Capítulo 10

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– Qual seu nome completo? – Dorian o perguntou, no estacionamento do hospital, após ele ter saído do quarto de Mick.

– Você já deve saber disso, não é?

– Sou eu quem faço as perguntas – Dorian respondeu, firmemente. Amara ao seu lado tocou o seu ombro, como se para acalmá-lo, mas o gesto não funcionou. Dorian parecia prestes a explodir de raiva a qualquer momento.

– Noora Söderberg.

– Quantos anos você tem?

– Dezenove.

– Seu pai se chama Andersson Söderberg?

Noora jogou o peso do corpo de um pé para o outro, respirando fundo para responder àquela pergunta.

– Sim.

– Você sabia que ele é responsável pelos protestos que estão ocorrendo atualmente? Protestos prejudiciais para a população.

– Não – Noora revirou os olhos. – Olha, meu pai nunca foi muito presente na minha vida. Fazem meses que ele não vem me visitar. A única coisa que nos mantém em contato ultimamente é o dinheiro que ele me manda todos os meses pra ajudar a pagar o aluguel do lugar onde moro.

– Quando foi a última vez que você o viu?

– Acho que... Seis meses atrás, talvez. Faz meses.

Dorian ficou em silêncio por alguns segundos, desviando o olhar para Amara. Ela parecia acreditar em cada uma de suas respostas, embora Dorian ainda estivesse fazendo uma cara de quem não acreditava em uma única palavra que tinha saído da sua boca.

– Você entrou em contato com seu pai nos últimos dias?

– Não. Ele só me enviou o dinheiro, como sempre.

– Qual a possibilidade dele ter acesso ao seu celular de alguma forma?

– Nula – Noora respondeu prontamente. – Não tem como isso ter acontecido.

– Tudo bem, Noora – Amara o interrompeu, apertando seu ombro. Ela soltou um longo suspiro, mas sua presença ali o deixava menos nervoso. – Foi um dia cansativo para todos nós. Tenho certeza que você precisa descansar um pouco. Obrigada por responder as perguntas, foi de grande ajuda.

**

Noora estava correndo.

Ele não sabia para onde, ou por quanto tempo continuou correndo, mas simplesmente não conseguia parar. A sola dos seus pés doía mas era uma sensação quase reconfortante em comparação ao peso descompensado e ardido que havia tomado conta de todo o seu coração. Ele tentou impedir — em vão — que lágrimas escorressem dos seus olhos, porém, de repente, um trilhão de coisas o atingiram de uma única vez e foi naquele instante que reparou toda a merda que vinha aguentando nos últimos dias.

E, o pior de tudo — embora não quisesse admitir — era o fato de sentir a sensação de que havia sido traído por Mick. Mick havia o deixado falar sobre sua madrasta por todo aquele tempo, sem nem sequer cogitar citar que ela poderia estar morta? Será que Mick havia se aproximado dele com o propósito de capturar Andersson? Será que tudo o que haviam conversado e vivido naqueles últimos meses não passava de uma grande ilusão?

Parando em um ponto de ônibus, sabe Deus onde — só havia parado de correr quando seus pulmões fisicamente não podiam mais aguentar — lembrou-se de uma conversa que teve com Naomi, há muitos meses:

— Você tem o direito de sentir o que quer que seja que esteja sentindo.

— Sinto que é idiota — respondeu, porque era verdade. Noora sentia-se egoísta quando parava para pensar em seus problemas, principalmente em comparação aos de Naomi: ela Foi abandonada quando criança e foi criada por uma família diferente a cada ano. Em meio a essas mudanças, Naomi revelou que Foi abusada. Ela não entrou em detalhes — o que era totalmente compreensível — mas, desde que tiveram aquela conversa, inevitavelmente percebeu que ela era muito mais forte do que parecia e, apesar de toda a merda que já havia passado, era uma pessoa verdadeiramente boa. E, por essa razão, Noora eventualmente não conseguia controlar os sentimentos de culpa por, de vez em quando, sentir-se tão pressionado pela vida ao ponto de não conseguir sair da cama, sendo que Naomi, que havia passado por algo um milhão de vezes pior, ainda estava ali, lhe ajudando, sorrindo para ele com tanta afeição que o fazia sentia vontade de chorar toda vez que seus olhos se encontravam. — Em comparação a você, meus problemas parecem tão bobos.

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