Se cuida, Jay

55 8 0
                                    

ㅤㅤTentavam a todo curto recuperarem o ritmo de suas respirações totalmente bagunçadas e desesperadas. Já estavam longe do banco, e até agora não tinham notícia alguma da gangue, mas não sabiam se deveriam ficar felizes ou se assustarem; Afinal, sempre que tudo esteve muito calmo, algo deu errado.

Jake estava completamente jogado no banco de trás da van, sua cabeça estava tombada para trás, o calor que sentia era infernal, seu corpo inteiro queimava após correr tanto. O silêncio no lugar era tanto, que se assustou um pouco quando seu celular tocou. Retirou o eletrônico do bolso e viu que era Jooyeon, um dos homens de pretos que estavam no balcão.

─ Alô? ─ Os garotos levaram suas atenções até Jake.

─ Jake! ─ O homem disse com a voz pesada e assustada, fazendo com que Jake prestasse mais atenção no que ele tinha para dizer. ─ O filha da puta jogou fogo no balcão! Cara, está tudo pegando fogo!

Os olhos arregalados de Jake deixaram os garotos atentos a sua conversa no telefone mais curiosos ainda. A chamada de repente se encerrou, e Jake parecia atordoado com a notícia que havia recebido.

─ O que foi? O que aconteceu? ─ Niki perguntou.

─ Colocaram fogo no balcão.

Jay, que estava no banco da frente dirigindo o carro, freou bruscamente no lugar, fazendo alguns dos meninos baterem o rosto de leve no banco à frente. Jay se virou para trás, olhando para Jake, seus olhos estavam arregalados e parecia completamente abalado com a notícia. Bem, haviam levado anos para conseguir construir aquele lugar, ver tudo se perder em chamas dessa forma era tenebroso, e Sunghoon se sentia da mesma forma.

─ Porra.. ─ Jungwon suspirou.

─ Para onde vamos agora? Se ficarmos parados aqui, eles podem chegar a qualquer momento.

─ Como eles sabiam? Como sabiam sobre o balcão? ─ Jay disse, indignado.

─ Eu não sei.. Mas algo me diz que ele sabia sobre todos nós há um tempo. Ele é líder de uma gangue, é impossível não ter nos encontrado quando descobriu sobre Jungwon.. ─ Sunghoon disse.

Agora, sem ter para onde ir, estacionaram em um lugar qualquer em uma rua vazia. A noite estava cada vez mais fria, os garotos se abraçavam com seus braços, buscando se esquentarem. Após descerem do carro, sentaram em um banco de madeira quase acabado que tinha ali.

─ Eu tenho que fazer uma ligação. ─ Jay disse, se afastando um pouco dos garotos para falar ao telefone.

Em momentos assim ou com mínimos perigos e mínimas chances de perigo, Jay sempre ligava para sua irmã. Os garotos observavam a cena de um diálogo amoroso entre família com uma tristeza nos olhos, era algo do qual nunca tinha lhes acontecido. Jay e a irmã sempre tiveram uma ótima relação, perderam seus pais que amavam muito quando eram bem jovens, então Jay teve de tomar conta da irmã. Sabia que esse estilo de vida iriam acabar lhe machucando muito, por isso sempre ligava para a irmã; haviam perdido os pais de uma forma parecida, não queria que a irmã lhe perdesse também.

─ Ele tem algo lindo. ─ Niki disse.

─ O que? ─ Jake perguntou, atento.

─ Uma família.

Aquilo apenas entristeceu mais os garotos. Heeseung depositou sua cabeça nos ombros de Jake, se apoiando ali.

A história de Heeseung e Niki vocês já conhecem, mas a dos garotos é algo triste também. Sunghoon nunca conheceu os pais, desde pequeno teve apenas os cuidados da tia. Agora que era um adulto, a mulher estava muito doente e mal conseguia sair de casa; era triste ver a mulher que cuidou de si morrer aos poucos. Jungwon tinha seu pai e sua mãe, mas estavam ali apenas para o título. A família do garoto era rica, e isso todos já sabem, para todos eles eram uma família perfeita repleta de amor e carinho, mas isso era a única coisa que não tinha naquela casa; o dinheiro não comprava tudo.

Sunoo sempre foi órfão e muito pobre. Não conhecia seus pais, mas os amava e imaginava que eles tinham um bom motivo para tê-lo abandonado. O garoto cresceu sem carinho ou atenção alguma; sempre foi muito carente. Jake perdeu seus pais por um assassinato quando era bem pequeno, e ficou pelos cuidados dos avós, que o tratavam como indesejado. Lhe culpavam pela perda de seus pais, como se ele tivesse culpa alguma. Mas não os odiavam por isso, eles estavam lutando contra o luto e precisavam de alguém para culpar. Quando se tornou adulto saiu do lugar, mas ainda voltava lá aos feriados para vê-los.

─ Deve ser legal ter um familiar presente para poder ligar sempre que algo dê errado. ─ Jungwon sorriu sem humor.

─ Mas eu tenho uma família. ─ Sunoo disse, atraindo a atenção de todos. ─ Vocês.

Os garotos sorriram com aquilo, afinal, não era mentira. Sempre que precisava de algo eram eles que o ajudavam, quando estava em um momento extremamente triste e infeliz, foram eles que o ajudaram, e o estenderam a mãos para tirá-lo do fundo do poço que tinha se enfiado. Todo o carinho e amor que recebeu vinha deles, as palavras de aceitação saíram de suas bocas, e em boa parte, o teto que morava eram deles.

Eles eram uma família.

─ O que vocês estão falando? ─ Jay se aproximou após o fim da ligação. ─ Minha irmã disse que tem um prédio abandonado por essa região, podemos nos esconder em um até de madrugada, é quando o barco vem e vamos embora.

Eles se levantaram do banco e foram em direção ao carro, adentrando o mesmo. Lá dentro ainda era gelado, mas não era tanto quanto lá fora. Por longos minutos não escutaram nada além do barulho que o motor do carro fazia, a rua era um pouco escura demais, mas não se surpreenderam, a irmã de Jay havia dito que o lugar era praticamente abandonado.

Pareciam ser a única coisa viva se mechendo por ali, a rua era completamente deserta. Mas de repente avistaram um farol adentrando a rua, entregando que havia mais um carro ali. Por conta do farol extremamente brilhante que machucou seus olhos, não perceberam que o carro estava vindo especificamente em sua direção. Foi tudo tão rápido, não tiveram nem tempo de pensar e raciocinar tudo o que estava acontecendo. Nunca imaginaram que em três míseros segundos, tudo ficaria preto, perderiam a consciência por completo, e até mesmo quem sabe a vida.

O carro veio com tudo para cima deles, lhes empurrando pra fora da estrada, o carro rodou uma três vezes, era possível escutar o barulho do carro se quebrando e várias peças de descolando do automóvel quando ele desceu um morro ali, ladeira baixo.

Todos os garotos se encontravam desacordados, exceto Jay. Não sentia seu corpo, não tinha controle sobre nada, apenas conseguia escutar os leves barulhos dos metais caindo do carro. Tentava abrir os olhos mas falhou, tinha apenas metade da consciência, tanto que ainda nem conseguia sentir a dor; mas pode apostar, uma hora ele iria sentir. Escutou o barulho de seu celular tocando sem parar, não fazia ideia de quem era, não poderia abrir os olhos. Fez o máximo de esforço que pode para mover apenas a ponta de seu dedo, para poder atender a ligação. Tentou inúmeras e inúmeras vezes, mas nada acontecia, nem um músculo se mexia. Tentou mais uma vez, e finalmente conseguiu mover o dedo. E, mesmo que tenha sido apenas um pequeno movimento, foi o necessário para atender a lição.

─ Ah, Jay! ─ Era a voz de sua irmã. ─ Irmão, eu não sei onde você está e nem como está, mas eu sei bem que se meteu em alguma enroscada. Por favor, se cuide até pegar o barco! Eu vou te visitar um dia, não pense que irá se livrar de mim. ─ Ela sorriu do outro lado da linha. ─ Eu te amo muito, meu irmão. Eu já perdi gente demais, perder você iria ser perturbador. Bom, era só isso mesmo! Se cuida, Jay. ─ A ligação se encerrou.

O "pep" que tocou quando a ligação se encerrou, ecoou na cabeça de Jay, era o último barulho que iria sentir por um tempo. Sentiu uma lágrima escorrer por seus olhos fechados. Aos poucos ia perdendo a pouca consciência que tinha, se sentiu terrível por não ter se cuidado como a irmã havia pedido. Se lembrou pela última vez o que a irmã disse, logo apagando por completo.

"Se cuida, Jay."

assault 67 Onde histórias criam vida. Descubra agora