2 - Noite chuvosa

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𝟯𝟭 𝗱𝗲 𝗮𝗴𝗼𝘀𝘁𝗼 — 𝟮𝟬:𝟰𝟬.

Moa me trouxe à casa dela. Talvez não devesse me preocupar, ela parece mais dócil que antes.
Ela me mostrou o quarto que eu ficaria e foi para o seu próprio, aproveito o tempo sozinha para tomar um banho quentinho pra tirar o odor de suor de meu corpo.

Ao terminar o banho, coloco um roupão e vou até o quarto de Moa, um pouco receosa, mas disfarçando muito bem. Ao chegar ao quarto dela, percebo que a porta está aberta, paro frente à porta e arregalo os olhos ao ver Moa somente de lingerie vermelha, os cabelos molhados soltos nas costas e mexendo no celular como quem não liga para nada.

— Moa, preciso de roupas... — digo olhando para outro canto, somente para tentar me sentir menos constrangida. Ela se levanta indo para o closet, suspiro pesadamente mexendo em meus próprios cabelos enquanto espero ela voltar.

— Tome, e sobre as íntimas, se ficarem apertadas, me avise. — ela me entrega as roupas e volta para a cama, assinto e vou para o meu quarto, me visto rapidamente sem conseguir tirar aquela imagem de minha mente.

De qualquer forma, ainda sou fã e admiro ela, mas nunca imaginei que a veria seminua em minha frente. Não foi uma visão ruim, apenas constrangedora.

Vejo Moa – agora vestida – passando no corredor e vou atrás dela, a seguindo em direção à cozinha. Ela me olha de cima à baixo com a sobrancelha arqueada.

— Até que o pijama não ficou tão ruim, Yumi. — diz entediada e vai mexer na geladeira. — Está com fome? Estou pensando em cozinhar alguns legumes e macarrão. Gosta? — direciona seu olhar a mim que apenas assinto, sem tirar os olhos do interior da geladeira. Moa olha também, entendendo o que tanto olho. — De sobremesa, lhe dou uma fatia, ok? — diz se referindo ao bolo dentro da geladeira.

Observo-a pegar alguns legumes como batatas, cenoura, pimentão e alho, os levando à pia para lavá-los.
Me sento em um banquinho ao lado do balcão e me mantenho em silêncio para não atrapalhar o momento calmo.

— Quando eu era criança, ficava observando a mamãe cozinhar. Ela se sentia orgulhosa sobre minha curiosidade... — Moa diz em tom baixo enquanto cortava os legumes com agilidade, a faca deslizando firmemente pela tábua de corte. — Sabe cozinhar?

— Apenas o básico. — respondo simples, não gosto de me aprofundar nesse tipo de assunto. Ela parece ter percebido, pois se manteve em silêncio.

Está tarde e chove bastante lá fora. Moa se trancou em seu quarto me dando paz, ainda bem.

Mas não nego que a quero por perto, mesmo que ela me assuste.

De repente, um trovão alto ecoa e as luzes se apagam. Ouço um grito fino e passos rápidos se aproximando do meu quarto, quando ligo a lanterna, tenho apenas a visão de Moa pulando em minha cama com o rosto molhado por lágrimas e tremendo muito.

A olho com a testa franzida, a garota grudada em mim soluçava e chorava bastante.
Seus lábios tremiam assim como o resto de seu corpo, hesitante, levo minha mão aos cabelos de Moa, fazendo-lhe um cafuné na tentativa de acalmá-la. Ela abraça meu corpo encostando a cabeça em minha cintura, a respiração normalizava aos poucos, me deixando menos apreensiva.

— Moa? — a chamo baixo, fazendo seu olhar se direcionar à mim. — Está melhor? — Moa assente, limpando o rosto com a mão. Apenas assinto, achando melhor me manter em silêncio.

— Obrigada...por me deixar ficar. — ela sussurra ainda abraçada ao meu corpo. Seu rosto inchado pelo choro a fazia parecer uma criança frágil, diferente da garota que encontrei quando acordei. — Eu pensei que você me empurraria para fora...

— Não sou uma pessoa ruim, Moa. E você precisava de companhia. — tiro alguns fios da franja de seus olhos, fazendo-a me olhar com um pequeno sorriso.

Mesmo sob todas as circunstâncias, Moa continua sendo bela. Seu olhar fazia meu corpo gelar e me paralisava instantaneamente.
Talvez seja o nervosismo por estar próxima à minha ídolo, ou medo. Quem sabe? Realizei meu sonho, mesmo que, para isso, precisei ser sequestrada.

Assim que a luz volta, Moa se levanta, faz um coque bem mixuruca com seus longos cabelos castanhos – o que não permaneceria, pois seus cabelos são bem lisos – me olha fazendo-me enrijecer o corpo, sentindo novamente aquele calafrio.

Talvez seja mesmo o medo. E Moa percebeu isso.

— Ora, não tenha medo, Yumi. Ainda sou a mesma Moa que interage com os fãs com um sorriso caloroso no rosto. — diz revirando seus olhos, como se fosse óbvio. E realmente era! — Apenas não estou forçando um sorriso estúpido. — cerra os olhos para mim, que engulo seco. — Mude o rostinho, huh? — assim, ela só sai me deixando sozinha. Solto a respiração que nem percebi que estava segurando e volto meu olhar para a janela.

𝘘𝘶𝘢𝘯𝘥𝘰 𝘤𝘰𝘮𝘦𝘤𝘦𝘪 𝘢 𝘮𝘦 𝘢𝘧𝘦𝘵𝘢𝘳 𝘵𝘢𝘯𝘵𝘰?

E, pensando nessa questão, me deixo adormecer.

𝗠𝗼𝗮 𝗻𝗮𝗿𝗿𝗮𝗻𝗱𝗼.

Ok, talvez eu tenha sido um pouco inconveniente por ter buscado a companhia de Yumi, mas o que eu podia fazer? Só de ouvir os trovões, meu cérebro me faz reviver aquelas cenas, sentir tudo novamente.

O sangue, os espasmos dela, a saliva espumada em sua boca...

𝘖𝘬, 𝘔𝘰𝘢. 𝘌́ 𝘱𝘢𝘴𝘴𝘢𝘥𝘰! 𝘌𝘴𝘲𝘶𝘦𝘤̧𝘢 𝘪𝘴𝘴𝘰 𝘥𝘦 𝘶𝘮𝘢 𝘷𝘦𝘻.

Não sei se serei capaz de esquecer, mas Yumi nunca saberá disso, e eu vou garantir.

No dia seguinte, preparo um bom café da manhã para Yumi. Panquecas e um bom chocolate quente pois, pela tempestade de ontem, o dia amanheceu frio.
Enquanto corto frutas para colocar junto das panquecas, ouço passos se aproximando da cozinha. Olho para trás e vejo Yumi ainda de pijama e coçando os olhos. Sua expressão sonolenta a deixa fofa, o que me causa um pequeno sorriso.

𝘖 𝘲𝘶𝘦 𝘦́ 𝘪𝘴𝘴𝘰, 𝘔𝘰𝘢? 𝘋𝘦𝘪𝘹𝘦 𝘥𝘦 𝘴𝘦𝘳 𝘪𝘯𝘤𝘰𝘯𝘷𝘦𝘯𝘪𝘦𝘯𝘵𝘦!

— Bom dia, Moa. — sussurra com a voz um pouco rouca. Apenas a olho, murmurando um "dia, Yumi" e ela se senta no balcão. — Como passou a noite? Percebi que choveu mais um pouco. — diz e, em seguida, boceja. Suspiro e resolvo respondê-la.

— Tomei remédios para dormir, não vi que a chuva continuou. — digo simplista, não me aprofundando no assunto. A percebo hesitante, talvez querendo perguntar sobre os remédios. — Os remédios são somente para momentos de tempestade. Para que eu não me assuste com os trovões. — a vejo assentindo com a cabeça e termino de cortar as frutas.

Olhando em seu rosto, deixo o prato com as panquecas e frutas na mesa e vou pegar o chocolate quente.

— Fiz para você, mas não se acostume, ouviu? — murmura um "uhum" e suspira enquanto come os morangos, dou o chocolate quente à ela que agradece.

— Não vai comer? — nego fazendo-a franzir a testa. — Por que? Não pode ficar sem se alimentar, Moa. — ignoro sua fala, ela se levanta sem tirar os olhos de mim. — Se você não comer, eu não como!

— Fique com fome! Ou pensa que vou me sentir culpada por você passar o dia com o estômago vazio?! Faça o que quiser, eu não me importo! — a garota arregala os olhos, provavelmente, não esperando essa reação que tive. — O que foi? pensou mesmo que seria diferente? Apenas fiz isso para você como um agradecimento por ontem! — faço um coque com meu próprio cabelo. — Vou para o meu quarto, não me chame! — subo a deixando sozinha na cozinha, se ela vai comer ou não, pouco me importa.

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𝗣𝗥𝗢́𝗫𝗜𝗠𝗢 𝗖𝗔𝗣𝗜́𝗧𝗨𝗟𝗢.

Tarja preta - MOAMETALOnde histórias criam vida. Descubra agora