Ao acordar, o peso do corpo dela sobre o meu não me deixava esquecer o erro que cometemos na noite anterior. O tédio e o tesão se transformaram em uma decisão impulsiva que me levou a me perder na língua de Miranda.
- Que droga - pensei alto, e para minha surpresa, ela não estava dormindo.
- Você podia pelo menos esperar eu sair para se arrepender - disse, levantando-se da cama e vestindo a calcinha que estava jogada no chão. - Me serve um café, pelo menos?
Suspirei, carregando o peso do arrependimento por ter cedido à tentação. Fui até a cozinha, onde preparei um café preto, tentando afastar os pensamentos confusos que martelavam na minha mente. Servi as duas xícaras e, ao me sentar no sofá, percebi que ela se acomodou ao meu lado, seu olhar pesado e penetrante me fazendo sentir ainda mais desconfortável.
- Quando vou te ver novamente? - perguntou, dando um gole no café, como se isso pudesse suavizar a situação.
- Não sei se quero que siga assim. É meio tóxico - respondi, mantendo o olhar fixo à frente. - Sabe, cobranças demais.
- Acho que você é a pessoa certa para mim - ela falou, com uma sinceridade que me pegou de surpresa.
- Ai, Miranda. A gente só transa e fica se questionando sobre tudo. Você não pode estar falando sério - rebati, já cansada das tentativas dela de transformar a situação em algo mais significativo.
- Tá bom - disse, revirando os olhos e se levantando. - Me leva até a porta?
Coloquei a xícara em cima da mesa de centro e vesti a camisa que encontrei jogada no chão. Caminhamos em silêncio até a saída, o clima ficou pesado, como todas as vezes que ficamos juntas.
- Quando vamos nos ver de novo? - insistiu, mais uma vez.
- Miranda, não confunda as coisas. Isso não anula nada do que já aconteceu - tentei explicar, mas parecia que não ouvia minhas palavras.
- Bem que poderia anular. Podemos seguir em frente - disse, esperançosa, como se estivesse buscando uma saída mágica.
- O elevador está à sua espera, você deveria ir - respondi firme.
Ela assentiu em silêncio, e a expressão em seu rosto misturava desilusão e determinação. Antes de fechar a porta, vi-a dar um último olhar para mim, e naquele instante, percebi que ela não se importava.
•••
Por um grande milagre, Laura e Vicente passaram o dia em reuniões, o que me poupou do constrangimento de ter que contar sobre a visita inesperada de sua prima. Aproveitei a oportunidade para colocar meus fones de ouvido, mergulhando na música enquanto trabalhava. O tempo passou mais rápido assim, e logo me despedi dos irmãos, seguindo para o prédio.
Enquanto caminhava, notei que algumas cafeterias já estavam fechando as portas, enquanto os bares começavam a agitar as ruas com risadas e conversas animadas. Por um momento, considerei me sentar em um desses lugares e tomar algo, mas a ideia de deixar as bagunças do apartamento para depois me fez desistir. Precisava de um fim para os restos da mudança.
Ao chegar em casa, rapidamente comecei a arrumar as caixas que ainda restavam. Não quis dar espaço para a preguiça me dominar e fazer com que aquelas caixas ficassem mais dias ali. Coloquei minha playlist favorita e deixei que as músicas invadissem meus pensamentos, como se cada melodia tivesse o poder de evocar sentimentos profundos.
Enquanto organizava tudo, a energia da música me motivava, e finalmente consegui finalizar a arrumação. Satisfeita com o resultado, decidi preparar algo para comer. Estava tão distraída com a música que não percebi o tempo passar, até ser interrompida pelo irritante toque da campainha. O som cortou meu momento de tranquilidade, e uma onda de indignação me invadiu. Quem poderia ser a essa hora?
Ao abrir a porta, dei de cara com a vizinha que estava de olho no meu apartamento.
- Oi, eu sou sua vizinha e... bom, preciso que você diminua um pouco o barulho. Está tarde e eu... - falava um pouco nervosa.
- Como você se chama? - perguntei curiosa, precisava de um nome para aquele rosto.
- Dakota - respondeu, um pouco ríspida.
Assimilei e rapidamente percebi que, além de intrometida, dividíamos paredes e que ela era a dona dos gemidos que ecoaram na madrugada anterior.
- Dakota, é um pouco hipócrita da sua parte, já que na última noite pude ouvir gemidos vindo do seu apartamento - respondi, observando seu rosto ficar vermelho.
- Olha, eu não sabia que você estava ouvindo isso - ela disse, mas tinha certeza de que não era a única a ter escutado.
- E eu não sabia que você era tão barulhenta, Dakota - retruquei, debochando.
- Que tal a gente estabelecer um horário? - sugeriu, tentando parecer conciliadora.
- Isso poderia funcionar, mas eu não sou fã de acordos. Além disso, como posso confiar em alguém que quase entrou no meu apartamento? - falei, relembrando o que aconteceu.
- Eu não fiz isso! - protestou, seu rosto incrédulo dava um toque cômico à situação.
- Mas acho que você gostaria, já que está aqui na minha porta e com uma roupa um tanto quanto transparente - respondi, sem conseguir desviar o olhar.
Seus mamilos marcavam na camisa e suas pernas expostas me deixaram um pouco nervosa. Ela virou as costas, mas não consegui desviar o olhar daquela mulher. Seu short curto acentuava ainda mais suas curvas, e a tensão no ar era palpável.
- Acho que eu poderia ouvir aqueles gemidos de novo. - falei comigo mesma e ri do meu pensamento que foi cortado com a forte batida de sua porta.
Também retornei aos meus afazeres mas não pude deixar de pensar o quanto ela era incrivelmente atraente. Seus cabelos escuros e ondulados, desta vez mais arrumados do que quando a vi pela primeira vez, chamaram minha atenção de imediato. Os olhos castanhos, profundos e expressivos, pareciam brilhar com uma luz própria, enquanto suas bochechas avermelhadas adicionavam um toque de vivacidade ao seu rosto.
Além disso, não consigo ignorar a forma como seu corpo se destacava. A camisa larga deixava um ar de mistério sobre sua silhueta, mas, mesmo assim, seus seios fartos se revelavam, provocando uma curiosidade irresistível.
Foi inevitável me perder em pensamentos sobre ela. Talvez, afinal, não tenha sido uma escolha tão ruim me mudar para cá. A vida aqui pode ser promissora.
•••
VOCÊ ESTÁ LENDO
O DESEJO DE DAKOTA
RomansaAs noites sempre foram silenciosas, envoltas em uma calma que quase parecia mágica. Mas tudo se transformou quando ela se mudou para o apartamento ao lado. As paredes finas do prédio não eram apenas um obstáculo físico; elas transformaram-se em um v...