Capítulo 12 - Café e chuva

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- Cheguei a te procurar em Seattle. Soube pelos seus pais sobre sua vinda para Washington - disse Vitor, dando um leve gole em seu café preto.

- Bom, meu crescimento não estava mais lá. Precisava de uma tela em branco - respondi.

- Como está sua vida aqui? Encontrou alguém? - perguntou, direcionando os olhos para a grande janela que mostrava a movimentada rua ao nosso lado.

- Vitor, olha... - antes que eu pudesse responder, ele me cortou.

- Dakota, eu sinto muito por tudo. Eu sei que as coisas não terminaram da melhor forma entre nós, e eu... eu só queria que você soubesse que estou aqui para o que precisar.

- Obrigada, Vitor. É bom e estranho saber que você ainda se importa. - disse, sentindo uma mistura de nostalgia e dor.

- Às vezes, a vida nos leva por caminhos inesperados, não é? - ele comentou, olhando pensativo para a rua.

- Sim, e cada escolha traz suas consequências. - respondi, refletindo sobre o passado e as decisões que nos trouxeram até aqui.

- Eu sei, se eu tivesse agido diferente, talvez tivesse tido uma chance - disse ele, a voz carregada de arrependimento.

- Você sabe que não seria assim, não é? - respondi, tentando suavizar a dor no olhar dele.

- É, eu sei - ele olhou para baixo, a tristeza evidente em seu rosto.

Houve um silêncio entre nós, um espaço onde as memórias pairavam como sombras. O aroma do café preenchia o ambiente, mas a sensação era de um peso que não conseguíamos dissipar.

- Dakota, eu só queria que as coisas tivessem sido diferentes - ele finalmente disse, quebrando o silêncio.

- Às vezes, o que importa é o que aprendemos com o passado - respondi, tentando encontrar um ponto de esperança. - Eu também gostaria que as coisas fossem diferentes, mas a vida nos ensina a seguir em frente.

Ele assentiu, ainda perdido em seus pensamentos.

- Você tem razão. Eu só... sinto falta da nossa amizade.

- Eu também sinto. - sorri, lembrando dos momentos bons que vivemos juntos. - Mas temos que aceitar que estamos em caminhos diferentes agora.

- Sim, e quem sabe o que o futuro reserva? - ele disse, com um leve brilho de esperança nos olhos.

- Exatamente. Podemos nos reconectar como amigos, se você quiser. - sugeri, sentindo que ainda havia espaço para um novo começo.

- Eu adoraria isso - respondeu, um sorriso tímido começando a surgir em seu rosto.

Enquanto a conversa fluía, percebi que, apesar das dores do passado, havia a possibilidade de construir algo novo. Talvez eu me arrependa de perdoá-lo, mas preciso me dar o direito da dúvida.

Trocamos os números de telefone para possíveis contatos e, em seguida, me despedi de Vitor. Precisava voltar para o campus e aliviar um pouco o peso da nossa conversa, concentrando-me nas aulas.

•••

Já era tarde, o sol se punha e os corredores vazios anunciavam o fim de um longo dia de estudos. Finalmente, peguei meu telefone e vi mensagens de Alice.

- Oi! Fomos liberados mais cedo, e você?

- Eu e Miguel vamos ao pub. Se você sair, nos encontre para irmos embora juntos.

Notei duas ligações perdidas e, ao checar, vi a mensagem de Miguel:

- Estamos indo, se cuida!

Respirei fundo ao pensar que teria que esperar o ônibus para voltar. Olhei pela janela e percebi que a noite começava a cair. Isso serve de lição para a Dakota do futuro: nunca deixe o telefone no silencioso! Afinal, caronas não podem ser perdidas.

Decidi que, ao invés de me lamentar, aproveitaria a espera para revisar algumas anotações.

O caminho para casa foi longo. Uma chuva forte começou a cair e enfrentamos um engarrafamento enorme. Os trovões estrondavam e as buzinas dos motoristas impacientes ecoavam pelas ruas. Quando me aproximei da minha parada, preparei-me para correr o mais rápido possível e tentar entrar no prédio sem me molhar completamente.

A porta se abriu e, sem pensar duas vezes, agarrei minha mochila e corri o mais rápido que consegui. A água gelada escorria pelas minhas costas, e ao olhar para baixo, percebi que meu velho All Star já estava completamente encharcado.

Quando voltei a olhar para frente, meu corpo colidiu com alguém que estava parado à minha frente. O impacto me fez cair de costas, indo direto para o chão, enquanto a chuva continuava a cair ao meu redor. A surpresa misturou-se com a dor da queda.

- Que dia! - pensei comigo mesma.

O guarda-chuva foi colocado de lado, revelando a pessoa que havia levado o empurrão.

Era Clara, a vizinha.

- Porra, que susto! Você está machucada? - Seus olhos aparentavam preocupação, enquanto suas mãos se estendiam em direção às minhas, ajudando-me a levantar.

Ainda atordoada, balancei a cabeça em negação e recolhi algumas coisas que conseguia notar no chão.

- Vamos, deixa eu te ajudar. - Ela apoiou as mãos em minhas costas e nos cobriu com seu guarda-chuva, mas isso não mudou muito, pois eu já tremia de frio devido ao banho que levei com a queda. - Me dá sua bolsa, teremos que subir as escadas, o prédio está sem luz. - disse ela.

- Caramba, hoje definitivamente não é meu dia. - comentei, lembrando das situações que aconteceram até agora.

- O universo não te odeia, é só um dia chuvoso. Não seja tão negativa. - ela respondeu, com um tom de deboche que me fez revirar os olhos.

A cada lance de escada, a dor nas minhas costas aumentava. Quando finalmente avistei nosso andar, agradeci mentalmente.

- Você tem certeza de que está se sentindo bem? - perguntou, enquanto me devolvia a bolsa.

- Sim, muito obrigada pela ajuda e desculpa por ter te empurrado. - respondi, com os lábios trêmulos de frio.

Ela ficou em pé, me observando enquanto eu procurava minhas chaves, e a situação começou a ficar um pouco constrangedora.

Depois de alguns minutos revirando meus bolsos e minha bolsa, percebi que talvez tivesse deixado as chaves caírem na rua com o impacto.

Suspirei fundo e encostei a testa na porta.

- Perdi a droga da chave. - disse, irritada.

- Tudo bem, talvez não seja seu dia. - Debochou.

- É, parece que sim.

- Olha, você pode ficar no meu apartamento enquanto resolve isso. Estamos sem luz, e você não deveria ficar com essas roupas molhadas assim, vai acabar adoecendo.

O convite me pegou de surpresa. Afinal, não a conhecia tão bem para ir ao seu apartamento. Uma onda de desconfiança me atravessou, mas, considerando o estado em que eu estava, não podia recusar a ajuda.

- Você tem certeza? Não quero incomodar.

- Eu insisto. Além disso, posso te oferecer uma toalha quente e um chá.  - Disse já abrindo sua porta para que eu pudesse entrar.

A perspectiva de um pouco de conforto me fez hesitar por um instante, mas acabei concordando.

- Tudo bem, então. Obrigada novamente. - Apenas concordei e adentrei ao apartamento. Tenho que dizer que essa foi a última situação que imaginei que aconteceria, mas é a melhor para o momento em que me encontro.

•••

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⏰ Última atualização: Oct 13 ⏰

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