Capítulo 7

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Noora passou por uma pichação escrita "acredite em si mesmo" enquanto voltava para casa de ônibus, que fez seu lado emocionalmente instável nos últimos querer chorar, porque, porcaria, ele não acreditava em si mesmo como aquela pichação dizia para o fazer (e na verdade só não chorou porque achou que seria muito patético fazer isso no meio de um ônibus lotado). Além disso, como se para aumentar mais ainda sua sobrecarga mental, o aplicativo de notícias do seu celular continuou lhe enviando notificações sobre mais um protesto organizado pelo Nêmesis, que havia saído do controle e ocasionando uma briga entre civis e policiais, que acabou ferindo algumas crianças e pessoas que não estavam ali com aquele propósito no processo.

Ele não estava confiante de que conseguiria a vaga contudo, mesmo assim, quando chegasse em casa, começaria a se arrumar para o próximo expediente, mas, assim que chegou, Noora parou na frente loft e ficou quase cinco minutos sem mover um único músculo.

Havia um bilhete. Ele levantou o braço e o arrancou da fita adesiva que o prendia na porta.

'Oi, Noora. É o Bennet. Só vim te avisar que estou colocando o loft para alugar novamente. Minha esposa descobriu que está grávida e eu realmente preciso do dinheiro e consigo entender sua situação, mas infelizmente preciso pensar de forma egoísta. Sinto muito. Você tem uma semana para retirar suas coisas do loft'.

Era isso.

A parte de trás dos seus joelhos despencou e ele deslizou até o chão do corredor e simplesmente começou a chorar com a cabeça entre os joelhos. Bennet o havia expulsado da própria casa. Casa na qual Noora estava tentando fazer de tudo para manter.

Ele chorou e chorou e chorou por mais algum tempo, embora não parecesse um choro de verdade. Noora ficou olhando para os sapatos enquanto lágrimas de desespero escapavam pelos seus olhos. Ele nem podia os sentir ardendo e só voltou para a realidade quando escutou um baque vindo do final do corredor, como se alguém tivesse acabado de entrar.

Os passos se aproximaram lentamente, quase como se estivesse com receio. Noora devia ter assustado a pobre pessoa que havia acabado de chegar em casa mas ele realmente não dava a mínima. Ele havia acabado de virar um sem teto. Sem teto com um milhão de mobílias para jogar fora, um cartão de crédito estourado porque ele havia pegado algumas centenas para pagar a eletricidade e água. E era isso.

Noora se desconcentrou do som dos passos porque achou que a pessoa logo seguiria o próprio caminho mas, quando sentiu a presença de um corpo ao seu lado, levantou o rosto do pequeno casulo que havia criado. Ele só não caiu de susto porque já estava no chão.

— O que você está fazendo aqui?

— Não era essa reação que eu esperava, mas tudo bem — Mick respondeu, ajoelhando-se ao seu lado, como se fosse a coisa mais normal do mundo. — O que aconteceu?

— Por que você está aqui?

Era dolorosamente patético ser visto naquela situação. Mick ainda estava de farda e provavelmente tinha acabado de sair do quartel. Ele não era de fato muito mais velho do que Noora mas parecia tão bem sucedido que o escritor não pôde deixar de sentir uma pequena pontada de inveja. Não uma daquelas em que você sente vontade de xingar a pessoa por ter algo que você almeja, mas uma daquelas sensações em que a admiração mistura-se com o outro sentimento notavelmente desagradável e forma uma mistura agridoce.

Colocando a cabeça entre os joelhos novamente, Noora forçou os olhos a pararem de soltar água. Ele fechou as pálpebras por alguns segundos, respirando o mais profundamente que podia. Até que, de repente, o mundo inteiro deu um giro e tudo passou a fazer sentido, porque cinco dedos levemente calejados roçaram na nuca de Noora antes de finalmente se juntarem com os fios e massagearem o couro cabeludo.

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