Des(conhecidos)

31 11 1
                                    


- Eu tomei um tiro? Meu Deus, eu tomei um tiro...

A voz assustada de Build soava como um murmúrio levado pelo vento até os ouvidos de Vegas, que começara a acordar de seu cochilo fraco. Build estava sentado de costas para ele, mas ele ainda conseguia ver o que Build tinha nas mãos; era a faixa que estava enrolada em seu braço até mais cedo. Sua atenção também foi voltada para o travesseiro sujo de sangue.

- Por que retirou a faixa? E onde você pensa que está indo, garoto bêbado?

As palavras saíram da boca de Vegas como num jato e isso assustou o garoto, que levantou depressa, mas encostou-se rapidamente na parede; sua visão escureceu e Vegas também se levantou para segura-lo. Build mantinha seus olhos fechados para tentar amenizar a tontura que estava sentindo e Vegas o fez sentar novamente.

- Por que levantou tão rápido, huh?! Mesmo que você queira, não vai poder sair daqui desse jeito

- Quem é você? - Perguntou Build assustado.

- Eu quem pergunto quem é você. Você me beijou. Aposto que estava fugindo do Jake, não era? Que nome mais...

- Como?! Eu beijei você?! E como sabe sobre o Jake?

- É, baixinho, você me beijou! E eu sei sobre o 'Jake' porque eu olhei seu celular. Também mandei uma mensagem para sua amiga, Malai, acertei? Eu disse que você estava bem.

- Isso não faz o menor sentido. Você me deu um tiro?! E você olhou meu celular?!

Vegas estreitou as sobrancelhas ao ouvir tais absurdos e levantou da cama, negando com a cabeça. Build se forçava a lembrar do que fizera, mas quando os flashes de memória surgiam em sua mente ele não conseguia decifrar nada, apenas que havia feito algo durante à noite. Ele estava sentado na cama, vidrado enquanto encarava o chão. Vegas estava em seu pequeno closet procurando algo que servisse bem em Build e também procurava o kit de primeiros socorros.

- Eu não atirei em você, e eu não invadi sua privacidade. Seu celular estava desbloqueado, então...

As roupas escolhidas foram dadas a Build e também uma toalha seca e macia para que ele tomasse um bom banho quente. Lavar seu ferimento antes de recolocar uma faixa era essencial, então ele só pegou as coisas da mão de Vegas e levantou da cama enquanto o mesmo começava a retirar o forro e o travesseiro sujo.

- O banheiro é ao lado do closet. Tome um banho antes que queira tirar suas dúvidas sobre mim, e assim eu também posso fazer um novo curativo no seu braço.

Mesmo sem entender o que estava acontecendo, Build entrou para o banheiro e fez o que lhe foi dito. Ao sentir a água quente tocar seu machucado, o garoto deixou um gemido de dor escapar de sua boca e colocou sua mão sobre o ferimento. As dúvidas inundavam sua mente e faziam sua cabeça doer. Num minuto ele estava sentado no sofá de sua casa, no outro, estava num bar procurando a pessoa que o machucou, no segundo seguinte estava beijando um desconhecido e, no dia seguinte, estava acordando num chalé na Suíça.

Nada fazia sentido.

- Que bom que terminou. Como está seu braço? Dói?

- Um pouco... - Disse encolhendo os ombros.

- Você não precisa ter medo de mim, se eu quisesse fazer alguma coisa com você eu já teria feito - Disse diretamente e Build corou.

- Você não tem outras roupas? Eu não me sinto confortável vestido nessas...

As roupas eram grandes e luxuosas, até para ficar em casa num dia qualquer. Build parecia perdido dentro delas e isso o deixava desconfortável. Onde estavam suas roupas coloridas e leves? Sua essência estava dentro do seu guarda-roupa, na Tailândia.

- Não, mas se quiser podemos sair para comprar novas. Talvez seja bom, não sei quanto tempo vamos precisar ficar aqui.

- Podemos esclarecer as coisas primeiro?

Enquanto Build perguntava tudo que queria saber, Vegas fazia um curativo em seu braço. O mafioso era um tanto frio e quieto, mas seu rosto mostrava naturalidade ao falar com Build. Ele respondia pacientemente as suas inúmeras perguntas. Ele também se desculpou por beija-lo na boate.

- Então... por quanto tempo vou ter que ficar aqui?

- Eu vou te levar de volta assim que possível, mas você está seguro, não precisa se preocupar. Está com fome? - perguntou gentilmente e Build concordou.

As comidas que tinham dentro dos armários da cozinha eram todas enlatadas e era a única coisa que Vegas sabia fazer.
"Comida enlatada?! Argh..." - Pensou Build, absorto em seus pensamentos - "Passarei sabe-se lá quantos dias preso aqui e terei que comer comida enlatada todos os dias?!

- Qual o seu nome?

- Vegas
- Você tem outras comidas, P'Vegas? E se importa se eu cozinhar?
- P'Vegas? - Sorriu - Você é exigente, pequeno - Build sentiu suas bochechas arderem em chamas pelo apelido, então desviou seu olhar.

- Mas vá em frente. Não posso te obrigar a ficar quieto. Sinta-se em casa durante esse período. Vou pedir que lhe comprem roupas novas, no caso de não sentir-se confortável com essas.

- Não precisa se incomodar com isso! Eu não vejo problema em continuar com elas. Elas só são um pouco...

- Grandes demais? Apenas troque se desejar. Você pode escolher no closet.

- Você tem cara de ser mal - Disse rapidamente.

- Porque talvez eu seja

- Não parece ser comigo.

- Eu posso garantir que não vou te fazer mal como o seu ex fez. Pense em mim apenas um sênior da sua faculdade e estou te ajudando no processo de adaptação. Agora coma alguma coisa, irei procurar algo na tv, que possa matar o tempo.

Build assentiu e começou procurar alguns ingredientes nos armários. Ele teria de se familiarizar com o lugar de cada coisa e Vegas teria de ser paciente para responder suas perguntas, como por exemplo: - Onde fica o sal?! E se preparar para respostas como: - Eu pegarei para você.

A tv da sala estava ligada num filme qualquer e Vegas folheava as páginas de uma revista enquanto esperava por Build, sentado no sofá, aquecido pela lareira.
.

.

.

.

.

Continua

Um Presente Do Acaso Onde histórias criam vida. Descubra agora