Noite Nada romântica

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— Não precisava me trazer num lugar como esse, P'Jake...

Build estava sentado numa das mesas ao ar livre do enorme restaurante cinco estrelas no centro de Bangkok. Seus pés balançavam impacientemente abaixo da mesa e suas mãos suavam frias. Ele havia pensado muito sobre dar uma nova chance a Jake, talvez por realmente querer aceitá-lo de volta, ou talvez só para esquecer a pessoa que naquele exato momento estava chegando no seu apartamento, exausto depois de um dia de negócios e pensamentos barulhentos.

O restaurante era incrível e Jake pediu que preparassem tudo para pedir Build em namoro mais uma vez, mas o garoto não estava nada interessado na boa aparência do lugar e muito menos no que Jake pretendia lhe dizer. As luzes amareladas penduradas de forma delicada acima de suas cabeças deixava tudo mais "romântico", mas Build nem as notou ali.

— Build — Chamou tocando de forma fraca sua mão — Eu queria dizer que sinto muito por tudo aquilo! Você sumiu por semanas, me deixou preocupado! Desligou o celular e nem a Malai você avisou!

Mesmo que Build estivesse olhando nos olhos de Jake, sua mente não estava ali. Suas palavras eram murmúrios arrastados e embaralhados; ele não se deu o trabalho de entender. Foram longos minutos de discurso entediante sobre amá-lo e o perdoar por tê-lo feito sofrer. No final de tudo Build simplesmente concordou, sem tirar nem acrescentar nada, apenas assentiu.

Seus pensamentos estavam em Vegas, e ele teve certeza disso quando o garçom deixou em sua mesa um vinho branco, um tanto caro. Na mesma hora sua mente lembrou do vinho quente que Vegas o fez... A tarde fria, a lareira, o sofá, o abraço quente, o toque, o calor, a coberta, o filme qualquer... A mais bonita e inconsciente despedida.

Build não conseguiu beber nada, ele sequer encostou a taça em seus lábios. Ele apenas levantou depressa, derrubando assim a taça de vinho e chamando a atenção de todos para si. Ele odiava ser o centro das atenções, mas naquele momento foi impossível não ser.

— Tudo bem, Biu?! — Perguntou o mais velho, levantando também de seu assento e tentando segurar a mão de Build, mas ele se afastou e saiu do lugar com lágrimas nos olhos.

Ele sabia que aquilo era um erro e que tentar reparar só o faria piorar. De todas as coisas que Jake falou aquela noite, nenhuma foi uma explicação válida. Ele cercou, cercou e no final não disse exatamente o que tinha acontecido, mais uma vez ele estava manipulando Build. Ele não iria aprender nunca. Ele correu para fora do restaurante e para sua sorte, naquele momento tinha um táxi parado bem na frente do lugar, então ele apenas saltou para dentro e o pediu para ir embora.

Tudo estava tão confuso dentro de si, tão bagunçado. Sua mente estava tão barulhenta aquele momento, que ele só queria que ela parasse por algum tempo! Ele só queria não ter que pensar em nada. Não queria ouvir nenhum outro barulho, pois o que estava em sua mente estava deixando-o louco! Seu peito apertava por todos os lados e ele se forçou a parar de chorar, não queria ir para o hospital por causa de sua falta de ar, foi inútil tentar.

Build queria ir para algum lugar onde não tivesse que dar explicações sobre nada. Queria ir para um lugar onde o único barulho fosse o vento forte, ou a água correndo por ali, por isso pediu que o táxi parasse no parque da cidade, então ele o pagou e desceu.

Não havia muitas pessoas, e isso era bom. As vezes faz bem ficar sozinho, sem ter que dar explicações ou conversar sem ter vontade. Ele ouvia a água calma do pequeno riacho e sentia um pouco do peso sair de seus ombros e o deixar mais leve. Ele só precisava descansar e parar um pouco, dormir um pouco... sumir um pouco. Ele precisava ser um pouco mais dele, se encontrar de novo e entender seus sentimentos.

A pessoa que gerenciava o parque pareceu adivinhar que em algum lugar ali dentro havia um garotinho perdido e que necessitava ficar sozinho, pois o lugar foi fechado muito além de seu horário habitual, por isso ele voltou para casa tão tarde.

As ruas estavam desertas e escuras. Seu celular fora desligado para não receber as ligações de Jake. Seus passos eram despreocupados e curtos, suas mãos estavam aquecidas dentro dos bolsos de sua calça social e seu terno estava sobre seu ombro. Tudo o lembrava Vegas. O vinho, o tempo frio, o terno que vestia, pois lembrou de sua última saída com o mais velho, aquela que quase acabou mal.

Build estava exausto e tomou um banho quente ao chegar em casa, também trancou a porta do quarto ao entrar no mesmo. Ele não queria correr o risco de Jake aparecer de surpresa e forçar explicações, isso era bem do seu feitio.

O lençol de cama estava frio, assim como todo o quarto, então Build deitou e sentiu-se afundar em seus pensamentos. O cômodo parecia pequeno, apertado e difícil para respirar ali dentro, mas isso não durou muito. Ele adormeceu quando a chuva começará a cair lá fora e bater na porta de vidro de sua varanda.

Fora um longo dia... Pensamentos, confusões, saudade, vontade de procurar, de dizer que sentia falta. A vontade de ficar sozinho ao mesmo tempo em que queria estar acompanhado de alguém específico.

É inútil. Build estava exatamente igual a Vegas na última tarde no chalé, estava preso no estágio do sono onde não sabia se estava dormindo ou acordado. Sua mente viajava entre as memórias que eram confundidas com sonhos lúcidos e confusos. Se ele pudesse escolher onde estaria, com certeza seria no abraço de Vegas.

Ele bolava de um lado para o outro na cama, perdido em seus sonhos e pensamentos. Ele só desejava conseguir dormir completamente e não ficar perdido em memórias. Uma parte de sua mente ainda estava acordada.
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Continua

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