Capítulo 24.

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Anjos morrem.

Horas depois de longas conversas como uma simples família feliz dentro de uma sala de hospital, uma lágrima quente, solitária e envenenada descia pelo meu rosto.

Enquanto o pai de Judith gritava enfurecido tentando procurar algum consolo através de possíveis irresponsabilidades do hospital pela morte de sua filha, as nuvens cobriam aquele céu claro com ventos frescos, transformando toda a sua paisagem em algo assustador, assim como a vida de Judith tinha mudado repentinamente.

Eu não me atrevia dizer uma palavra, nada mais podia ser feito. Apenas vesti a roupa que eu tinha chegado aqui e ultrapassei os muros do hospital.

Em alguns minutos estaria em casa, mas nada mais era pior do que o que acabara de acontecer.

Eu não precisava investigar quem havia provocado aquele acidente, pois eu já sabia, não poderia ser outro alguém.

Enquanto minha roupa grossa era preenchida por pingos grosseiros de chuva, não saberia mais diferenciar a chuva de minhas lágrimas carregadas de culpa.

Todos pensam no quão foda e poderoso é ser filha de algum criminoso, certamente são pessoas que vivem em contos imaginários. Se eu pudesse encontrar alguém dessa forma, pediria para que trocássemos de lugar...

(...)

Assim que a porta da minha casa é aberta, sou recebida com um tapa de mãos pesadas no rosto.

Entro em casa, pingando, de cabeça baixa. Todos ali me vêem, mas não falam nada. Subo para o meu quarto, que estava todo revirado e entro para o banheiro.

Tiro toda aquela roupa pesada e depois de dias, tomo um banho de verdade, esperando que a água levasse de mim toda a culpa que carrego desde o dia em que nasci.

Na tempestade, solitude, o frio, o ar, a culpa.

Me questiono se vivo apenas para que um dia, quando meu pai finalmente morrer, eu assuma o seu lugar...

Quando vou viver?

Quando irão me permitir o fazer?

Essa vingança contra a Alyssa por conta do pai dela é só mais um ato infantil meu. Não quero desistir, não vou desistir de fazê-lo pagar por tudo o que fez, mas não quero pisar em Alyssa para isso, já chega de machucar pessoas inocentes.

Escuto uma batida suave na minha porta, visto meu roupão e saio daquele banheiro embaçado.

Me deparo com o meu pai, alto, vestindo preto de alma.

—O que você quer aqui? -Indago ríspida.

—Nesse mundo, Billie, vai perder muita gente ainda, principalmente no mundo em que vivemos.

—Saiba que, independente do que você faça para que um dia me coloque no seu lugar, eu NUNCA vou me render a isso, eu te juro.

—Você não têm outras opções. -Diz frio.

—O que esse seu corpo desalmado vai fazer pra me impedir? Matar todos que eu gosto? Eu me mato, e você sabe que sou capaz disso porque não seria a primeira vez que eu tentaria.

—Você só deve ter herdado essa capacidade de falar merda, da parte de sua mãe mesmo.

—Se você não tem porra nenhuma de interessante pra falar, dá o fora daqui!

—Você tá na minha mão, você tá. -O homem diz em tom sarcástico e logo se retira do meu quarto.

(...)

O dia tinha chegado, mas era tão pesado e sombrio quanto a madrugada.

Eu não iria mais para o internato, eu já devia ter sido expulsa há muito tempo, então não perderei meu tempo indo mais para aquele lugar. Esse lugar só me trouxe coisas ruins.

Eu apenas pensava em como me manteria perto de Alyssa, para que eu conseguisse acesso ao pai dela.

Sou interrompida de meus pensamentos quando o meu irmão chama pelo meu nome do outro lado da porta.

—Entra.

Escuto o ranger da porta e vejo o homem se aproximar.

—Billie... Sentimos a sua falta, eu senti a sua falta.

—Talvez tenha sido só você mesmo. -Falo e sorrio de forçadamente.

—Eu... Eu sinto muito por isso tudo, pelo o que aconteceu com a sua amiga. Eu gostaria de ter impedido.

—Ela era a minha namorada, minha namorada. -Falo firme.

—Sinto muito pela sua namorada.

—O que você veio fazer aqui?

—Por que está me tratando dessa forma tão rude? Você nunca foi assim, Billie.

—Você finge, você finge me amar, finge se importar comigo, mas foi capaz de me golpear por ordens do papai!

—Isso já faz tanto tempo, Billie! Por que está remoendo coisas que aconteceram há meses atrás!?

—Porque somente agora eu percebi quem você é.

—EU SOU O SEU IRMÃO, QUE ESTÁ FAZENDO DE TUDO PRA TE PROTEGER DO NOSSO PRÓPRIO PAI.

Olho para os seus olhos marejados, rosto quente e vermelho.

—EU faço toda essa porra pra que VOCÊ não tenha que fazer. -Diz agudo.

—Se você realmente não tem nada de interessante para me dizer, então SAÍA.

—Você recebeu uma carta do seu colégio pedindo para que compareça lá.

—Querem dizer na minha cara que fui expulsa? -Rio nasalmente.

—Já que se acha tão independente assim, vá sozinha.

—Não é como se eu tivesse te pedido para ir.

O homem escuta minhas palavras finais e se retira do meu quarto.

(...)

—Senhor Haeley? -Deixo batidas sutis em sua porta.

—Senhorita O'Connell, entre.

Entro receosa em sua sala e em passos lentos, sento-me na sua frente.

—Estou te escutando.

—Suas últimas ações tiveram consequências drásticas, senhorita Eilish. Você já deve estar ciente disso.

—Eu estou sim, Senhor Haeley, mas não me arrependo de nada.

—Oh, Billie, não deveria se arrepender mesmo. Judith era uma menina de ouro, nunca teremos nenhuma igual, é de grande respeito o que fez para ficar do lado de uma amiga que de fato precisava de você. Por isso, apesar de tudo, sua expulsão foi revogada à pedido dos pais de Judith.

—Eu... não sei o que falar quanto a isso, senhor.

—Não precisa falar nada, a vida continua, aproveite a oportunidade que ainda tem de ficar aqui no colégio. Se você quiser, pode retornar amanhã. Caso precise de mais tempo, te darei mais uma semana, sem contar suas faltas.

—Obrigada pelo apoio, senhor Haeley, estarei aqui amanhã sim.

—Não precisa agradecer por nada. Fique bem, senhorita Eilish, meus mais profundos sentimentos. -Dou um sorriso gentil quase imperceptível e me retiro de sua sala.


1026 Palavras.

Quarto K-12 - Billie Eilish Onde histórias criam vida. Descubra agora