Capítulo 10 - A Festa

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   - Precisamos conversar. E muito. Dois meses Fabris, é muito tempo, e as coisas aconteceram rápido demais. Fiz tudo que consegui, mas descobri que sou bom em arranjar novos negócios e atividades, não em executá-los.

   Henrique estava sentado no sofá da casa de Fabrício, trazia no colo uma agenda repleta de papéis e páginas dobradas. Ao seu lado mais duas agendas esperavam sua vez.

   - Cabeleireiros, bares, restaurantes, estacionamentos. Todos querem proteção, ninguém gosta de ser roubado. – continuou o jovem – Eu já estava desesperado, todos fecharam negócio comigo nesses dois meses em que você esteve fora, mas nós não temos... não tínhamos pessoal. Agora somos exatamente dezesseis, e essas pessoas têm família, precisam de dinheiro. Comecei a depositar tudo que arrecadamos no banco...

   - No banco? – perguntou Fabrício, que estava em pé, olhando para o amigo que folheava a agenda – Não é esquisito um cara de quinze anos depositando dinheiro toda hora no banco?

   - Eu não tinha o que fazer Fabrício – justificou Henrique, pôs a agenda de lado e se levantou, continuou falando e andando de um lado para o outro -, era dinheiro de um, dinheiro de outro, o Jonas, da pizzaria, queria pagar seis meses adiantado, fora o estacionamento na represa que paga por dia. Eu não... nem... não sei...

   Fabrício apoiou as mãos nos ombros do amigo.

   - Eu sei mano, muito obrigado por tudo, você é foda, cuidou da nossa Família. – sorriu com seus olhos sinceros, e Henrique se acalmou.

   Ambos sentaram-se no sofá, Henrique abriu as três agendas na mesa de centro e Fabrício pegou uma caneta.

   - Quanto tem no banco?

   - Passei lá hoje de manhã e tirei o saldo. – Henrique passou o papel amarelado para Fabrício.

   O Don olhou o papel e arregalou os olhos:

   - Trinta "fucking" mil reais?

   Henrique deu de ombros.

   - Não peguei nem um centavo, juro por Deus.

   - Isso aqui é dinheiro pra caralho, H. Puta merda. Quantos lugares pagam?

   - São quinze no total, cada um paga mil reais por mês, passaram-se dois meses, matemática simples.

   Fabrício ainda olhava para o extrato surpreso. Tentava imaginar o quão desesperados os comerciantes estavam.

   - Mas agora somos justamente dezesseis e os caras do Morro já estão trabalhando. Não sei nem como dividir o dinheiro.

   - Oitocentos reais pra cada um, incluindo você, o Ric, o Paulo e eu. Todos são pagos pelos estabelecimentos que protegem, deixe eles fixos nos locais, quem não proteger não recebe. Duzentos reais de cada lugar vêm pra mim, desses duzentos eu só fico com cem, os outros cem é da Família. Cem vezes quinze, por mês da quanto?

   Henrique respondeu imediatamente:

   - Mil e quinhentos reais. Cada um fica com oitocentos, você fica com dois mil e trezentos.

   - Joga quinhentos do meu dinheiro pra Família. Como fica?

   - Dois mil por mês pra Família, mil e oitocentos pra você, e oitocentos pra cada um. Mas isso vai dar quinze mil e oitocentos de despesas por mês. Vamos ficar devendo.

   - Não vamos não, isso que passar tiramos do dinheiro da Família. E ainda vamos ter um caixa de quase dez mil reais desses trinta que estão no banco.

Família Cassarano (por Marco Febrini) (Sem revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora