Taehyung POV
"Vamos, 'Táe'. Você vai se apaixonar pela MPB e pela Bossa Nova. O que você tem a perder?!"
Foram essas frases de Paulo que me encorajaram a subir naquele avião com meu saxofone e a esperança de que aquela presepada fosse verdade. Mas ele estava certo... O que tinha para dar de errado?!
Nova Iorque estava no auge do seu outono quando nos conhecemos numa noite de Jazz, num clube em Harlem. Naquela noite eu estava deslumbrado com a banda que se apresentava. Meus olhos brilhavam, meu corpo estava em êxtase e eu só sentia felicidade com os sons que atravessavam meus tímpanos. Eu larguei tudo do outro lado do mundo para viver o sonho de fazer música no lugar onde meu estilo musical favorito nasceu. E no meio daquele deslumbre, sua figura chamou minha atenção ao tentar se comunicar comigo. Tempos depois descobri que suas primeiras palavras ao me ver foram "Carne nova no pedaço" ao me ver boquiaberto no meio daquele transe.
Fizemos amizade de cara, porque os dois arranhamos no inglês e o que falávamos não dava 1% de uma frase dos nativos da terra do tio Sam. E aos poucos nos entendemos, porque afinal, estávamos ali pelo mesmo combustível: o amor pela música. E eu ganhei na loteria, porque a partir daquele momento, soube que uma dupla nasceu.
Paulo era destemido, seu bigode grosso e olhos castanhos tão escuros como a noite, sua pele chocolate e seus fios milimetricamente penteados eram só algumas das características que construíam o meu amigo.
Amigo. É, aquele babaca se tornou meu melhor amigo do dia para a noite, quando dei por mim já ria de suas piadas. Estudávamos muito juntos. Paulo saiu do Rio de Janeiro e estava em Nova Iorque estudando Jazz. E eu, larguei meu futuro de fazendeiro em Daegu para me arriscar no saxofone.
Nossas noites em Nova Iorque eram um misto de estudo intenso e noites sem fim de jam sessions em clubes pequenos, onde encontrávamos outros músicos com o mesmo fervor que tínhamos pela música. A cidade nunca dormia e nós também não. Estávamos sempre com os ouvidos atentos a cada nova melodia, a cada novo ritmo que nos inspirava.
Certa noite, após uma longa sessão de prática no pequeno apartamento que dividíamos, Paulo me olhou com um brilho no olho.
- Você já ouviu falar em Tom Jobim? - Perguntou Paulo, seu rosto iluminado pela luz fraca da lâmpada de mesa.
- Um pouco. - Eu respondi, meio envergonhado. - Ouvi uma ou duas músicas, mas não entendi muito bem as letras.
- Ah, meu amigo, você não sabe o que está perdendo. Jobim é um gênio. Ele, junto com Vinícius de Moraes e João Gilberto, criou um som que é a cara do Brasil. É algo que você precisa sentir para entender.
- Sentir? Como assim? - Perguntei, curioso.
- É difícil de explicar. A música brasileira tem uma alma diferente. Não é só o ritmo ou a melodia, é a emoção que cada nota carrega. É a tristeza e a alegria, tudo junto. Você precisa ir para o Brasil para realmente entender.
A ideia de ir para o Brasil parecia loucura no começo. Eu estava apenas começando a me adaptar a Nova Iorque, e agora Paulo estava sugerindo que eu deixasse tudo para trás novamente. Mas a maneira como ele falava sobre a música brasileira me intrigava.
- Vamos, "Táê". Você vai se apaixonar pela MPB e pela Bossa Nova. O que você tem a perder?! - Paulo insistia, a paixão evidente em sua voz.
Comecei a considerar seriamente a ideia. Minhas noites eram preenchidas por sonhos da vibrante noite carioca, com apresentações e a magia que só o Rio de Janeiro podia oferecer. Paulo continuava me contando histórias sobre o Brasil, sobre as rodas de samba em Santa Teresa, os ensaios de escola de samba na Sapucaí, e os pequenos bares onde a música fluía até o amanhecer.
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só tinha de ser com você • kim taehyung
Hayran Kurgu[CONCLUÍDA] Década de 80. Quando colocou seu estojo de saxofone na mala e rumou para um novo destino, ele imaginava seguir um plano: estudar jazz em Nova Iorque, conhecer músicos e ser feliz fazendo o que gosta. Tudo mudou quando, através de uma ami...