Capítulo 3 - Uvas Pisadas

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   Fabrício estacionou o carro. Uma BMW modelo 2013. A casa era tão grande quanto ele havia imaginado. Um casarão com um pátio para carros na frente. Trepadeiras circundavam a propriedade, como muralhas naturais.

   Ele adentrou a casa, abrindo a porta com as chaves do homem que ele carregava. Depois de algum tempo de conversa dentro do carro ele havia descoberto três coisas importantes.

   A primeira foi: Aquele era Dionísio Fierro, dono da Dionísio Cigarros, uma das maiores distribuidoras de cigarros de São Paulo.

   A segunda foi: Ele estava disposto a pagar pelo serviço que Ricardo estava fazendo.

   A terceira foi: Tenho que ganhar a amizade dele, pensou.

   O salão principal era imenso, a casa tinha um padrão Europeu que encheu os olhos de Fabrício de admiração. Seus olhos de velho observavam tudo com atenção, cada coluna, cada porta, cada estatueta e cada quadro nas paredes.

   - Meu Deus, o que aconteceu? Quem é você? Onde ele esteve? Onde está minha filha? – uma mulher, tão gorda que perto de Paulo o transformaria em um magricela, adentrou o salão, perguntando mais do que Fabrício poderia responder. Seu rosto era muito belo, e tinha uma postura muito severa, mas devia pesar duzentos quilos.

   - Olá Senhora, me chamo Fabrício, seu marido estava vindo para casa quando ele gentilmente me pediu que o conduzisse até aqui. Parece que ele bebeu um pouco no escritório. – explicou Fabrício, e sorriu como uma criança tímida.

   A mulher lançou-lhe um olhar gelado, seu sorriso sumiu rapidamente.

   - No escritório? – perguntou desdenhando – Certamente. – e torceu a boca.

   Fabrício engoliu seco.

   - Me leve para meu escritório. – disse Dionísio, que começava a se recuperar.

   Fabrício estranhou o fato do homem sequer olhar para sua esposa, mas ele aprendia rápido e entendeu que ele e aquela mulher não seriam amigos.

   Continuou guiando o homem pelo salão, duas escadas subiam para o andar superior em curvas distintas, uma para a esquerda e uma para a direita. Entre a base delas estava uma bela porta de madeira envernizada. O homem acenou e Fabrício abriu a porta.

   Entraram no escritório e fecharam a porta, por fim.

   Dionísio sentou-se em sua nada modesta cadeira, atrás de uma bela mesa de vidro. E falou:

   - Sente-se. – a voz acentuada por alguma sobriedade, mas ainda estava carregada de bebedeira.

   Fabrício sentou-se, cruzou as pernas de forma displicente, como uma dama descuidada, e levou a mão ao queixo. Como no filme.

   Seus olhos eram como duas pedras preciosas, fitando e olhando cada canto da casa. Ali, apenas em itens de decoração, Fabrício enxergava oportunidades.

   - Quanto? – disse Dionísio, acordando-o de sua hipnose.

   O homem sacou um talão de cheques de uma gaveta e preparou a caneta.

   O valor que ele estava prestes a pedir mudaria sua vida. Pensou em ser modesto, talvez cinco mil seria um bom valor. Mas a casa e a decoração gritavam-lhe outro valor. Assim como a caneta Montblanc que Dionísio segurava.

   Ele sorriu com olhos cansados, passou os dedos pelo queixo, seu olhar e o olhar de Dionísio não se desviavam. Ele sentiu que o homem o sondava, ele me lê, quer saber se sou um homem justo ou um porco ganancioso, pensava Fabrício, ainda sorrindo tristemente.

Família Cassarano (por Marco Febrini) (Sem revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora