General estava morto. O cãozinho não fazia mais parte da Família Cassarano.
Os garotos haviam cavado uma cova ao lado da cabana e o enterrado ali. Puseram uma grande pedra para marcar o local e se despediram do pobre animal. Paulo ia lá todas as manhãs, jogava a bolinha de tênis na pedra e a pegava novamente, como se ainda brincasse com General.
Fabrício sentiu a perda do animal, mas não havia alternativa. Estavam no fio de uma navalha naquela noite, qualquer deslize e todos sairiam cortados.
O destino ainda brincava com os garotos, e cada vez mais jogava com suas vidas.
Fabrício havia planejado a fuga de Thomas, visando o bem dos rapazes, mas General havia estragado seus planos. Thomas agora estava no porão, já haviam se passado três semanas. Mais uma e eles sairiam dali. Mas para isso General Thomas precisava estar vivo até segunda ordem. Com o pescoço costurado de forma grosseira, ataduras sujas e febre alta, o homem permanecia no porão delirando, agora em um colchão no chão. Estava esbranquiçado e tinha os olhos amarelados. Certamente estava muito debilitado pela perda de sangue e pela falta de cuidados médicos mais assertivos. E a idade avançada não o ajudava muito na recuperação.
Os dias eram tranquilo, mas durante as noites o inferno subia até a cabana. Thomas sentia dores e a febre fazia com que delirasse. Ele gritava e praguejava o mais alto que podia, então perdia as forças e dormia por dias seguidos.
Lá fora da casa a noite chegava. Fabrício estava apoiado no balcão da cozinha, fitando o telefone, esperando a ligação. Mas ela nunca vinha, e ele continuava a esperar e esperar. Dia após dia ficava ali, horas às vezes, na mesma posição, bebendo vinho e olhando para o telefone com seus olhos de velho.
- Fabris, vamos ver outro filme hoje. Você vem? – Henrique falou, passando pela cozinha.
Fabrício baixou o copo e suspirou.
- Onde estão os caras?
- Lá em cima. Quer que eu chame?
- Não, é melhor conversarmos só nós dois. Você sabe para onde estamos indo?
Henrique se espantou.
- Como assim? Aqui na Itália?
- Não, H. Na vida.
- Não tenho ideia.
- Mas eu tenho.
- E...
- Vamos morrer.
Agora Henrique estava curioso.
- Quem garante... No que está pensando? – limpou os óculos e colocou a pipoca no microondas.
- Na morte. Só penso nisso desde que matei General. Sonhei com isso. Sonhei com um demônio que vive dentro de mim, e isso não me deixa em paz. A morte é certa. Você pode fugir de tudo na sua vida Henrique, menos da morte.
- Dom, relaxa, todos nós temos nossos demônios.
- Sim, mas o de vocês não matou um homem a sangue frio e sorriu no dia seguinte.
Aquele argumento era imbatível, pelo menos para Henrique.
- Você ta certo. – se entregou Henrique, enquanto lavava alguns copos para serem usados na sessão que começaria dali a alguns instantes – Acho que você tem que esquecer essas coisas por alguns momentos do seu dia. É como... Sei lá... Seria como marcar uma hora onde é proibido ser Dom Fabrício, e ser apenas Fabrício. Entende? – retirou as pipocas do microondas.
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Família Cassarano (por Marco Febrini) (Sem revisão)
AbenteuerTrês amigos comuns se encontram no meio de algo mais perigoso do que poderiam imaginar. Em uma noite um filme de Máfia perturba suas mentes adolescentes, e eles decidem brincar com o perigo. Decidem criar sua própria Família Mafiosa. Nessa história...