16 - Não pensei que teríamos isso em comum.

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"Estou em seus braços, no campo, e não há nada que você possa fazer ou dizer porque eu não posso evitar, eu te amo. Eu não quero, mas eu te amo."

— i love you - Billie Eilish


O que acordou Scarlett naquele primeiro dia de fim de semana foi a ansiedade. Despertou assim que o céu se tornou claro e a luz incidiu pelos vitrais abaulados do teto. Nem mesmo Imelda estava acordada, o que era um milagre. Mesmo que Sky tentasse ficar na cama mais um pouco, estava inquieta, rolando de um lado para o outro. O relógio parecia preguiçoso demais e seu coração estava agitado com a ideia de que veria Sebastian em pouco tempo. Decidiu levantar-se e correu para o banheiro para um bom banho, onde se perfumou, ajeitou seus cabelos em uma longa trança lateral e vestiu a melhor roupa que encontrou.

Não sabia como iriam para Feldcroft, muito menos o que encontrariam no caminho, então vestiu uma calça preta, uma blusa branca com amarras e mangas longas e um colete púrpura. As botas eram longas, indo até os joelhos, também pretas, como seu casaco. Devolveu as pérolas de sua mãe para a orelha, como em todos os dias, e ousou passar em seus lábios uma tintura feita de rosas-vermelhas para dar um tom mais rubro a eles.

— Vai pra onde? — Imelda perguntou. Coçava os olhos, sonolenta, enquanto seus cabelos estavam emaranhados no topo da cabeça.

— Visitar a Anne com o Sebastian. — Olhou para a amiga pelo reflexo no espelho.

— Já posso te chamar de Senhora Sallow? — zombou.

— Cala a boca, Imelda! Estou apenas o fazendo companhia, parece que Anne está muito doente.

— Aham, tá! Manda um oi para ela.

Meldy se jogou na cama novamente, abraçando Senhor Bigodes para dormir mais um pouco. Sky colocou sua varinha no coldre de sua perna direita e apressou-se para sair, segurando o sorriso bobo.

Sebastian estava sentado na poltrona que dava de frente para o dormitório feminino. A perna cruzada, a mão no queixo e a atenção no Profeta Diário daquela manhã. Sky sentiu seu coração errar uma batida. Ele estava incrivelmente belo. O cabelo despretensiosamente jogado para trás, a blusa alva por baixo do colete creme e o casaco escuro, como a calça. Ele ergueu o olhar para ela e todo o corpo de Scarlett foi eletrocutado com o sorriso que pintou aquela face. Estava começando a se convencer que ele sempre fora bonito assim, ela apenas estava se recusando a ver.

Sky se aproximou com medo de cair por suas pernas bambas. Não sabia porque estava assim, mas sentia-se fraca. Um passo de cada vez. Precisava comer antes de sair, ou desmaiaria. Sebastian soltou o jornal e levantou-se. Ela pode perceber que ele não usava gravata e os dois primeiros botões de sua camisa estavam abertos, mostrando todo o seu pescoço e o início de sua clavícula. Ela engoliu seco ao lembrar-se da detenção.

O bom dia dado por eles quase foi sussurrado. Fizeram o desjejum em silêncio, trocando olhares carregados de palavras e sorrisos sem motivo. Foram até as Chamas de Flu na entrada da sala comunal, Sebastian ofereceu a mão para Sky e os dois foram engolidos pelo fogo fluorescente e cuspidos na entrada de Feldcroft logo após.

— Vem, quero te mostrar uma coisa. — disse ele.

Subiram um pequeno morro, onde tinha uma torre de madeira alta o suficiente para passarem da copa de algumas árvores por perto.

Feldcroft ficava em uma região montanhosa e litorânea. Os mares da Escócia estavam à direita, agitados e escuros pelo clima. Um paredão de pedras ficava do outro lado, cercando o pequeno vilarejo que poderia ser acessado por trilhas específicas. Não muito longe da torre tinha as ruínas de um grande castelo, complementando suas pedras cinzentas com o cinza do céu coberto de nuvens e destacando-se na folhagem amarelada de outono.

Escarlate | Sebastian SallowOnde histórias criam vida. Descubra agora