DEVORE SEUS INIMIGOS [⚣]

Capítulo 11

Naomi estava estressada ultimamente. Fazia um mês que Noora estava na casa dela e, por algum motivo, ele sentia que sua presença estava começando a se tornar indesejada.

Noora sabia que Naomi era alguém que preferia estar sozinha. Ele sempre soube disso, na verdade. Naomi era noturna, silenciosa e estranhamente parecida com uma coruja. Ela trabalhava melhor à noite em relação às atividades que tinha que fazer da faculdade, escrevia seu projeto melhor à noite e pesquisava melhor à noite. Mas ela detestava fazer aquilo na cama do quarto, com a postura incorreta — Noora já havia escutado gemer de dor nas costas após uma longa sessão de pesquisas — e por isso preferia ficar na sala de estar para fazer o que tinha que fazer. Mas Noora havia roubado seu lugar e fez do sofá sua cama.

Naomi também era alguém cheia de manias: como guardar os copos, talheres e pratos, como dobrar as toalhas, como varrer o chão da maneira "correta", quanto açúcar colocar no café, em quais comidas milho enlatado era aceitável e em quais não. E, apesar de Noora a adorá-la e saber bem dessas pequenas manias da amiga, em certo ponto após aqueles trinta dias, as diferenças entre eles começaram a se tornar cada vez maiores.

Noora sempre teve a impressão de que poderia morar com qualquer pessoa sem problemas e, na maioria das vezes — quando passava uma ou duas semanas na casa de algum amigo por qualquer motivo que fosse — pensava que essa sua teoria estaria correta. O problema é que, após um tempo de convivência contínua e diária, coisas que antes não o irritavam sobre Naomi começaram a irritar e ele sentia-se um péssimo amigo por conta disso.

Ela jamais reclamaria da sua presença, jamais admitiria que preferia trabalhar em qualquer lugar que não fosse no quarto, mas Noora a conhecia bem. E, por essa razão — após voltar de outra frustrada entrevista de emprego — ele cometeu um erro que quase lhe custou sua amizade:

— Por que você simplesmente não admite que quer que eu vaze daqui? — , Noora disse para Naomi após ela ter bufado ao entrar na casa. Ele nem sequer havia notado o que havia dito até perceber a figura congelada da amiga na soleira da porta, lhe encarando com os olhos arregalados.

— Como é que é?

— É exatamente isso o que você ouviu, Mi. Você fica bufando toda vez que me vê, como se me detestasse. Por que simplesmente não admite que quer que eu vá embora?

Naomi demorou para responder, mas, quando ela o fez, suas palavras esfaquearam o coração de Noora:

— E você iria para onde? Iria virar morador de rua? Se eu te expulsasse daqui, o que diabos você iria fazer, Noora!?

— Não se force a aturar minha presença simplesmente porque se sentiria mal demais para me mandar para fora daqui. Você já parece ter se arrependido por ter me oferecido ajuda.

Naomi estava vermelha. Tão vermelha que Noora temeu que fumaça começasse a sair dos seus ouvidos, mas, quando ela fechou os olhos e respirou fundo, Noora pensou que tudo se acalmaria. Ele já podia sentir as gavinhas de culpa tomado conta do seu coração e o pedido de desculpas estava na ponta da sua língua quando a voz tão afiada quanto uma navalha de Naomi encheu o cômodo:

— Então vai, Noora. Se está tão ruim pra você ficar aqui, ter que lidar com a minha rotina e as minhas coisas, se está se sentindo tão mal por ter que admitir uma vez na vida que precisa de alguém além de si próprio, vá.

As palavras cortantes da sua amiga encontraram o caminho certeiro até seu coração. De um minuto para o outro, ele pensou que desabaria. Ali, estava perdendo outra pessoa pela própria idiotice, pela própria imaturidade de lidar com as coisas.

Naomi parecia mortalmente séria com o que acabara de dizer e de repente a sensação de humilhação que encheu Noora foi tanta que ele sentiu os olhos começando a arder. Ele levantou-se do sofá de supetão e só pegou o celular antes de sair do apartamento de Naomi, batendo a porta.