Acidentes e novos começos

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— Filha, desce logo! Você ainda está dormindo? — gritou minha mãe, o som de sua voz arrastando-me do sono. “Bom, que o dia comece...”

— Ei, Akira, você não escutou? — Minha mãe subiu as escadas e entrou no meu quarto, puxando o cobertor e me obrigando a levantar.

— Ai, mãe, calma! Eu respondi, acho que a senhora é que não ouviu — falei, ainda com a voz embargada pelo sono.

— Hum, sei, tá bom, filha — respondeu ela, colocando meus remédios e óculos na mochila antes de praticamente me empurrar para fora de casa. — Tenta fazer amigos, tá?

— gritou, enquanto eu me afastava. Acenei afirmativamente com a cabeça.
Eu tinha esquecido de alguns detalhes. Bem, eu tenho 16 anos, sou magra e uso óculos, o que me rotula como uma nerd. Isso tem suas consequências. Faço de tudo para evitar chamar atenção, mas a solidão me acompanha como uma sombra desde que me entendo por gente. Meu pai morreu quando eu nasci, deixando um vazio que nunca consegui preencher. Minha mãe tenta ao máximo, mas algumas coisas são difíceis de consertar. A mudança para essa nova escola me deixa nervosa, mas talvez aqui eu possa encontrar algo diferente.
Enquanto caminhava pela estrada, perdida em meus pensamentos, fui surpreendida por um som alto: *Bang*.

— Ai! Você está bêbado ou o quê? — perguntei, já no chão, após ser esbarrada por um carro.

— Você está bem!? — disse um rapaz saindo do veículo. Ele era alto, musculoso, com cabelos castanhos e olhos verdes penetrantes. E, para meu espanto, vestia o mesmo uniforme que eu.

— Ei, o gato comeu a sua língua?

— Você que é o gato?

— O quê?

— Ah... eu... eu disse... nada. Eu tô bem.
Respondi, levantando-me do chão, toda vermelha e envergonhada. Tentei esconder minha vergonha e comecei a caminhar. Ele percebeu e apenas deu um pequeno sorriso.

— Ei, cerejinha, você não tá esquecendo de nada? E você não disse o seu nome — disse ele, mostrando alguns livros e outros itens que haviam caído da minha mochila.

— (...) — murmurei, apressando-me para pegar minhas coisas e saí correndo.

— Ok, cerejinha sem nome. — Ignorei e continuei andando.

Como eu dizia, sou magra e alta, com longos cabelos castanhos que mantenho presos em um rabo de cavalo. Meus olhos castanhos, ampliados pelos óculos, são um reflexo da minha vida de estudante dedicada. Tenho uma personalidade reservada, resultado de anos evitando a atenção indesejada.
Chegando à escola, fiquei impressionada com o tamanho do prédio. “Essa escola é enorme”, pensei. Talvez aqui eu possa descobrir mais sobre mim mesma e o que realmente aconteceu com meu pai. Talvez eu finalmente consiga me livrar dessa sensação de vazio e encontrar meu lugar.
Enquanto andava pelos corredores, trombei em uma garota.

— Ai, desculpa, foi sem querer — disse, enquanto tentava me recompor. Mas a garota ao lado da que eu trombei me agarrou pelo braço e disse:

— Você sabe quem somos? Não pode simplesmente esbarrar em nós e ir embora assim.

— Ai credo, ela sujou minha nova blusa da Louis Vuitton — disse a garota, incrédula.

— Por acaso você sabe o quanto vale uma blusa feita sob medida, vinda diretamente de Nova York das lojas Louis Vuitton?

— Me desculpe... — comecei a falar, mas fui interrompida.

— Provavelmente não sabe. Olha só como ela se veste — disse a outra garota, me examinando de cima a baixo. Eu, envergonhada, tentei ver se a blusa estava realmente suja, mas percebi que estava um pouco molhada porque bati meu rosto nela, deixando um pouco de baba.

— Ai, o que você tá fazendo? Me solta, que nojo! — gritou a garota.

Abri minha bolsa e tirei um pouco de dinheiro.

— O que é isso?

— Dinheiro — respondi, estendendo a mão.

— Eu sei que é dinheiro, sua burra. Para o quê?

— Para a lavanderia — respondi.

— Como ousa! Não precisamos de nenhuma esmola — disse ela, fingindo estar ofendida.
— Sim, não precisamos.

— Não precisam? Está bem, eu vou embora.

— As três me lançaram um olhar furioso antes de se afastarem. Uma delas pisou nas minhas coisas e pegou um pouco de dinheiro.

— Não vou deixar que isso arruíne o meu dia. Vamos lá, Akira, pensamento positivo.

— Você está bem? — Uma garota estranha se aproximou.

— Sim, mas minhas coisas não estão bem. — Respondi, olhando para a bagunça ao meu redor.

— Deixa que eu te ajudo. — Ela começou a recolher as minhas coisas.

— Obrigada! — disse eu, com um sorriso tímido.

— Tome cuidado. — Ela disse, olhando-me com um semblante sério.

— O quê!?

— Eu disse para tomar cuidado. Elas são umas valentonas que gostam de atormentar os outros. Então não te aproximes das “PARVS”. Ah, estou atrasada. Até mais. Nos vemos por aí.

— Ei, espera, o que quer... Oh, ela já foi.

ENTRELAÇADOS: Amor E Paixão Onde histórias criam vida. Descubra agora