5 - O Três Vassouras

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"Reme o barco para terrenos mais seguros, mas você não sabe que nós somos mais fortes agora? Meu coração ainda bate e minha pele ainda sente. Meus pulmões ainda respiram, minha mente ainda teme, mas eu estou correndo com os lobos essa noite."

— Running With The Wolves - Aurora


— Mamãe...

A voz manhosa dela chamou por Arabella. A noite estava fria e a menina era coberta pela mãe com um terceiro edredom. Ela afofou ao redor da criança e sentou-se na ponta da cama. A mulher sorriu docemente para a filha e passou as mãos em seus cabelos escuros como o seu.

— Diga, minha princesa... — sussurrou.

Scarlett sorriu. Faltava lhe dois dentes inferiores, mas isso não a envergonhava, estava sempre mostrando suas janelinhas para quem quer que chegasse em casa. Ela fitava a mãe encantada, amava aqueles olhos sobre ela, a lembravam o mel que ela trazia na primavera, eram dourados e doces. Sua pequena mão pousou na face de Arabella em uma carícia tenra.

— Quando eu crescer eu vou ser uma bruxa tão bonita e poderosa como a senhora?

A mulher suspirou leve, segurou a mão da filha e a beijou antes de tornar a ajeitar as cobertas sobre ela.

— Um dia você será muito mais bonita e poderosa que eu, Sky. — Sua destra foi para o topo da cabeça da criança, afagando seus cabelos. — Um dia... Agora você precisa descansar.

— Mas, mamãe... eu não estou com... — Sua boca se abriu em um longo bocejo. — Sono...

— Bruxas poderosas precisam descansar, meu amor.

Scarlett suspirou.

— Mamãe... e se eu não for uma bruxa? — sussurrou, como se tivesse medo de falar aquilo em voz alta para que os monstros debaixo de sua cama não ouvissem.

— De onde você tirou isso, minha filha?

— Ouvi a vovó Alhena falando com o papai...

Os olhos verdes de Scarlett se encheram de lágrimas, mas fazia força para não chorar. Ela parecia a mãe fisicamente, mas a postura muito mais lembrava Arthur, bem como o verde de seus olhos. Arabella suspirou e deitou-se ao lado da filha, aninhando-a em seus braços quentes e afetuosos. Alhena, sua mãe, não sabia de nada e a caça pela pureza de sangue dos Black era um martírio para Arabella.

— Já disse para você não ficar ouvindo as conversas dos adultos, Sky... — A menina fungou e não disse nada. — Você tem sete anos, ainda tem tempo... Ominis não manifestou magia também.

— Manifestou sim. Ele fez a bola que o Septimos ia jogar nele parar no ar e voltar para o Septimos. Dottie disse que Snitch viu tudo e contou para ela. — Scarlett fungou mais uma vez, o nariz se entupindo pelo choro que ela se esforçava tanto para segurar. — Só eu... eu...

Ela não conseguiu mais e desabou no colo da mãe em um alto e dengoso choro que soava a mais pura frustração. Ela se agarrou ao braço de Arabella, molhando a maga de seu vestido azul-celeste.

— Shh... Não chora, minha princesa.

Ela tirou sua filha das cobertas que tanto arrumou e a colocou em seu colo, como se Sky ainda fosse seu pequeno bebê, balançando-a. Desengonçada pelo peso da criança, encostou-se na cabeceira, tocou o queixo da pequena e ajeitou seus cabelos para que pudesse olhar melhor em seus chorosos olhos.

— Quero que você escute com muita atenção o que eu vou te falar agora, hum? Você será uma bruxa muito, muito poderosa, Scarlett. Eu sei que vai. Não importam o que digam ou quem diga... você vai correr com os lobos...

Escarlate | Sebastian SallowOnde histórias criam vida. Descubra agora