𝖈𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 19

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𝕬𝖒𝖇𝖊𝖗

uma semana se passou desde o último ocorrido.

prometi a mim mesma que as lágrimas que derramei no enterro de Lucas, seriam as últimas.
poderia pedir que abrissem uma nova cova ao lado de Lucas, pois a antiga Amber estava morta.

o relógio na parede parecia cada vez mais torto por conta de toda bebida que eu havia ingerido, mas consegui ver os ponteiros de maneira nítida por um instante, era quase meia noite.
olhei novamente para a frente, ajeitando o taco em minhas mãos e tentando me concentrar nas bolas de sinuca em minha frente.

-se não consegue enxergar a bola branca que está bem na sua frente, talvez seja hora de guardar a bebida e ir dormir. (Saimon disse rindo, enquanto dava mais um gole em seu copo de whisky)

-devo estar bêbada mesmo, por um segundo pensei que a bola em minha frente fosse sua cabeça brilhante! (sorri apontando o taco para sua careca)

-haha muito engraçado, Amber. (ele revirou os olhos) -saiba que as gatinhas amam um carequinha!

-sorte sua então, que tal baixar o Tinder? (ri de escárnio)

-que tal ir dormir antes que vomite na minha bela mesa de sinuca? (ele disse puxando o taco da minha mão)

-dormir? (soltei um ar pelo nariz) -e sonhar com aquele desgraçado? não, obrigada.

-desse jeito não vai ter forças para lutar contra ele.

suspirei, me sentindo uma adolescente incompreendida, sabia que Saimon estava certo mas não queria concordar com ele.
então, peguei meu casaco e desci as escadas.
quando cheguei até a rua, pensei em pegar o carro, mas também não era idiota ao ponto de dirigir naquele estado.

então, joguei o casaco nos ombros e sai caminhando pela rua.
é incrível até onde uma pessoa pode ir com muito álcool no sangue e uma enorme raiva interior.
olhei para a frente, me deparando com o clube onde o pessoal do night crows costumava ir.
acho que andei mais de duas horas, mas pareceram apenas vinte minutos.

pensei: "só pode ser brincadeira" quando vi o Colin sair pelas portas da frente.

nossos olhares se cruzaram, meus olhos continuavam frios e caídos por conta da bebida, já os de Colin estavam arregalados, logo pareciam soltar fumaça, como se ele estivesse vendo a pessoa que mais odiava.

Kaleb ainda tinha todos seus amigos ao seu lado, mas a única pessoa que eu tinha, havia sido tirada de mim.
cerrei os punhos, levando uma de minhas mãos até a arma que havia na minha cintura.
Colin começou a andar na minha direção, então apontei a arma em sua direção, ele parou abruptamente, estava a uns 10 metros de mim.

sorri, colocando o dedo no gatilho, estava na hora de iniciar minha vingança.
um carro vermelho em alta velocidade me tirou dos meus pensamentos, quando parou bem na minha frente.

-sabia que iria fazer merda. (Saimon disse abrindo a porta do motorista e me puxando para dentro do carro)

ele acelerou o carro, nos levando para longe do clube e de Colin.

-qual o seu problema? eu iria acabar com ele! (bati os pés irritada)

-ah, que ótimo plano! (ele exclamou irritado) -com o barulho do tiro os outros iriam vir para fora e te seguir, sem contar que agora Kaleb vai saber que você voltou para cá, inclusive para bem perto dele.

-eu... (parei para analisar suas palavras, realmente havia feito merda) -não pensei direito.

-pois comece a pensar, Amber! (ele bateu no volante) -eu estou botando minha vida em risco, achei que você já fosse uma mulher mas ainda age como uma adolescente imatura. tem que pensar mais antes de agir, talvez se houvesse pensado que Kaleb estava atrás de vocês e que deveriam continuar dirigindo ao invés de parar para dormir, Lucas ainda estaria vivo!

meu coração se apertou e aquelas palavras se infiltraram em meu cérebro.
ele estava certo, era óbvio.

me encolhi envergonhada, querendo ter feito tudo diferente, era tudo minha culpa.
não falamos mais nada pelo restante do trajeto até em casa, quando chegamos Saimon passou primeiro pela porta, quando ia subir as escadas, minha voz o fez parar.

-eu sinto muito, vou melhorar. (eu disse com convicção, o encarando com determinação)

-estou confiando em você, Amber.

ele disse antes de se virar e voltar a subir as escadas cor caramelo.

sorri, tentando disfarçar a dor que me dava tanta vontade de chorar.
chega de lágrimas.

• • • • • • • • • • • • • • • •

o dia havia amanhecido de maneira incrível, Saimon e eu estávamos tomando um café enquanto conversarmos entusiasmados.

finalmente os homens que Saimon tinha fora do país, encontraram quem nós tanto procurávamos.

-arrisco dizer que até a noite podemos fazer um brinde com o whisky antigo e doce que você tanto gosta. (Saimon sorriu virando sua xícara de café)

-me parece ótimo, prometo não colocar os pés para fora após me embriagar! (sorri levantando as mãos em rendição)

-é melhor mesmo, pois é capaz de Kaleb estar andando com facas, armas, fuzis e canhões de lá para cá atrás você.

-eu daria tudo para ver a sua cara quando receber a notícia! (bufei frustrada)

-vai ser algo como... (ele disse antes de começar a fazer as caretas mais esquisitas e engraçadas que eu já havia visto)

-ah, não... acho que vai ser mais parecido com... (então, comecei a fazer caretas tão péssimas quanto as de Saimon)

começamos a rir sem parar, quase nos engasgando com nossas panquecas.

Kaleb me tirou um amigo, mas a vida me deu outro, e eu não deixaria que ele também fosse tirado de mim.

as horas se passaram, a tarde foi ensolarada e sem nuvens no céu.
logo a noite chegou, o céu estrelado me tirou um sorriso, estava lindo.
estava na varanda quando vi Saimon se aproximar, o sorriso estampado em seu rosto me fez sorrir também.

-já estão com eles e nesse momento, Kaleb deve estar recebendo a notícia. (ele sentou ao meu lado com uma garrafa de whisky e dois copos em suas mãos)

-mas estão bem, certo? (perguntei cruzando os braços)

-é claro, fiz como combinamos. (ele se sentou em uma cadeira ao meu lado) -eles estão bem, mas Kaleb não precisa saber disso.

suspirei me virando para a frente.
Saimon estendeu o copo para mim, com um sorriso acolhedor.

-chega de ser a presa, agora você é o caçador. (ele disse despejando o conteúdo da garrafa em meu copo)

-um brinde a nossa batalha, que está apenas começando.

então, fizemos um brinde e demos um longo gole em nossas bebidas.

um brinde, a história começa agora.

Entre máfiasOnde histórias criam vida. Descubra agora