Capítulo 13

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Uma semana após eles terem se resolvido, Mick estava dormindo. Ele tinha o costume de dormir cedo, como todos os outros soldados. Deixava a luz do banheiro acesa (porque ele tinha um banheiro no próprio quarto, ninguém sabia, mas dizem as más línguas que Dorian lhe presenteou com um banheiro quando Mick disse que se recusava tomar banho nos banheiros públicos) porque tinha um estranho medo do breu total e deixava um copo cheio de água gelada na mesinha ao lado da cama, porque ele sempre acordava perto das três da manhã e precisava tomar algum líquido para conseguir voltar a dormir.

Naturalmente, Mick já havia feito todo o seu ritual do sono e tinha acabado de se deitar. Ele estava feliz, mais feliz do que esteve nas últimas semanas e tranquilo. A sensação de ter resolvido aquele grande conflito com Noora era reconfortante de uma forma que ele nunca achou que algo tão banal poderia ser, mas seria mentira se ele dissesse que não estava aliviado. Mick não queria nunca mais ter uma briga com Noora e, se dependesse dele, jamais teria outra.

Porém, no instante em que ele começou a sentir que perderia a consciência — daquela forma deliciosa e ao mesmo tempo meio assustadora, em que parece que a sua alma começa a sair do corpo e você parece começar a perder o controle dos próprios membros — uma batida tímida na porta o fez pular.

Talvez fosse por conta de todos os traumas que tinha, mas Mick nunca conseguia ser acordado de forma tranquila.

Mick saltou da cama e foi atrás da pistola que mantinha escondida embaixo da cama. Ele não atiraria — a não ser que fosse extremamente necessário — mas daria uma coronhada na pessoa atrás da porta, caso se tratasse de uma ameaça.

Ele aproximou-se da porta, girando a maçaneta. No mesmo instante, levantou a pistola, a segundos de arremessar na pessoa do lado de fora. No entanto, a visão de Noora o faz congelar. E, o garoto, ao ver o que estava prestes a acontecer consigo, leva os braços até a cabeça e solta um grito. Um grito agudo.

— Que merda você está fazendo, Mick?! — Noora grita quando Mick abaixou a arma. O capitão, assustado com a ideia de acordar Dorian, ou pior, os outros soldados, agarra o pulso de Noora, puxando-o para dentro do quarto e fechando a porta com pressa. — Jesus, eu tinha me esquecido do quão paranoico você é.

— Quando você vira capitão de um batalhão de forças secretas do país, a coisa mais sã possível a se fazer é ser paranoico — Mick diz, guardando a arma no mesmo lugar de antes. Em seguida, vira-se para Noora, levantando uma sobrancelha. O garoto estava vestido como todos os outros soldados provavelmente estavam nesse horário: com uma camiseta branca de poliéster e uma calça moletom cinza. O garoto havia começado a desenvolver mais músculos, Mick reparou nos últimos dias, provavelmente por conta do esforço que estava exercendo na cozinha desde que chegou. — O que você está fazendo aqui? Nós temos que acordar daqui algumas horas, pirralho.

Mesmo no escuro, Mick conseguia perceber o tom rosado tomando conta das bochechas de Noora.

— Eu... Não consegui dormir. De novo.

Mick inclinou a cabeça levemente para o lado, tal qual um cachorro curioso.

— De novo?

— Não estou conseguindo dormir bem nos últimos dias. Eu pedi a Amara um remédio e ela me deu, mas acabou e não quero pedir de novo.

— Você andou tomando remédio pra dormir sem prescrição médica? — a voz de Mick soa quase autoritária, mas, quando percebe o que estava fazendo, tenta relaxar e massageia as têmporas. – Aquela mulher...

— Então eu pensei se... Eu poderia escrever — Noora complementa, atraindo a atenção de Mick. O capitão o olha com curiosidade, esperando que ele continue. — Você me disse, há um tempo já, que eu poderia vir até seu quarto escrever, caso eu quisesse. E, sinceramente, acho que preciso disso. Fazem dias que eu não... Que eu não escrevo.

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