rio doce

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“Acreditaria se eu dissesse que Eris se apaixonou pela comida daqui?”

“Com certeza não”

“Pois acredite, foi exatamente o que aconteceu”

Se nem Fabi acreditava nisso, imagina eu, que vi e ouvi aquilo saindo da boca do próprio Eris.

Eu poderia dizer que ele estava se esforçando muito, mas muito mesmo para comer a comida e que provavelmente ele vomitava tudo quando não estávamos por perto. Mas Eris ia gostar mesmo de sofrer se fizesse isto, pois o tanto que ele comia a cada refeição se realmente a odiasse era praticamente autotortura.

Eu não fazia ideia de quantas calorias por refeição ele deveria ingerir para continuar em forma, por que ele comia muito. E quando digo muito quero dizer belos pratos de pedreiro.

Acho que nem preciso dizer que ele já ganhou o coração da minha vó.

Do café ao jantar, Eris jamais pulava uma refeição ou se esquecia de elogiar quem a fez. Estou começando a achar que o problema dele é comigo. Mas hoje tirarei a prova.

Esperei pacientemente as pamonhas esfriarem naquela tarde. Fiz muitas delas. Minha família já estava vindo para o café da tarde e Eris vinha conversando com meu primo. Eu conseguia ouvir da cozinha Marcelo contando para meu chefe sobre o Rio Doce que ficava além da estação de trem, e no quão bom era o clima lá por aquele pedaço.

Levei a travessa pesada para a mesa e a coloquei bem no centro.

— Bom apetite.

Meus irmãos atacaram a travessa primeiro, mas meu olhar estava firme na reação de Eris. Ele encarava o quitute enrolado na palha de milho com curiosidade ao mesmo tempo que parecia receoso do que estava por vir. Então, finalmente ele pega uma, desenrola devagar e dá a primeira mordida.

Quero ver ele fazer careta agora na frente de todo mundo!

— O que achou? — Segurei bem o veneno no tom da voz. Eris me olhou. Então comeu outro pedaço. E outro, e outro, e outro. Arregalei os olhos com a cena.

— Acho que foi a melhor coisa que já comi desde que vim pra cá.

— Uai.

Não é possível.

— Por que a surpresa? Você sabe que cozinha bem. — Vanessa indaga.

— Atoa, atoa... — Dei uma risadinha um pouco forçada. Só um pouquinho.

— Eris? — Meu avô o chamou.

— Sim?

Meu avô apertou o olhar, como se estivesse se esforçando para sua visão ficar melhor.

— Disse que é nascido e crescido na capital, certo? Tem certeza de que nunca veio para cá?

— Certeza absoluta, senhor.

— O Senhor está no céu. Não precisa ser tão educado. — Eris sorriu, concordando.

— Mas por que fez essa pergunta? — Minha vó se virou para o marido.

— Esse rapaz me lembra alguém... Mas não consigo me lembrar de quem.

Preto, você deve estar se confundindo.

Bebi tanto café quanto aguentei e comi tanta pamonha que até fiquei sonolenta. Poucas horas depois alguém me cutucou, me despertando do meu delicioso sono pós lanche.

— Hum...

— Quer vir com a gente?

— Na onde?

— Rio. —  Abri um olho.

𝐑𝐚𝐢́𝐳𝐞𝐬 𝐚𝐦𝐚𝐫𝐠𝐚𝐬, 𝐚𝐦𝐨𝐫𝐞𝐬 𝐝𝐨𝐜𝐞𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora