Capítulo 5 - Som de memórias

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Minha garganta estava seca, meu corpo ardente e minha mente em um turbilhão. Ouvia o gemido intenso que parecia ecoar o êxtase, e então a noite trazia de volta o que há de melhor: a quietude.

Como alguém consegue expor suas intimidades de forma tão destemida? Sei que a finura das paredes denuncia qualquer selvageria, mas parecia que não se importavam. Continuavam a se entregar, em alto e bom som, como se quisessem que todos ouvissem e sentissem inveja. E, de fato, funcionou.

Imaginações e delírios sexuais flutuavam na minha mente, tornando impossível encontrar o sono. Como poderia descansar agora, com tantos pensamentos ao meu redor?

Minhas mãos, como se tivessem vida própria, começaram a explorar meu corpo. Meus seios, já fora da camisa, sentiam o toque do ar gelado, e a excitação os tornava ainda mais sensíveis. Minhas mãos desceram pela barriga, passando pela virilha, até que finalmente chegaram à minha vagina.

— Por que estou tão molhada? — pensei, enquanto continuava a me tocar, intrigada com a intensidade do meu desejo.

Meus dedos deslizaram para dentro, e fechei os olhos, permitindo que a imaginação tomasse conta de mim. Visualizei cenários que despertavam cada vez mais a minha libido, cenas de paixão e entrega total. O calor do meu corpo contrastava com a frieza do ambiente, criando uma tensão deliciosa. A respiração acelerada se misturava ao som dos gemidos que agora, não vinham da vizinhança e sim do meu próprio quarto, intensificando a minha excitação. Cada toque era um convite a explorar novas sensações, e a linha entre realidade e fantasia começou a se desfocar. Eu me entreguei completamente ao momento, perdida em um mar de prazer e descobertas.

•••

Despertei com o toque insistente do telefone e imediatamente me arrependi de não tê-lo colocado no silencioso. Era Alice, me bombardeando com mensagens sobre a noite quente que teve com a morena de saltos altos. Pelo jeito, elas não se limitaram apenas a trocas de beijos. Uma pontada de inveja me atingiu, já que minha única companhia naquela madrugada foram minhas próprias mãos.

Arrastei meu corpo para a sala, onde as vozes que antes eram apenas gemidos de prazer agora se tornavam diálogos nítidos.

— Quando vamos nos ver de novo? — perguntou de forma manhosa, sua voz carregada de expectativa.

— Miranda, não confunda as coisas. Isso não anula nada do que já aconteceu. — respondeu a outra, com um tom ríspido.

— Bem que poderia anular. Podemos seguir em frente. — insistiu Miranda.

— O elevador está à sua espera, você deveria ir — a voz soou séria e misteriosa, e logo ouvi a batida da porta se fechando.

Uma onda de vergonha me invadiu ao perceber que nosso primeiro contato foi um julgamento sobre minha intromissão e que estou novamente me entretendo com a vida de alguém que não conheço. Fiquei ali, parada, refletindo sobre a fragilidade das relações e como um simples toque de telefone poderia abrir portas para conversas inesperadas. A atmosfera da sala estava carregada, e eu me perguntei como seria se, em vez de ouvir sobre as aventuras de Alice ou de minha vizinha, eu estivesse vivendo as minhas próprias. A noite anterior ainda ecoava em minha mente, uma mistura de solidão e desejo que parecia se intensificar a cada instante.

O miado prolongado que vinha atrás de mim me trouxe de volta à realidade, lembrando-me que não havia alimentado a Sushi quando cheguei ontem. Ela devia estar furiosa comigo. Com pressa, servi a pequena gatinha e pedi desculpas pelo descuido, mas isso não pareceu fazer diferença. Ela se alimentou rapidamente e, em seguida, se afastou com seu jeito elegante, como se estivesse me ignorando.

Observei-a ir embora, seu rebolado gracioso me fazendo sorrir, mesmo em meio à culpa. Era engraçado como uma criatura tão pequena podia expressar tanta personalidade. Enquanto ela se afastava, pensei em como a conexão entre nós era única, mesmo que às vezes eu falhasse em cuidar dela como merecia. A vida seguia, e eu precisava lembrar de dar atenção não apenas a mim, mas também àquela que dependia de mim.

O fim melancólico de domingo começou a se aproximar. Já havia conversado com Alice, assistido a um filme e devorado algumas guloseimas. Sushi estava acomodada em cima de mim, e percebi que ela me oferecia a chance de implorar pelo seu perdão, mostrando que sou apenas uma humana diante da grandiosidade dela como gatinha.

— Somos só nós duas — pensei, acariciando seu pescoço e sendo recompensada com um ronronado suave.

No entanto, a música que começou a tocar ao fundo me lembrou que não estávamos tão sozinhas assim. Havia uma nova companhia em nossas vidas, alguém um tanto quanto misteriosa. A melodia parecia envolver o ambiente, trazendo uma sensação de expectativa e curiosidade.

Enquanto acariciava Sushi, minha mente vagava sobre quem poderia ser essa nova presença. Seria alguém que traria alegria ou complicações? O mistério pairava no ar, e eu não podia deixar de me sentir intrigada. O domingo, que começava a se despedir, prometia um novo capítulo, e eu estava ansiosa para descobrir o que viria a seguir.

Não consegui resistir à vontade de cantar, pois era uma das minhas músicas favoritas. A melodia me envolveu de tal forma que as palavras saíram espontaneamente dos meus lábios. Cada nota parecia ressoar dentro de mim, despertando emoções que estavam adormecidas. Lembrei-me de momentos especiais que vivi enquanto ouvia essa canção, e isso me fez sentir ainda mais conectado à música. Era como se o mundo ao meu redor desaparecesse, e eu estivesse imersa em uma experiência única e mágica.

Uma memória rasgou meu peito como uma faca afiada.

Lá estava ela, no auge dos seus 17 anos, se arrumando para encontrar os amigos. Seu quarto era um verdadeiro caos, do chão ao teto, com roupas, sapatos e maquiagens espalhados por toda parte. Daiana nunca foi a mais organizada, e isso sempre a tornava única.

Apoiei-me na porta e observei como ela se perdia em meio à própria bagunça, buscando a combinação perfeita para a noite.

— Dakota, que bom que você apareceu! — seu sorriso iluminava o ambiente, competindo com as bochechas rosadas. — Me ajuda com a roupa?

Assenti e adentrei aquele turbilhão de itens. Nesse momento, nossa mãe, Victoria, entrou apavorada, tentando desviar das roupas enquanto buscava um lugar para se sentar. Sua tentativa foi em vão, já que eu me encontrava em uma pilha de vestidos e cabides.

De longe, observávamos Daiana se arrumando no banheiro, e seu canto reverberava por toda a casa, cantando a mesma música que passava pelas paredes ao lado. Ela tinha um gosto impecável, era simplesmente perfeita. Minha mãe também a admirava com carinho e orgulho, compartilhando aquele momento especial.

Era incrível como a vida podia nos proporcionar experiências tão vibrantes, e, ao mesmo tempo, como a ausência poderia nos roubar partes essenciais do que somos. A lembrança de Daiana, cheia de vida e sonhos, me fazia perceber o quanto a dor da perda era profunda. O eco de suas risadas ainda ressoava em minha mente, lembrando-me de que, mesmo na ausência, ela continuava a viver em nossas memórias.

•••

O DESEJO DE DAKOTAOnde histórias criam vida. Descubra agora