operação: pegue o porco!

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As caras e bocas da minha família foi uma das coisas mais estranhas e vergonhosas que presenciei esse ano.

Um grupo consideravelmente grande de pessoas encarando Eris, não se dando o mínimo trabalho de tratá-lo como uma pessoa normal como todos nós aqui.

Normal sim, apenas um pouco mais exagerado que o resto de nós em alguns aspectos.

Exageradamente alto, exageradamente branco, com um cabelo exageradamente claro e com um óculos de armação exageradamente quadrada, o que não combinava nem um pouco com os traços finos de seu rosto.

— Bem vinda de volta. — Meu pai foi o primeiro a quebrar o silêncio daquela sala. Ele se aproximou de mim e beijou minha testa, depois se virou para meu chefe sorrindo. — Sou o Jorge, pai da Maria Tereza. — Eris largou a mala no chão e segurou a mão estendida do meu pai.

— Prazer em conhecê-lo.

— Igualmente. A Tereza fala muito de você.

— Ela fala?

Eu falo, mas em 50% das vezes não é por uma boa causa.

Como daquela vez em que meu avô paterno viajou pra Bh no meu aniversário pra me dar uma bota de couro de jacaré de presente. Eu a usei várias vezes, mas Eris parecia não se acostumar com ela de jeito nenhum, insistindo em encará-la como se fosse um bicho de sete cabeças, mas ela não era, e ainda por cima era imitação de couro de jacaré, nem couro real era!

Eu e meu pai trocamos um olhar cúmplice.

— Sim, ela diz que é um homem generoso.

Bom, isso era verdade também, mas Eris não precisava ficar sabendo.

— Vocês acordaram cedo e imagino que nem almoçaram. Vanessa os leve para os quartos, por favor.

— Claro. — Minha irmã piscou pra mim e nós a seguimos pelos corredores. — Tereza, você vai ficar comigo como nos velhos tempos.

— Perfeito. — Brinquei, na verdade Vanessa e eu sempre ficávamos conversando fiado durante a noite até pegarmos no sono.

Meu Deus... eu senti tanta falta da minha irmã e de todas as besteiras que fazíamos – mesmo sendo duas mulheres adultas.

Vanessa abriu a porta de um dos quartos, aquele, assim como o meu, possuía beliches, mas especificamente aquele quarto era para quem viesse de fora dormir. Muitas pessoas moram nesta casa, e ela sempre estava cheia de amigos e outros parentes que resolviam nos visitar.

Sempre cabia mais um na casa dos meus avós, foi por isso que depois que eu nasci, meus pais voltaram para cá. Meu pai viajava muito a trabalho e estar perto dos meus avós fazia com que minha mãe se sentisse menos sozinha, e ainda tinha ajuda para cuidar das duas filhas pequenas.

— Você pode escolher entre o beliche de cima e o debaixo. Fique à vontade. — Eris concordou com apenas um aceno de cabeça. — Vamos. — Ela sussurra para mim e deixamos Eris sozinho.

Um sorriso cresceu em meus lábios assim que abri a porta do meu antigo quarto, o qual desde sempre compartilhei com a Vanessa. Estava praticamente igual. Ela não tirou nenhuma das minhas decorações do lugar, nem mesmo um poster antigo em tamanho real do MAGIC! ao lado do guarda-roupa. Me lembro como se fosse ontem quando apareci com aquilo, minha avó tinha achado uma gracinha, já meu avô, uma perca de tempo. Minha mãe não falou nada e meu pai me ajudou a colocá-lo no lugar, não sem antes rir da minha cara.

— Deixou tudo intacto.

— Eu gosto da decoração... Mas senti sua falta.

— Eu também senti a sua.

𝐑𝐚𝐢́𝐳𝐞𝐬 𝐚𝐦𝐚𝐫𝐠𝐚𝐬, 𝐚𝐦𝐨𝐫𝐞𝐬 𝐝𝐨𝐜𝐞𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora