querido diário, acho que me apaixonei

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Ter Eris tão perto durante aqueles dias me fez questionar se trouxemos o homem certo. Por que aquele cara, que topava todas as péssimas idéias de Marcelo, que tinha fisgado a atenção dos meus gêmeos cacheadinhos e que nos enchia de elogios culinários não parecia ser real.

— E então Eris. — Minha avó estava com um largo sorriso. — Não nos disse se é casado, se é solteiro…

Meus olhos, de repente, quase pularam para fora.

— É mesmo. — Concordou minha mãe.
Eris passou uma mão pelas ondas loiras e compridas de seu cabelo. Sem dúvida parecia muito melhor do que quando os penteava para trás.

— Sou solteiro. — O refrigerante pareceu mais difícil de engolir e tive vontade de tossir. Péssimo timing.

— Oh, sério? Mas quantos anos tem?

— Vinte e nove.

— É uma boa idade para arrumar um casamento, não acha?

— Mãe, não está sendo invasiva demais com essas perguntas? — Ela olhou de mim para Eris, como se fizesse a mesma pergunta. Meu chefe deu de ombros.

— Não me importo com esse tipo de conversa. Não acho que tenha idade certa para o casamento, apesar de eu realmente ter vontade de me casar antes dos trinta.

— Então… O que lhe falta para finalmente se casar? — Minha irmã pergunta.

— Encontrar a mulher certa.

— Qual é o seu tipo? — A vontade que eu tinha era de sair correndo daquele lugar e ir me esconder com os porcos no chiqueiro, mas minha bunda parecia colada na cadeira com algum tipo de “cola psicológica”.

— Acho que uma mulher sincera. Que saiba conversar sobre assuntos profundos, mas que tenha um bom senso de humor. A aparência é importante, mas eu não tenho um tipo específico.

Eu não sabia se ele estava sendo sincero - apesar de parecer. Ele não mencionou nenhum padrão estético, apesar de algo em mim acreditar que foi mais inteligente não citar nenhum, já que éramos todos negros, de estatura alta e a casa onde morávamos mais parecia uma roça.

Senti que Eris não estava sendo completamente sincero, e aquilo estava me… incomodando?

Por quê eu me importava? Por que? Por que? Por que?

Finalmente consegui sair da sala de jantar e fui para fora de casa. Me sentei na beira da rua respirando fundo, como se eu fosse encontrar no oxigênio alguma resposta para minha inquietação. Fiquei ali por alguns minutos e acabei me distraindo com uns garotos soltando pipa.

— Espero que aquilo ali não tenha cerol.

— Até porque é proibido o uso de cerol. — Uma voz respondeu atrás de mim.

— É exatamente por… —  Girei a cabeça lentamente e encontrei Eris do meu lado. Ele se sentou e tentei não pensar nas paranoias de poucos minutos atrás.

— Sabe o que eu estava pensando? —  Eu nunca soube, e acho que nunca serei capaz de saber também.

— Em que?

— Nos vizinhos lobisomens da sua avó. — Aquilo me arrancou uma risada confusa.

— Você é esquisito. —  Disparei.

— E você é esquisita. — Ele não jogou de volta o insulto, parecia mais como uma observação.

— Sério?

— Sim. Acho que é a mulher mais esquisita que já vi em toda minha vida.

— Considerando que você é meio velho... É, me sinto única agora.

𝐑𝐚𝐢́𝐳𝐞𝐬 𝐚𝐦𝐚𝐫𝐠𝐚𝐬, 𝐚𝐦𝐨𝐫𝐞𝐬 𝐝𝐨𝐜𝐞𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora