A felicidade voltou?

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ㅤㅤ Era por volta das uma da manhã e todos estavam dormindo juntos no mesmo quarto, como de costume; Exceto Niki. Heeseung se levantou da cama quando percebeu que o garoto não estava mais lá, procurou por ele em toda parte, e o encontrou no gramado de fora do Balcão.

Ele estava sentado no chão ao lado de um pequeno canteiro de flores que tinha ali, Jay havia mostrado para ele a uns dias atrás, e desde então o garoto esteve com aquelas belas flores sempre que podia.

─ O que está fazendo aqui? Deveria estar dormindo. ─ Heeseung se sentou ao seu lado.

─ As flores não são lindas?

Niki as observavam como se elas fossem coisa de outro mundo, um ser lindo que havia se perdido nesse mundo terrível, e talvez elas realmente fossem.

─ Você está tentando se matar?

A pergunta repentina fez o coração de Niki disparar rapidamente. Por mais que sua face fosse tranquila e continuasse observando as flores, parecendo não ligar para o que Heeseung dizia, ele sabia que ligava sim.

─ Eu vi os compridos no seu armário.

─ Ótimo. Então você pode só fingir que não os viu e continuar sua vida.

─ Não posso. Eu os joguei fora.

Niki se levantou de forma desajeitada com uma expressão furiosa, era como se Heeseung tivesse jogado fora toda a sua esperança de um dia ir embora.

─ Eles fazem mal a você, Niki.

─ Qual é, você é maconheiro, Heeseung!

─ Isso não vem ao caso.

Heeseung não entendia como Niki queria que ele agisse normalmente sabendo que ele se dopava com remédios, que ele tentava se matar e que havia uma dor imensa dentro de si. Ele queria poder ajudar o amigo, mas nada do que fazia por ele nunca fez efeito, não gostava de pensar que ele havia sido destinado a sofrer tamanha dor, mas era como se aquela dor tivesse se apegado a si, e nunca mais iria embora.

─ Você não pode morrer! Se você morrer eu morro junto! ─ Aumentou o tom de voz. ─ Você é só uma criança.. Me desculpa por não conseguir te fazer feliz, mas eu estou tentando, por favor não faça mais isso! Eu posso sentir essa dor por você, me diz o que está acontecendo, Niki! Passa essa dor pra mim!

─ Se eu sou criança, por que eu não sou feliz como elas são? Eu sou uma criança, mas ao invés de estar brincando em parques ou indo para a escola com amigos, eu estou roubando bancos?

─ Você não precisa ser como elas.. ─ Heeseung já estava chorando, passou a mão pelos fios de cabelo de Niki. ─ Você é mais forte do que todas elas, por ter passado por isso tudo e ainda estar aqui.

─ Você não entende, Heeseung! ─ Niki gritou, retirando a mão do mais velho de seu cabelo.

─ O que é que eu não entendo? ─ Gritou de volta.

Niki nunca se abriu com ninguém, escondia suas dores atrás de um sorriso e torcia para que ninguém percebesse o vazio em seu coração. Nunca disse a ninguém oque passava por sua cabeça, sempre teve amigos que se importavam com ele, mas eles iriam escutar se ele começasse a falar?

E tudo que Heeseung queria mostrar para Niki é que ele escutaria, que poderia passar horas escutando o mais novo colocar tudo para fora, nem que isso levasse dias. Niki guardou tudo para si, oque se formou uma radiação dentro de si, e a qualquer momento poderia explodir, e Heeseung gostaria que ele explodisse com ele.

─ Eu.. Só queria ser feliz. ─ Seus olhos castanhos começaram a marejar, fazendo a primeira lágrima cair.

O mais novo abaixou a cabeça, para ele ainda era muito difícil demonstrar fraqueza. Heeseung sentia pena de Niki, ele era apenas uma criança carente que nunca recebeu carinho, sua história era complicada.

Niki nunca conheceu seus pais, desde que se entendia por gente esteve em um orfanato. Ele odiava mais do que tudo aquele lugar, tudo era sujo, incluindo as pessoas. Era maltratado e sofria com tudo oque lhe diziam, aos dez anos de idade havia fugido do lugar, por um tempo morou nas ruas frias e escuras, sempre passava as noites em um beco ao lado de uma lanchonete, até que um dia o dono do estabelecimento o acolheu. Sempre sentiu-se um peso na vida do homem, se odiava por sua condição precária, por sempre ser motivo de pena para todos ao seu redor.

Aos quinze anos conheceu os garotos, e nessa mesma idade seu pai ─ Como gostava de chamar o dono na lanchonete ─ Faleceu. Os garotos eram sua família, seu refúgio e para onde ele sempre corria quando tinha vontade de chorar. Por isso, a separação doeu tanto em si, pois quando eles foram embora, já não tinha mais nada.

─ Você consegue imaginar o quanto eu tentei ser feliz? Eu não entendo por que eu não consigo, eu só queria ser feliz, hyung..

O rosto de Niki estava completamente molhado, o gosto salgado de suas lágrimas, e o suor que molhava seu cabelo. Eram tantas coisas para falar, mas não saia, sua garganta se trancou por completo e não conseguia proferir mais palavra alguma, a não ser "eu quero ser feliz.", afinal, era tudo oque ele queria.

─ Niki. ─ Prendeu Niki em seus braços, ele parecia precisar muito de um abraço. ─ Vai ficar tudo bem.. ─ Deixou um selar na testa do garoto.

─ Não.. Não vai. ─ Niki começou a se debater entre os braços de Heeseung, que se recusava a solta-lo. ─ Por que você está fazendo isso? Por que está aqui me escutando gritar? Você também sente pena de mim?

─ Para com isso, Niki! ─ Heeseung gritou, de repente ele se aquietou e esconde o rosto nos braços do mais velho. ─ Eu me importo com você. Mais do que você imagina.

Heeseung não conseguia dizer para Niki o quanto o amava, a forma como ele chorou sem parar quando se despediu dele naquele dia chuvoso. Sem Niki as coisas não pareciam as mesmas, era como se o sol não chegasse até ele, por isso acabou encontrando um conforto desnecessário na maconha, porque havia perdido uma das únicas coisas que o fazia se sentir vivo; Niki.

─ Se você morrer, eu morro junto.

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