Capítulo 4 - Desejo desconhecido

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Dançamos, bebemos e rimos juntos, mas agora me encontro sentada sozinha no bar, segurando a minha milésima taça de gin. A última vez que vi Alice, ela estava se entregando a um beijo apaixonado com uma morena de saltos altíssimos. Liv e Miguel desapareceram após uma crise de ciúmes da Liv, e eu, exausta de tanto dançar, não faço ideia de como sair desse lugar. Pensei que poderia contar com uma carona para casa, mas percebo que me enganei.

— Está sozinha? — grita Liv, aparecendo de surpresa atrás de mim.

Balanço a cabeça em sinal de confirmação e dou um gole na bebida, sentindo o líquido gelado descer pela garganta. Não esperava que ela ainda estivesse por aqui, considerando os últimos acontecimentos da noite.

— Alice pediu que eu te desse uma carona para casa. Ela tem outros planos agora — diz, revirando os olhos em direção ao canto da boate, onde vejo minha amiga ainda se perdendo nos lábios da morena.

— E Miguel? — pergunto, apenas por curiosidade, mas recebo o silêncio como resposta, um vazio que fala mais do que palavras.

Liv me puxa com firmeza, fazendo-me levantar, e me guia em direção à saída. O som da música se torna cada vez mais distante, enquanto a realidade do mundo lá fora começa a se infiltrar na minha mente. O que será que aconteceu?

O vento gelado toca minha pele, provocando um arrepio que logo é interrompido quando sou puxada para dentro do carro. Ela dirige com seriedade, e o silêncio entre nós se torna um pouco constrangedor.

— Você está bem? — pergunto, hesitando, temendo me intrometer em algo que não me diz respeito. Não conversamos muito, e não sei exatamente o motivo, mas suspeito que tenha a ver com minha relação próxima com Alice.

— Ah, só uma briga de casal. Você entende, né?

Sinceramente, não entendo.

— Claro, é normal. — respondo, tentando soar compreensiva, e ela me lança um sorriso que parece aliviar um pouco a tensão.

Ela estaciona o carro em frente ao prédio e nos despedimos rapidamente. Assim que me afasto, vejo o carro acelerar, desaparecendo na noite. Espero que ela fique bem, independentemente do que realmente esteja acontecendo.

Ainda tonta por causa da bebida, demoro a entrar em casa. Após uma batalha longa e frustrante com a chave e a maçaneta, finalmente consigo abrir a porta.

Pego Sushi no colo, e ela me observa com um olhar sério, como se estivesse me repreendendo por ter chegado em casa bêbada e por tê-la deixado sozinha. Por que os gatos têm essa capacidade de nos julgar?

De repente, um grito agudo invade meus ouvidos, fazendo meu coração acelerar. Adentro mais o apartamento e percebo que não são gritos de dor ou sofrimento, são gemidos que ecoam da minha vizinha. A curiosidade e o constrangimento se misturam em mim, enquanto me pergunto o que está acontecendo do outro lado da parede.

Consigo ouvir nitidamente todas as palavras obscenas e os sons que emanam do apartamento ao lado. Por um instante, fecho os olhos e reflito sobre quanto tempo passou desde que senti o toque de alguém na minha pele ou me permiti experimentar o prazer. Uma onda de nostalgia me invade, mas logo me reprovo por sentir qualquer tipo de emoção ao ouvir o sexo alheio. Por que isso me afeta tanto? É como se o desejo reprimido estivesse se manifestando através das paredes, despertando em mim uma mistura de anseio e culpa que eu não esperava sentir.

Quem é essa mulher que está despertando em mim uma curiosidade tão intensa e uma sensação de culpa?

Aquele breve encontro no corredor não foi suficiente para saciar meu desejo de conhecê-la melhor. Eu, que sempre fui reservada e relutante em me abrir para novas pessoas, me vejo completamente intrigada. O que a trouxe a este lugar? O que ela faz para que eu consiga sentir, mesmo à distância, a tensão palpável que parece pairar no ar? É como se houvesse algo mais profundo por trás de sua presença, algo que me chama e me faz questionar minhas próprias emoções.

Decidi ir direto para o banho, na esperança de me livrar desses desejos. Se ela continuar nesse ritmo, sinto que a noite será interminável, tanto para elas quanto para mim, que estarei aqui, ouvindo cada sussurro que ecoa no ambiente. É como se cada som se tornasse um lembrete de que estou aqui, sozinha, intensificando minha inquietação. Enquanto a água morna escorre pelo meu corpo, tento me distrair, mas a vontade não sai da minha mente.

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O DESEJO DE DAKOTAOnde histórias criam vida. Descubra agora