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Às seis em ponto, um sinal agudo tocou em todos os dormitórios para anunciar que a rotina do dia havia iniciado. Mia instintivamente procurou pelo despertador ao lado da cama para desligá-lo, e só percebeu que não havia um quando o sinal cessou. Tinha feito a mesma coisa na manhã anterior, e se perguntou quantos dias mais faria aquilo até perder o costume.

Ela sentou-se na cama e pegou seus óculos da mesa de cabeceira. Depois foi até a janela e abriu as cortinas, dando de cara com as grades enormes que lhe causavam arrepios. Ela sentia-se uma prisioneira no corredor da morte, vendo o sol nascer quadrado. O sol, no entanto, ainda não tinha aparecido, e apenas um vento gelado preencheu o quarto.

Depois de tomar banho e vestir as roupas — que não eram laranjadas nem com listras em preto e branco, mas também a faziam sentir-se como uma prisioneira, como as grades —, ela saiu do quarto e aguardou em frente à porta, como havia combinado com Kate na noite anterior.

Mia nunca tinha sido o tipo de pessoa que fazia amizades tão facilmente, mas ela sabia que teria de mudar seu jeito de ser caso não quisesse ser solitária até os dezoito anos, quando se formasse no instituto. E quando soube que havia uma estudante chegando ao mesmo tempo que ela, decidiu que não deixaria a oportunidade passar.

E agora ela estava ali, aguardando para tomar café da manhã junto com sua nova amiga, com quem tinha tanto em comum. Ela sorriu sabendo que agora tinha uma companhia de quem gostava tanto.

Não demorou para que Kate também saísse de seu quarto. Elas sorriram ao se ver e desceram as escadas até o refeitório.

— Como foi sua primeira noite? — Mia perguntou para quebrar o silêncio. Não gostava do constrangimento que sentia ao caminhar com uma pessoa sem que ninguém dissesse nada.

— Eu dormi bem, por incrível que pareça. Estava tão cansada que apaguei.

— Sorte sua. Eu tive insônia e passei o dia caindo de sono, ontem.

— É difícil se acostumar com um novo quarto, mesmo. Ainda mais um todo branco daquele jeito. Eu até sonhei com borboletas brancas de tanto que vi essa cor.

— Pois vá se acostumando. Tudo aqui é branco — depois de descer todas as escadas, elas chegaram ao refeitório e conseguiram encontrar uma mesa vazia, onde se sentaram. — Tudo mesmo. Me surpreende que eles não nos obriguem a pintar o cabelo e as unhas de branco.

— Deve ter um motivo para tudo que acontece aqui, a gente só não sabe — Kate sugeriu com indiferença.

— Eu acho que o motivo é eles quererem nos controlar por completo. Eu já ouvi dizer que passar muito tempo em um quarto branco faz você ficar maluco.

— Isso é exagero — Kate tentou ser racional. — Ninguém aqui parece maluco.

— Não que a gente saiba.

As garotas pararam de conversar quando um grupo de meninas parou em pé ao redor delas. A mais alta, uma garota de pele tão branca quanto suas roupas e o cabelo do tom louro mais claro que Mia e Kate já tinham visto, posicionou-se na ponta da mesa, entre as duas que estavam sentadas, e apoiou suas mãos fazendo um barulho ao bater no metal.

— Essa mesa é nossa — disse ela. Sua voz era fina, mas ela falava com uma autoridade gélida capaz de amedrontar qualquer um. — Como vocês são novas, não vou fazer nada. Mas vocês precisam sair.

Kate não pensou duas vezes e já estava preparada para se levantar, mas Mia não se importou com o que tinha ouvido. Com deboche, ela olhou ao redor pela mesa, abaixo dela e no banco onde estava sentada. Em seguida, virou-se para a garota loira e disse:

— Não achei nenhum nome escrito aqui, tem certeza que é sua mesmo?

As meninas que acompanhavam a loira cochicharam entre si, mas pararam imediatamente quando sua líder fez um sinal de silêncio com a mão.

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