POV Clara.
Minha chegada a Washington foi, sem dúvida, inusitada. Não tive tempo para despedidas ou explicações, como se o destino tivesse decidido que eu precisava partir sem olhar para trás. Já fazem dois anos que me mudei para cá e, desde então, tenho trocado de casas como se estivesse buscando um propósito que parece sempre escapar das minhas mãos.
Meus amigos, Edgar e Emily, foram fundamentais nessa decisão, mesmo quando eu não sabia o que queria. Precisava de um novo começo, uma chance de esquecer os últimos acontecimentos e, principalmente, de me perdoar pelos erros cometidos. A ideia de recomeçar era assustadora, mas ao mesmo tempo, parecia a única opção viável.
Minha mente frequentemente me transporta para aquela noite fatídica. O eco da voz de Edgar ainda ressoa em meus ouvidos.
- Clara, o que você fez? - ele perguntou, passando os dedos pelos cabelos, seu olhar desesperado se encontrando com o meu, que refletia a mesma angústia.
Essa pergunta me persegue todos os dias: O que eu fiz? Ou melhor, o que eu poderia ter feito diferente? A culpa é um peso que carrego, e mesmo em meio a novas experiências, ela se faz presente, como uma sombra constante.
Georgetown, número 77. Aqui é onde tento recomeçar pela milésima vez no ano. Este lugar, com suas ruas arborizadas e cafés charmosos, me oferece um vislumbre de esperança. Sinto que preciso de um espaço onde eu possa ver novos rostos, novas personalidades, e talvez encontrar um pouco de paz.
Nos primeiros dias, tudo era um turbilhão. Conheci pessoas interessantes, cada uma com suas histórias e desafios. Havia algo revigorante em ouvir suas narrativas, como se, ao compartilhar suas vivências, eu pudesse também deixar um pouco da minha dor para trás.
Emily sempre dizia que a vida é composta por escolhas, e que, embora possamos tomar decisões, não podemos escapar das consequências que elas trazem. Eu decidi fugir, acreditando que essa seria a solução para meus problemas. No entanto, sei que essa escolha pode ter um preço alto.
Às vezes, me pego olhando pela janela, observando a vida passar, sinto uma mistura de saudade e esperança. A saudade do que deixei para trás e a esperança de que, um dia, eu consiga olhar para o futuro sem o peso do passado.
Enquanto isso, sigo desempacotando minhas coisas, na esperança de que, à medida que o ambiente se organize, minha mente também encontre um pouco de clareza.
•••
Decidi sair por um momento do apartamento para descartar algumas coisas que já não me serviam mais. Ao retornar, me deparei com uma cena inesperada: uma mulher estava praticamente se convidando a entrar na minha casa. Seus cabelos longos e bagunçados davam a impressão de que ela acabara de acordar, e pelo horário, acredito que realmente fosse isso. Embora não parecesse ser uma pessoa ameaçadora, a ideia de ter alguém observando minhas coisas me deixou bastante desconfortável.
Não posso deixar de afirmar que ela possuía uma beleza impressionante. Era ao mesmo tempo natural e delicada, mas também intensa. Seria perfeita se não fosse tão intrometida.
Fiquei parada, encarando-a, esperando que notasse minha presença. E assim aconteceu. Assim que nossos olhares se cruzaram, pude ver seu rosto se tornar vermelho de constrangimento. No mesmo instante, a porta do elevador se abriu, e a jovem mulher praticamente fugiu da situação embaraçosa em que se meteu.
A situação me deixou inquieta. Entendo a curiosidade natural de querer saber o que se passa na vida dos outros, mas caramba, ela não fez nenhum esforço para disfarçar. Entrei em casa e fechei a porta, desejando evitar mais experiências como essa.
A sensação de estar sendo observada me incomoda profundamente; é como se alguém estivesse desnudando partes de mim que ainda não estou pronta para compartilhar.
Decido que preciso me proteger não apenas do mundo exterior, mas também das minhas próprias inseguranças. O que mais essa cidade pode me trazer? Novas amizades, sim, mas também novas vulnerabilidades. A ideia de me abrir para desconhecidos me assusta, e a interação com a mulher me fez perceber que, mesmo em um lugar novo, as velhas inseguranças podem ressurgir.
Com um suspiro, volto a me concentrar nas minhas coisas. Cada objeto desempacotado é uma tentativa de criar um espaço, onde eu possa finalmente me sentir em casa. E, quem sabe, um dia, também me sentir livre para deixar as portas abertas, sem medo do que os outros possam pensar sobre mim.
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O DESEJO DE DAKOTA
RomansAs noites sempre foram silenciosas, envoltas em uma calma que quase parecia mágica. Mas tudo se transformou quando ela se mudou para o apartamento ao lado. As paredes finas do prédio não eram apenas um obstáculo físico; elas transformaram-se em um v...