Capítulo 12

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Noora tinha que admitir: Mick de fato trabalha muito. Nos últimos dias em que passou no regimento, esbarrou pouquíssimas vezes com o Capitão e, nessas poucas vezes, ele sempre estava acompanhado de Dorian, que parecia mais com um gavião protetor em suas costas. A visão incomodava Noora mais do que ele gostaria de admitir e, por essa razão, começou a nutrir o maldoso costume de se aproximar de Jordan mais do que provavelmente seria necessário, principalmente na presença de Mick.

Noora, que agora estava responsável por ajudar a auxiliar os outros soldados na preparação da comida, era um dos últimos a tomar banho. Jordan decidiu esperá-lo, apenas porque não queria parar de falar sobre uma partida de futebol que havia ouvido mais cedo no rádio, mas, no mesmo instante, Mick apareceu para pegar sua comida.

Sua expressão azedou no instante em que ele colocou os olhos em Jordan.

— O que você está fazendo aqui? — a pergunta foi dirigida a Jordan enquanto Noora derramava aquela gororoba na bandeja de Mick. — Já devia ter tomado banho, soldado.

— Estou esperando Noora — foi tudo o que respondeu e o corpo do escritor congelou. Ele finalmente tomou coragem de levantar os olhos e encontrar o olhar de Mick; este último já fixava sua atenção em Noora, seus olhos tão gelados que ele pensou em abrir a boca para dizer que tudo aquilo era um mal entendido quando calou-se, percebendo que aquilo simplesmente não era da conta de Mick. — Somos novatos, então eu pensei-

— Pensou errado. Vá imediatamente tomar banho a não ser que você queira ficar a noite inteira dando voltas no regimento — Mick responde, desviando sua atenção para Jordan. O pobre soldado congela e oferece um olhar a Noora, como se lhe pedisse desculpas, antes de sair. — Vejo que você já se enturmou — o capitão continuou.

Noora deu de ombros, pegando a bandeja de outro soldado para jogar mais daquela coisa branca e melada.

— Você está atrapalhando a fila, capitão — foi tudo o que Noora se dispôs a responder, olhando uma última vez para Mick. O rosto do capitão fica vermelho quando ele cora de vergonha, virando-se apressadamente para a mesa que costumava sentar no refeitório. Dorian abre um espaço para ele sentar-se, movimento que não passa despercebido por Noora.

Ele sente-se no colégio mais uma vez, onde existem as famosas panelinhas e você se senta com quem se dá melhor. Noora sente um pouco de falta dessa época e de como as coisas eram razoavelmente mais fáceis. O 'eu' mais novo dele jamais imaginaria que ele acabaria em uma situação como aquela: jogando comida na bandeja de soldados enquanto analisa cada movimento do capitão de um batalhão por quem acabou cometendo o erro de se apaixonar.

Soltando um suspiro, Noora permite que seu cérebro pense em outras coisas, tentando se distanciar da ideia de admitir seus sentimentos por Mick.

**

Sua rotina começava bem cedo: ele tinha que acordar às seis da manhã, no momento em que as sirenes tocavam e o restante dos soldados também levantavam. Noora tomava um banho — normalmente gelado — e corria para a cozinha. Alguns homens já estavam lá e preparavam a maior parte da comida, deixando um sentimento de culpa no peito de Noora. No fim, ele tentava recompensar servindo o máximo de soldados que podia e ficava até mais tarde para limpar a cozinha.

Em seguida, chorava.

Ele achou um canto da brigada que raramente era visitada. Ficava atrás da construção de tijolos do escritório de Dorian e de Mick, contra a cerca de arame farpado. Aquela parte do regimento não tinha guardas, por algum motivo, e foi o único lugar que Noora conseguiu encontrar para poder chorar em paz, já que, agora, nem mesmo tomar banho sozinho ele podia de fato.

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