Eu tinha apenas sete anos quando a minha vida começou a desmoronar. Os problemas surgiram cedo, e as memórias que guardo desse tempo são um mosaico de momentos sombrios, daqueles que a gente preferiria apagar. Hoje, ao refletir sobre o passado, vejo com clareza o quanto as escolhas dos nossos pais moldam a nossa infância, personalidade e juventude.
Tudo poderia ter sido diferente se Claire, minha mãe, não tivesse se apaixonado pelo homem mais rico da cidade. Um homem que já tinha uma família e cujas escolhas deixaram cicatrizes em todos nós.
Fui arrancada desses pensamentos quando o som estridente do sinal ecoou pela sala, e todos se levantaram apressados. Enquanto guardava meus materiais, pronta para correr até o ponto de ônibus, o professor chamou pelo meu nome.
— Zaya Bennert, posso falar com você um minuto?
— Claro.
— Você ainda está interessada no intercâmbio, certo? — Assenti, ansiosa. — Bom, você sabe que há maneiras de aumentar significativamente suas chances de ser escolhida, certo? Como já tem as melhores notas, o que precisamos é garantir uma recomendação do colégio. — Ele fez uma pausa, medindo as palavras. — E para isso, gostaria de propor um acordo. Somos um colégio premiado, Zaya, e precisamos manter esse legado. Mas, infelizmente, nem todos os alunos conseguem atingir o potencial que desejamos. — Ele fez uma nova pausa, enquanto eu o encarava, confusa. — Então, quero que você ajude esses alunos a melhorar suas notas. Se você conseguir, a recomendação será sua. Para ser clara, sua vaga estará garantida.
Fiquei sem palavras, meus olhos arregalados de surpresa.
— O que acha, Zaya?
— Isso é impossível, Sr. Fischer. Esses alunos só pensam em futebol e em garotas.
— Você sabe o quão difícil é conseguir uma recomendação deste colégio, não sabe? — Assenti novamente, engolindo em seco. — Então, Zaya, o desafio que estou propondo é proporcional ao que você ganhará. Se o intercâmbio for realmente importante para você, tenho certeza de que conseguirá.
Eu continuava sem palavras, atônita.
— Avise-me quando decidir. — E com isso, ele se virou e foi embora.
Suspirei fundo e olhei para o relógio. O ônibus já havia partido. Corri para o estacionamento, ainda com um fio de esperança, mas ele se dissipou rapidamente. Eu estava sozinha e sem transporte.
Liguei para minha mãe, mas só caía na caixa postal. Respirei fundo, tentando manter a calma e pensar em uma solução. Sem dinheiro para um táxi, com apenas 34 reais na conta, olhei ao redor e vi que o carro de Simon ainda estava lá. Decidi procurá-lo pelo colégio.
Simon Fox é filho do meu padrasto. Conheço-o desde os sete anos, e, no início, éramos amigos como qualquer outra criança. Mas, por algum motivo que desconheço, passamos a nos odiar.
— Preciso que me leve para casa. — Fui direta, interrompendo o seu "amasso" com uma garota.
— Vá de ônibus. — Respondeu, sem sequer olhar para mim.
— Se não tivesse perdido, não estaria aqui vendo isso. — Comentei, referindo-me aos dois, que estavam agarrados e com as bocas sujas de batom.
— Não sou responsável por você. Se vire, garota.
Eu o encarei, incrédula. Como ele podia ser tão insensível?
No fundo, eu era a tola por pensar que ele poderia me ajudar. Simon sempre foi o garoto popular, rodeado de amigos. Para ser assim, ele deve ter algo de bom e gentil dentro de si, mas essas qualidades, se existem, eu nunca vi.
As garotas se arrastam aos pés dele, mesmo ele não dando valor a nenhuma delas. Tudo bem, ele é bonito, isso é de família, mas nada justifica o quanto essas meninas se humilham.
Por fim, olhei novamente aquela cena deprimente e me virei para ir embora. Mas antes, passei na coordenação e denunciei o casal se agarrando perto do banheiro, mencionando que aquilo me deixou constrangida e que medidas precisavam ser tomadas. Apelei para a imagem do colégio, sabendo que isso resultaria em uma punição severa para ele.
Ele merecia. Não apenas por me negar uma carona, mas por todas as humilhações que já me fez passar e por toda a insegurança que plantou em mim.
Já tentei inúmeras vezes ser amiga dele, me aproximar, mas ele sempre me afastava. E isso me fazia questionar: o que falta em mim?
Hoje, esse sentimento deveria ser irrelevante. Crescemos, cada um segue sua vida. Ou pelo menos, era o que eu pensava antes de entregá-lo. Essa atitude só prova que ainda guardo ressentimentos, e me odeio por isso.
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O meu meio- irmão
Roman d'amourZaya Bennert nunca imaginou que as escolhas de sua mãe a colocariam em uma situação tão complexa e emocionalmente turbulenta. Quando sua mãe decidiu se envolver com um homem já casado, Zaya foi empurrada para uma nova realidade, onde ganhou um meio...