O peso da gata em meu peito me fez abrir os olhos, e logo percebi que o sol invadia o cômodo pelas frestas da cortina, iluminando o ambiente de maneira suave e acolhedora.
Pensei que nosso novo inquilino provavelmente não era uma pessoa diurna, pois o silêncio havia tomado conta dos corredores do sétimo andar, contrastando completamente com a agitação da noite anterior. Puxei meu celular e vi algumas mensagens de Alice, que eu havia esquecido completamente.
Ela me enviou um áudio, extremamente animado, me convidando pela milésima vez para sair. Afinal, é sábado, e para ela, essa é a justificativa perfeita para irmos a lugares insalubres e nos embriagarmos com bebidas de procedência duvidosa. Seu convite, que soava quase como uma ameaça, me fez esboçar um sorriso. Respondi com uma mensagem que deixava minha presença em aberto, o que, certamente, resultaria em um retorno cheio de xingamentos.
Alimentei o ser peludo que já reclamava com a vasilha vazia e fui preparar um café. Em menos de cinco minutos, o aroma tomou conta do lugar, e eu agradeci por não precisar ler nenhuma jurisprudência, desfrutando da liberdade de fazer absolutamente nada naquela manhã tranquila.
Depois de me vestir, decidi ir ao mercado. Ao sair de casa, notei que a porta ao lado estava escancarada. A curiosidade que vive dentro de mim me forçou a olhar para dentro do apartamento. Havia muitas caixas espalhadas, mas grande parte do imóvel já estava decorada de maneira rústica e acolhedora. Não queria parecer uma estranha invadindo a privacidade alheia, então desviei o olhar para frente e me deparei com uma mulher. Seus cabelos cacheados e escuros estavam amarrados em um coque mal feito, suas roupas largas manchadas de tinta, e seus olhos negros me fitavam com seriedade, como se me reprimissem por estar observando algo que não me dizia respeito.
Aquela mulher exalava uma aura de mistério e por um momento, me perguntei se ela era artista. Ela ainda me observava com uma expressão que misturava curiosidade e reprovação. Eu, um tanto envergonhada, desviei o olhar rapidamente e entrei no elevador que como uma salvação, abriu as portas para que eu pudesse fugir daquela situação em que me coloquei.
Enquanto caminhava em direção ao mercado, o cheiro do café ainda pairava em minha mente, misturado à ideia de que talvez aquela mulher fosse uma artista ou uma escritora, alguém que buscava inspiração em meio à bagunça. O pensamento me fez sorrir; talvez eu estivesse apenas projetando minhas próprias aspirações nela.
Chegando ao mercado, me perdi em meio às prateleiras, pensando se deveria me apresentar à nova vizinha e me desculpar por ter sido invasiva. A ideia me animou, mas a lembrança do seu olhar sério me fez hesitar. Enquanto escolhia algumas frutas, a mensagem de Alice voltou à minha mente, e percebi que, por mais que quisesse conhecer melhor a mulher do apartamento ao lado, a perspectiva de uma noite de diversão com minha amiga era igualmente atraente.
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O DESEJO DE DAKOTA
RomanceAs noites sempre foram silenciosas, envoltas em uma calma que quase parecia mágica. Mas tudo se transformou quando ela se mudou para o apartamento ao lado. As paredes finas do prédio não eram apenas um obstáculo físico; elas transformaram-se em um v...