reencontros

49 12 0
                                    

— Eu não quero! — A criança chorosa com um timbre vocal assustadoramente forte se agarrou na porta da sala e eu a puxava pela cintura para que a soltasse.

Naquela altura do campeonato eu já tinha falado umas 400 vezes que a anestesia não iria doer mais do que uma picadinha de formiga, o que como é possível ver, não adiantou nada.

Vários dias se passaram desde o nosso retorno a Bh. Eu conversei com a Fabi e ela disse que, gostando ou não, Eris tinha fisgado meu coração. Eu sabia daquilo, tinha total noção, mas… o problema era que ele não sentia o mesmo que eu. Eu até pensei que tinha chances, mas depois de entender o único motivo que o fez viajar conosco já quebrou meu coração. Por isso decidi lutar e interromper esse sentimento, antes que seja tarde de mais.

— Arthur, por favor, larga essa porta. — Pedi já cansada. A mãe teve a coragem de sair e deixar o garotinho sob a minha supervisão. Eu sou assistente odontológica, não babá! E apesar de gostar muito de crianças eu sou madura o suficiente pra afirmar que foi uma completa irresponsabilidade da mãe nos deixar sozinhos com o filho sabendo que ele tinha medo de agulhas. — Vamos logo Arthur!

Ele parecia um carrapato grudado no pelo de um cachorro molhado.

Eris atravessou a sala e fez um gesto para que eu soltasse o garoto. Num movimento muito rápido jogou o garoto sobre os ombros, me segurei para não chamar sua atenção diante de tal atitude, mas não deixei de ficar nervosa.

Ele iria assustá-lo ainda mais e não ia melhorar o nosso lado.

Eris coloca Arthur no lugar certo mais uma vez.

— Chefe… — Resmunguei.

— Arthur, tudo bem ter medo de agulhas, todo mundo tem medo de alguma coisa. Mas você vai mesmo fazer essa desfeita de ficar feito um bebe chorão na frente daquela moça bonita ali?

Por um momento esqueci como se respirava.

Pisquei algumas vezes, perdida. Arthur olha para mim fungando, depois enxuga o rosto.

Eris tinha acabado de me elogiar enquanto consolava uma criança?
Sequei as mãos suadas no uniforme antes de seguir com meu trabalho.

♥︎♥︎♥︎

— Tá me dizendo que ficou afobada por que o calopsita fez um comentário estilo tiozão de meia-idade pra um garoto parar de pirraça?

— Exatamente.

Deitada no meu sofá, de pijamas, eu fazia da minha melhor amiga uma psicóloga. Fabiana estava com uma máscara de argila verde e uma touca de cetim cor prata, facilmente seria confundida com algum extraterrestre.

— Tem algo que eu ainda não entendi nessa história. — Voou do seu sofá e sentou ao lado das minhas pernas.  — Qual o problema em você estar afim dele? Posso imaginar que é estranho sentir esse tipo de coisa pelo próprio chefe, ainda mais ele sendo um cara completamente sem expressões e você sendo um amor de pessoa… Mas e aí? Os dois são jovens, e qualquer pessoa está propensa a ter uma quedinha por, literalmente, qualquer pessoa.

— Eu cheguei a pensar assim, mas…

— Mas o que? — Dei um longo suspiro.

— A questão Fabi, foi que pelo fato de Eris ter ido conosco e ter se revelado estranhamente sociável e simpático com todos, inclusive comigo, eu acabei percebendo que ele faz meu tipo e… —  Apertei meus olhos — Eu comecei a imaginar várias possibilidades.

— E o que tem de errado nisso? Se ele teve uma atitude tão oposta do que ele é no dia a dia, significa que ele também tá a fim, não? — Sorrio sem graça.

𝐑𝐚𝐢́𝐳𝐞𝐬 𝐚𝐦𝐚𝐫𝐠𝐚𝐬, 𝐚𝐦𝐨𝐫𝐞𝐬 𝐝𝐨𝐜𝐞𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora