto uma leve dor de cabeça que provavelmente decorre da minha insistência em tentar entender tudo que está acontecendo. A enfermeira faz os procedimentos necessários e eu mal presto atenção no que ela diz. 

— Dulce ? Está sentindo alguma coisa ? — Pergunta, chamando a minha atenção

— Me desculpe a distração… Estou com um pouco de dor de cabeça — Confesso

— Certo, vou colocar um remedinho no soro, não se preocupe tanto, você passou por uma cirurgia delicada — Comenta, enquanto aplica o Tramal no soro

— Passei ? —  Pergunto incrédula

— Sim. Mas agora está tudo bem, logo estará em casa e na companhia dos seus familiares — Afirma e eu me sinto cada vez mais confusa

Assim que a enfermeira se retira, minha mãe entra e fica feliz ao me ver sentada na poltrona do quarto.

— Que bom te ver assim minha filha ! — Ela diz, ao se sentar do meu lado, na outra poltrona

— Não vejo a hora de voltar para casa ! — Confesso ansiosa

— Eu sei meu amor, mas tudo tem o seu tempo certo ! — Ela coloca sua mão sobre a minha

— Mãe, porque eu fiz uma cirurgia ? — Ela parece surpresa com a minha pergunta

— Filha, não tem que pensar nisso agora — Desconversa

— Mas eu não consigo parar de pensar, por mais que todos digam a mesma coisa, eu quero saber o que aconteceu ! — Tento controlar minhas emoções

— Dulce, você acabou de acordar de um coma, não se lembra de algumas coisas, não dá para simplesmente contar tudo de uma vez, mas se quer tanto saber, você sofreu um acidente, os detalhes a gente conversa melhor quando estiver na minha casa, tudo bem ? — Ela fala com calma

— Tudo bem, me desculpe, mas é difícil e frustrante não me lembrar das coisas… — Confesso um pouco triste

— Eu sei que sim, mas precisa ter paciência consigo mesma — Alerta — Seu pai foi em casa buscar algumas coisas e vai trazer Mapi quando voltar — Avisa com um sorriso no rosto

— Não vejo a hora de ver a minha filha — Sorrio — Mas e o Paco ? Ele não vem ? — Mais uma vez estranho a sua ausência

— Acredito que sim ! — Responde sem nenhum entusiasmo

— Mãe, porque Christopher estava aqui e leu uma carta da Mapi para mim ? Desde quando eles estão próximos ao ponto dela deixar um bilhete em suas mãos ? — Questiono, desconfiada

— Porque eles são muito amigos, você apenas não está se recordando disso — Diz, carinhosamente

— Christopher não era próximo dela quando estávamos em turnê… Depois disso muito menos, ainda nem voltamos a nos encontrar com o grupo para pôr nossos próximos planos em prática — Afirmo e ela me olha de um jeito diferente

— Filha — Ela segura minhas mãos — muita coisa aconteceu desde o término da turnê, sua vida não parou ali, o acidente aconteceu muito tempo depois — Me assusto com as possibilidades do que ela quer dizer

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