12 - Nada é o suficiente

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"Me ajude, eu me perdi de novo, mas eu me lembro de você."

— Six Feet Under - Billie Eilish


Fig não pôde seguir com Scarlett para o primeiro desafio dos Guardiões. Rackham deixou bem claro que era um desafio que apenas alguém com a habilidade deles poderia seguir. Entretanto, Sebastian já tinha estado com ela em um lugar como aquele e ambos saíram. Ela não contestou o Guardião, mesmo que sua língua coçasse. Fig se despediu e eles se encontraram de madrugada na Câmara do Mapa, como ele tinha assegurado a sua aluna.

Com a apresentação do professor Rookwood, outro Guardião, Scarlett não teve outra escolha senão esperar o momento que eles a contatariam novamente. Não foi algo que fez de bom grado, tentou alertar os Guardiões sobre Ranrok e sua manipulação de magia que era para lá de anormal. Porém, Rackham fora firme em dizer que precisaria de um tempo para conversar com Rookwood, ainda mais por ter um descendente dele evolvido nisso tudo.

Fig levou sua aluna diretamente para a Sala Comunal para que evitasse conflitos com os monitores e ela se obrigou a dormir pelo menos até o amanhecer, se jogando no sofá mesmo para não correr o risco de dormir demais.

Não foi difícil cair no sono, ela sequer percebeu quando o fez. Estava olhando para a lareira quando as chamas foram perdendo a forma e tudo ficou escuro. Escuro como o Corujal naquela noite de verão. Não havia lua no céu e ela não conseguiu acender o castiçal por ser pequena demais. Se ao menos tivesse uma varinha, faria como seu pai, mas a maldita carta ainda não tinha chegado para que eles fossem todos ao Beco Diagonal comprar sua varinha, como sua mãe disse que fariam ainda naquele verão.

— Dottie veio buscar a senhorita para o banho. Já está tarde para a senhorita estar aqui. — A elfa disse ao surgir a porta.

— Dottie, você acha que se papai tivesse me dado minha coruja, a minha carta já teria chegado? — Scarlett ignorou completamente as palavras da elfa. — Ominis recebeu a dele semana passada, já era para a minha ter chegado, não?

— Dottie não sabe, senhorita, mas Dottie espera que você consiga logo. Talvez a coruja tenha se perdido no caminho. — Os pés descalços da elfa fizeram um barulho engraçado no chão de pedra. — Vamos entrar, senhorita?

Scarlett aceitou a contragosto. Passou a mão na coruja de plumagens pretas de sua mãe e seguiu para dentro de casa em passos silenciosos, pois seu avô, Willian, não gostava de quem andava fazendo barulho. Dottie foi preparar o banho de Scarlett, como em todas as noites, mas a menina estava inquieta. Sabia que Hogwarts não era de demorar, pelo menos não deveria ser.

Quando a elfa entrou na casa de banho, Scarlett saltou da cama alta e foi atrás de sua mãe. Procurou no quarto de leitura, na biblioteca e no escritório de seu pai, mas não encontrou nenhum dos dois adultos. Viu seu avô lendo o jornal e tentou chamar sua atenção com várias caretas divertidas, esperando que ele respondesse, como sempre fazia, contudo, ele virou a página e não esboçou a menor emoção para a neta. Scarlett tinha feito algo de errado?

Suspirou e voltou a procurar sua mãe. Talvez ela já tivesse ido se deitar. Foi até o quarto deles no final do corredor do andar superior. As portas duplas estavam levemente encostadas, de modo que primeiro ela se esgueirou na fresta para ver se estavam ali antes de bater na porta.

Um vaso de plantas voou na parede ao lado, e ela puxou o ar em um susto, tapando a boca para não fazer barulho. A face de seu pai, normalmente alva, estava enrubescida pela raiva e seus cabelos cobreados estavam bagunçados.

— Arthur... — choramingou Arabella. Ela estava de joelhos no chão e chorava. Por que ela chorava?

— Não! — A voz de seu pai ergueu-se em censura, mas ainda estava baixa, como se não quisesse que ouvissem o que era conversado ali. — Isso é culpa sua, tudo culpa sua! E já sabíamos disso, essa carta apenas confirmou.

Escarlate | Sebastian SallowOnde histórias criam vida. Descubra agora