Capítulo 11

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Uma das entradas para o Vale Perdido ficava no final de um beco estreito. Hammer sempre entrava por ali, seguindo uma rota pré-determinada para garantir que não se perderia no mercado e sucumbiria à euforia avassaladora.

Em ambos os lados do beco havia prédios residenciais antigos, ocasionalmente interrompidos por algumas lojas que vendiam itens semelhantes àquele onde ele havia roubado um casaco anteriormente. No entanto, apesar de sua aparência universalmente envelhecida, essas casas ainda eram significativamente melhores do que as moradias dos habitantes da Cidade Fantasma — nem mesmo o Capitão morava em um lugar tão bem conservado quanto esses. Para suportar os ventos fortes, suas casas foram projetadas com formas peculiares, e muitas delas nem permitiam que ficassem de pé por dentro.

A pequena cabana de Ning Gu era uma das exceções, permitindo que ele ficasse de pé lá dentro. No entanto, isso veio com o preço de ser derrubado pelo vento quatro vezes, resultando na perda de muitos de seus pertences coletados. Enquanto ele conseguiu recuperar alguns itens indo de porta em porta, outros desapareceram sem deixar vestígios.

Houve até um incidente trágico em que itens que ele obteve do Rei da Terra foram recuperados por aquele comerciante astuto, forçando Ning Gu a trocá-los mais uma vez.

O beco estava vazio de pedestres, e compreensivelmente. Quando o alarme sinalizou a chegada dos Viajantes, todos recuaram para suas casas. Algumas pessoas temiam os Viajantes, enquanto outras estavam menos preocupadas. No entanto, estava claro que os Viajantes não eram bem-vindos aqui, assim como eles abrigavam uma espécie de ressentimento em relação às pessoas da Cidade Principal.

Ning Gu podia sentir os olhares os seguindo de ambos os lados enquanto passavam pelo beco, mas toda vez que ele se virava para olhar, tudo o que conseguia ver eram as cortinas balançando e as luzes repentinamente apagadas... Afinal, o medo ainda era a emoção predominante aqui.

Nós somos realmente tão assustadores? Ning Gu pensou consigo mesmo, mas então pensou sobre isso novamente — claro! Os viajantes são todos monstros, e os dois tinham acabado de roubar um casaco, até mesmo chutado um dono de loja duas vezes. Ainda estamos emanando aquela aura ameaçadora de roubo recente.

"Estamos aqui," Hammer apontou para frente, "Fique perto de mim, sem brincadeiras. Não podemos nos dar ao luxo de nos separar."

"Entendido." Ning Gu acenou em reconhecimento.

O cenário à frente era um pouco assustador. Ao contrário de outras partes da Cidade Principal com altos muros de metal, aqui eles podiam ver o Deserto de Ferro Negro com um único olhar.

E o beco à frente parecia ter sido cortado por uma força massiva que parou abruptamente. Como se houvesse uma divisão invisível ali.

De um lado, havia uma cidade com suas noites e dias, e, ao atravessá-la, eles se depararam com uma extensão infinita de muros destruídos, prédios dilapidados e colinas escarpadas e montes de terrenos baldios e acidentados, desprovidos de vida.

A entrada era dentro de um prédio meio desmoronado. Ao empurrar a porta, eles desceram para uma escada escura como breu, onde não conseguiam ver nada, e não havia som algum. Ning Gu se virou para olhar para o beco que tinham acabado de deixar para trás.

"Logo ele também vai acabar", disse Hammer, "Eles disseram que esse beco costumava ser mais longo. A entrada pela qual estamos entrando agora também costumava ser como aquele lado — uma parte do território da Cidade Principal, com pessoas morando aqui."

"Então por que ficou assim?"

"A Cidade Principal está entrando em colapso. Do jeito que eu vejo, mais cedo ou mais tarde tudo isso eventualmente se tornará parte do Deserto de Ferro Negro." Hammer olhou para a marca de tinta em sua mão, então desceu a escada.

Melting City [PT-BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora