16

17 4 23
                                    

Mia abriu os olhos assim que foi colocada sobre a maca da enfermaria, deitada sobre o colchão gelado que provocava arrepios ao tocar sua pele. Sua visão estava um pouco embaçada e ela precisou piscar algumas vezes até conseguir focar o ambiente ao seu redor e enxergar onde estava.

Ela sentia muita dor em sua boca, nos dois dentes frontais, e conseguia sentir também o sangue escorrendo deles. Instintivamente, ela tocou no local e acabou intensificando a dor, observando com horror o sangue em suas mãos enquanto a enfermeira intervia para que ela não fizesse aquilo novamente.

— Não toque, por favor — a moça alertou. Ela tinha uma voz suave e acolhedora, bem como um profissional da saúde deveria ter. — Consegue se sentar?

Mia fez que sim com a cabeça e esforçou-se para se levantar e ficar sentada de frente para a enfermeira, que vestia máscara e luvas, o que deixava a garota mais assustada do que antes.

— Vamos resolver isso num instante, mas vai doer um pouquinho — ela avisou antes de tocar com os dedos nos dentes de Mia.

Quando a garota caiu com o rosto sobre a pedra, um de seus dentes foi quase completamente quebrado, enquanto o outro partiu-se no meio. A superfície afiada da pedra também cortou seu lábio superior, que era o que mais sangrava. Naquele ponto, Mia já estava praticamente encharcada de sangue do queixo para baixo, e sua camiseta de uniforme parecia ser naturalmente vermelha ao invés de branco na área perto da gola.

Com a delicadeza de um anjo, a enfermeira tocou os ferimentos de Mia e aos poucos ela parou de sangrar. O corte no lábio cicatrizou rapidamente e a parte perdida de seus dentes cresceram outra vez, preenchendo as lacunas que tinham se formado ali.

Assim que terminou o serviço, a enfermeira se afastou e descartou suas luvas e a máscara. Mia tocou os lábios outra vez e surpreendeu-se ao constatar que estava perfeitamente saudável novamente. Ela ainda sentia uma pontada de dor, que foi se esvaindo até sumir completamente.

— Você sempre sonhou em ser médica ou só entrou nessa carreira depois que descobriu o poder? — ela questionou, genuinamente interessada no dom da médica.

— Eu tinha dúvidas sobre o que queria ser quando crescesse até que o poder surgiu e me trouxe a resposta — a moça respondeu com um toque de desinteresse. Ela pegou uma prancheta e uma caneta, em seguida sentou-se de frente para Mia. — Preciso checar algumas coisas. Você já tinha se sentido mal usando o poder alguma vez?

— Não. Não sei por que isso aconteceu.

— Você se esforçou além do que estava aprendendo nas aulas, correto?

— Acho que sim. Eu quis voar mais alto do que estava acostumada.

A médica fez algumas pequenas anotações na prancheta e depois voltou às suas perguntas:

— Essa foi a primeira vez que você desmaiou depois de usar seu poder?

Mia respirou fundo antes de responder, um pouco frustrada. Ela já estava imaginando aonde aquela conversa iria chegar.

— Foi. Nunca tinha me esforçado além da minha capacidade, só dessa vez.

— Sendo bem sincera, Mia — a médica terminou de anotar, largou a prancheta e olhou sua paciente nos olhos. — Estou bastante preocupada. É normal sentir-se um pouco cansado pela energia que gastamos ao utilizar os poderes, mas esse seu mal estar tão severo não deveria ter acontecido.

— Eu já estou bem agora — Mia rebateu com indiferença.

— Sim, porque eu te curei. Não se esqueça de que você perdeu dois dentes.

Instituto Vortexia - SubversãoOnde histórias criam vida. Descubra agora