Capítulo 10 - Clara

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POV Dakota

A reclamação com a vizinha, embora um pouco conflituosa, acabou surtindo efeito; a música que ela tocava diminuiu consideravelmente. Parece que, de alguma forma, ela possui uma mínima consciência sobre o incômodo que estava causando. No entanto, o que mais me incomodou foi a audácia dela em comentar sobre o que eu estava vestindo. Afinal, a única que parece viver uma vida noturna intensa é ela, todos os outros moradores do prédio ainda estão em seus pijamas, tentando encontrar um pouco de paz para dormir.

Depois de lidar com essa situação, voltei para a cama, onde minha gata Sushi permanecia na mesma posição desde que saí. Ela parecia tão confortável que me fez sentir um pouco de inveja. Tentei me forçar a relaxar e a dormir, sabendo que amanhã seria um dia longo na faculdade. Já consigo imaginar a exaustão que me aguardava, especialmente se não conseguir descansar bem esta noite. O cansaço acumulado das últimas semanas pesa sobre meus ombros, e a ideia de encarar a jornada acadêmica me deixa ainda mais cansada. Espero que, ao menos, o dia traga algumas surpresas boas para aliviar essa tensão.

•••

- Vamos logo! Miguel está nos esperando lá embaixo! - diz Alice, segurando a porta do elevador com impaciência.

Alice Lewis é uma amiga incrível em todos os sentidos. Ela estuda publicidade com Miguel e Liv, e mesmo que nossas grades sejam completamente diferentes, sempre dá um jeito de fazermos algo juntas, seja numa carona ou em um café rápido entre as aulas.

Enquanto isso, me atrapalho tentando trancar a porta, guardar o telefone e evitar que minha bolsa, cheia de coisas que não consigo desapegar, caia no chão. E, para completar, preciso fazer tudo isso rápido antes que minha pequena gata, que está solta, decida escapar e me atrase ainda mais.

Minha distração aumenta quando a porta ao lado da minha se abre, capturando minha atenção e, aparentemente, a de Alice também. Ela me lança um olhar de empatia e se aproxima.

- Precisa de ajuda? - pergunta, observando a confusão em que me encontro.

- Não, obrigada. - respondo de forma seca, lembrando dos comentários que fez anteriormente.

Ela não diz nada, mas se aproxima ainda mais e segura a bolsa pesada que estava prestes a cair. Isso me dá a chance de colocar a chave na fechadura e trancar a porta.

Assim que me ajeito, tomo minha bolsa de volta.

- Obrigada. - murmuro, um pouco mais amena.

- De nada. - diz ela, virando-se em direção ao elevador.

- Vamos? - pergunta Alice, dando espaço para que a morena entre no elevador. Com um sorriso malicioso, ela entra logo atrás de mim.

- Vocês se conhecem? - questiona Alice, com um toque de curiosidade na voz.

- Não. - respondo, tentando evitar mais conversa.

- Bom, eu ouvi as intimidades da sua amiga e ela já tentou entrar na minha casa. Acho que podemos dizer que nos conhecemos um pouco, Dakota. - Mesmo atrás de mim, sinto o sorriso dela, e isso me irrita.

Os olhos de Alice quase saltam de surpresa com o comentário maldoso.

- Não é nada disso, Alice. Essa mulher é um pouco exagerada.

- Dakota, você precisa me explicar! - ela diz, quase em desespero. Alice não suporta fofocas pela metade.

A porta do elevador se abre, me salvando da tensão que pairava no ar. Eu e Alice saímos no térreo e, antes que as portas se fechem, ela fala novamente.

- Aliás, meu nome é Clara Castellani. - diz ela, e o elevador desce para o subsolo.

Pela primeira vez, seu nome invadiu meus ouvidos. Clara.

Sinto um frio na barriga ao perceber que, de alguma forma, essa interação poderia se tornar mais complicada do que eu imaginava. Alice me lança um olhar curioso, e percebo que estou prestes a ser arrastada para um jogo de perguntas e respostas. O dia estava apenas começando, e já sinto que a confusão está prestes a se intensificar. Espero que Miguel esteja preparado para um longo trajeto de questionamentos, porque eu definitivamente não estou.

Acelero o passo, e consigo ouvir as pisadas apressadas de minha amiga atrás de mim.

- Dakota, me explica como aquela gostosa sabe seu nome e O QUE SÃO AS INTIMIDADES QUE ELA OUVIU? - Sua animação e curiosidade eram um turbilhão de informações para as 09:00 da manhã. - E VOCÊ REALMENTE QUERIA ENTRAR NA CASA DELA? - continuou, os olhos brilhando de expectativa.

- Pelo amor de Deus, não grita! - implorei, enquanto me jogava no banco do carro de Miguel, tentando recuperar o fôlego.

- Bom dia? - disse Miguel, claramente sem entender o motivo da agitação de Alice.

- Miguel, toca pro inferno. - falei e ele riu enquanto dava partida no carro mas Alice continuava a falar sem parar.

A ausência de Liv seria um motivo para o questionamento de nossa amiga, mas o foco principal era eu. Tive que explicar agora também a Miguel, que logo se interessou pela curiosidade de Alice sobre os comentários da vizinha.

- Olha, não é nada demais - comecei, tentando desviar a atenção. - A gente só teve uma conversa rápida e um pouco conflituosa.

- Ah, claro, só uma conversa - Miguel respondeu com um sorriso maroto, suas sobrancelhas arqueadas em dúvida. - E essas "intimidades" que ela ouviu? Isso parece mais do que só uma conversa.

Alice, sem perder tempo, interveio: - Você tem que contar tudo! Não pode deixar a gente na curiosidade assim. O que mais ela disse?

Eu suspirei, sabendo que quanto mais tentasse me esquivar, mais perguntas surgiriam. O clima no carro estava tenso, e eu precisava encontrar uma maneira de acalmar a situação antes que virasse um verdadeiro interrogatório.

- Ok, ok! - falei, levantando as mãos em rendição. - Vou contar, mas só se vocês prometerem que não vão ficar enchendo o saco depois.

O percurso se prolongou consideravelmente, e o interesse deles por Clara despertou ainda mais minha curiosidade sobre ela. E a cada momento, seu nome ficava mais marcante em meus pensamentos.

•••

O DESEJO DE DAKOTAOnde histórias criam vida. Descubra agora